Prioridade em Educação, alfabetização é pouco citada em planos de candidatos a prefeito de SP

08/11/2020 10h58


Fonte Estadão Conteúdo

Imagem: ReproduçãoItaú Cultural lança da plataforma com cursos gratuitos(Imagem:Reprodução)
Área prioritária para garantir a aprendizagem, a alfabetização é pouco abordada pelos candidatos à Prefeitura de São Paulo em seus planos de governo ou sequer mencionada nos documentos. A pandemia forçou o fechamento de escolas desde março e o ensino remoto funciona pouco para alunos mais novos. Especialistas preveem grande impacto no desenvolvimento de competências de leitura e escrita, o que demandará ainda mais foco nessa etapa.

O Estadão analisou os programas de governo enviados ao Tribunal Superior Eleitoral pelos candidatos Bruno Covas (PSDB), Guilherme Boulos (PSOL), Celso Russomanno (Republicanos) e Márcio França (PSB), os mais bem posicionados em pesquisas de intenção de voto. Faltam, de modo geral, propostas concretas de como melhorar os indicadores de alfabetização na cidade.

Com exceção de Russomanno, esses candidatos participaram de entrevistas sobre seus planos nesta área realizadas pelo Estadão, em parceria com o movimento Todos pela Educação. Foram questionados sobre como pretendem melhorar a aprendizagem de crianças paulistanas caso estejam na Prefeitura.

Como o Estadão mostrou, o Brasil ainda patina no em melhorar níveis de leitura e escrita. Resultados de prova federal divulgados esta semana indicam que 27% dos estudantes do 2º ano do ensino fundamental (7 anos) no Brasil não sabem escrever corretamente uma palavra de três sílabas e 4,6% não dominam nenhuma das habilidades de leitura e escrita. O Estado de São Paulo alcançou média de 755,99 nessa prova - não foram divulgados dados por município. A média paulista está um pouco acima da nacional, de 750, mas abaixo de todos os Estados do Sul, Minas, Distrito Federal, Goiás e do Ceará.

Atual prefeito,Covas sequer menciona em seu plano de governo a palavra “alfabetização”. Indagado sobre a ausência do termo em entrevista ao Estadão no dia 23 de outubro, ele disse que o plano passaria por atualização. Por nota nesta quinta-feira, 5, a campanha do tucano afirmou que, de fato, a palavra alfabetização não é mencionada no texto, mas está subentendida em expressões como “intensificar a promoção da educação para nossas crianças” e “garantir o futuro de crianças”. Segundo a campanha, 92% das crianças são alfabetizadas ao final do 2.º ano do fundamental na cidade. E turmas do 3º ano, que estão no final do ciclo de alfabetização, terão um estagiário, aluno de universidade, para apoiar os professores.

Também não há menção para alfabetização no plano de França. O candidato pelo PSB promete abrir as escolas municipais nos finais de semana e feriados, para recuperar aprendizagens perdidas, sem mencionar foco nas habilidades de leitura a escrita. Ao Estadão nessa quinta-feira, 5, a campanha de França afirmou que há “problemas estruturais da alfabetização na rede municipal”. E propõe a criação de Escolas do Amanhã, como forma de qualificar o ensino público “para alcançar o padrão de excelência e qualidade para aprendizagem adequadas de Português, Matemática, Ciências e demais matérias básicas”.

Já Russomanno lista em seu programa para a recuperação pedagógica, em função da pandemia, reforço escolar no contraturno, “especialmente dos alunos de alfabetização”. Ele indica ainda a intenção de fortalecer programas para “correção do fluxo escolar, redução da evasão e aprimoramento dos processos de aprendizagem mediante a implantação de um sistema de indicadores”.

Também fala em fazer avaliação diagnóstica de aprendizagem, mapear escolas com mais defasagem e contratar professores temporários. O candidato pelo partido Republicanos não participou da série de entrevistas sobre Educação realizada pelo Estadão.

Candidato pelo PSOL, Guilherme Boulos, se comprometeu em seu plano de governo a universalizar a alfabetização em São Paulo e zerar o analfabetismo funcional, mas o documento não indica meios de alcançar essas metas. Procurada pelo Estadão, a campanha de Boulos informou que essas propostas estão detalhadas em um Caderno da Educação, escrito por educadores ligados à campanha - este documento trata de alfabetização de jovens e adultos.

Na entrevista ao Estadão na semana passada, Boulos afirmou que a alfabetização será prioridade e considera que suas propostas como melhorias no ambiente escolar, valorização de professores e transporte gratuito para reduzir a evasão têm impacto nos indicadores de leitura e escrita de crianças. Em nota nesta quinta, o candidato afirmou que o direito à educação não se limita a crianças - e deve incluir jovens e adultos que não puderam se alfabetizar ou concluir o fundamental.