Amizade, esporte e festa: Equipe de rúgbi do PI encara 30 horas de viagem

18/11/2013 13h18


Fonte G1 PI

Imagem: Wenner TitoClique para ampliarA atleta Tereza preferiu tirar um cochilo enquanto esperava a chegada do ônibus.(Imagem:Wenner Tito)

O sol ainda não havia aparecido quando um grupo de estudantes se encontrava em um espaço da Universidade Federal do Piauí na última sexta-feira (15). Muita bagagem e caras de sono que tornam difícil de explicar o que fez aqueles jovens acordarem de madrugada em plena véspera de feriado. A resposta é simples: ter tempo para encarar 30 horas de viagem para jogar rúgbi.

O time do Delta/UFPI Rugby estava de malas prontas para ir a Castanhal, no Pará, onde disputaria a terceira etapa do Circuito Interestadual com outras equipes do Maranhão e do próprio Pará. A viagem com o ônibus da universidade seria longa, e por isso marcaram 4 horas da manhã como horário de partida. O ônibus atrasou e, enquanto alguns conversavam para passar o tempo, outros aproveitavam e tiravam um último cochilo pelos bancos.

Já passava das 5 horas da manhã quando o ônibus chegou e finalmente o time pôde embarcar rumo ao Pará. Algumas recomendações do capitão Carlos Marvel antes da partida e a partir daí o silêncio imperou no veículo: o sono falou mais alto. Isso até às 9 da manhã, quando chegaram em Bacabal, já no Maranhão, para o café da manhã. Mas nada de restaurantes: a refeição foi feita na casa da mãe de uma das atletas do clube, Cariáttilla Bílio, a Cacá. Para ela, abrir as portas de casa para os companheiros de time é apenas uma demonstração da relação que existe entre eles.

- A gente se considera mais que amigos, somos uma família, principalmente em tempo de competição. A gente fica ainda mais unido, porque um precisa do apoio do outro, tanto no time masculino quanto no feminino. Quando um está jogando, o outro está na beira do campo torcendo – conta a atleta.

Imagem: Wenner TitoPara animar o percurso, um pouco de música dentro do ônibus.(Imagem:Wenner Tito)Para animar o percurso, um pouco de música dentro do ônibus.

Batucada

Depois do café, hora de voltar para o ônibus e seguir viagem. Agora mais despertos e alimentados, os atletas começam a se reunir em grupos e as conversas fluem de uma ponta a outra. O silêncio já não é mais quem domina, mas sim os papos e risadas que vem de todos os lados.

Depois da pausa para o almoço em Santa Luzia do Paruá, o barulho ficou ainda maior. Agora já não eram apenas conversas, mas as batucadas que embalavam a viagem. Com direito a pandeiros e percussão, a roda improvisada puxou músicas dos mais variados estilos, do pagode à MPB, do brega à swingueira. A mais tocada é quase um ‘clássico’ do Delta, Senta na Tereza, uma brincadeira com uma das atletas do time, tudo levado na esportiva.

Imagem: Wenner TitoEm Bacabal, a mãe de Cacá abriu as portas para os atletas tomarem café da manhã.(Imagem:Wenner Tito)Em Bacabal, a mãe de Cacá abriu as portas para os atletas tomarem café da manhã.

Chegada

Já eram quase 20 horas quando o ônibus finalmente chegou à Castanhal. Depois de um dia inteiro viajando, ainda não era tempo de descansar. Após deixarem os pertences no alojamento na Universidade Federal do Pará é hora de sair e procurar algo para jantar. Como a maioria andava com o orçamento apertado, rodaram um pouco até chegar em uma lanchonete.

Enquanto comiam, acompanhavam o que passava na televisão. A programação era a paixão que unia todos ali: o rúgbi. A torcida piauiense no Pará acompanhou a derrota da seleção brasileira para Portugal. Era a hora de voltar para o alojamento.

Na UFPA, enfim, todos puderam tomar banho e descansar após o dia inteiro viajando. Mulheres de um lado, homens do outro, e esforço para encher os colchões de ar que ficaram espalhados pelas salas de aula. Antes de dormir, uma brincadeira/treino de passar a bola para gastar as energias.

Teoricamente, todos deveriam dormir cedo para poder encarar a maratona de jogos que viria no dia seguinte. Alguns até cumpriram o combinado, mas houve os que ficaram pelos corredores conversando. Ainda mais depois que chegou o time do Amaru, vindo do Maranhão, no meio da madrugada. Mais barulho pelo reencontro com os amigos feitos através do rugby, até que amanheceu e era hora de ir para o Sesi/Castanhal, onde a 3ª etapa do circuito foi realizada.

O campeonato

A competição durou o dia todo. Os jogos de Sevens são disputado em dois tempos de apenas sete minutos, por isso os jogos são realizados todos no mesmo dia. Um atraso no início do campeonato fez com que algumas partidas acontecessem no horário entre meio dia e 14h. Mesmo assim, os atletas permaneceram em campo, e os companheiros sempre ao lado campo, na torcida.

Alguns, no entanto, estavam trabalhando. Alguns dos atletas juvenis da equipe não jogaram a competição, mas fizeram parte de um treinamento/trote. Como é comum em várias modalidades, os novatos ficaram responsáveis por alguns serviços, como carregar bagagens, encher colchões e levar água.

Imagem: Wenner TitoTrabalho para os juvenis: levar a água para os atletas no intervalo do jogo.(Imagem:Wenner Tito)Trabalho para os juvenis: levar a água para os atletas no intervalo do jogo.

- É muito bom viajar com o time, é uma experiência boa. Tem as brincadeiras com os juvenis, eu não gosto muito não, mas é o jeito – conta Diogo Pereira, de apenas 14 anos, um dos juvenis.

As brincadeiras, no entanto, ficam sempre no limite do saudável, até porque o respeito é algo bem presente no rugby. Dentro de campo, apesar de terem idades parecidas, todos se tratam por 'Senhor' e 'Senhora'. Se há alguma reclamação com a arbitragem, nada de ofender a progenitora do juiz. No máximo um 'Senhor, não entendi essa marcação'.

Terceiro Tempo

Quando os jogos finalmente se encerraram, já no período da noite, ainda não era o momento de parar. Um banho rápido, troca de roupa e todos voltam para o ônibus. O destino agora é um sítio nos arredores de Castanhal, onde foi realizado o terceiro tempo, uma espécie de cerimônia de premiação e festa de confraternização que é realizada em todos os torneios.

Comida, bebida e troféus entregues. O terceiro tempo é o momento em que os amigos unidos pelo rugby, de diferentes estados, encontram-se para manter vivo o contato, conversar, se divertir. As histórias são muitas, e ajudam a aproximar até mesmo aqueles que fazem parte do mesmo time, como conta Vinícius França, que é atleta do Parnaíba Rugby, mas viajou com o Delta.

Imagem: Wenner TitoApós o dia inteiro jogando rúgbi, time aproveitou para curtir o terceiro tempo.(Imagem:Wenner Tito)Após o dia inteiro jogando rúgbi, time aproveitou para curtir o terceiro tempo.

- Isso ajuda até no entrosamento do time, porque você conhece melhor todo mundo e isso influencia no jogo, você passa a dar o sangue por aquelas pessoas. Você faz amizades, e ainda tem as festas – conta.

Fim da festa, todos se despedem e voltam para o ônibus. Ainda na madrugada, é chegada a hora de retornar para Teresina. Com o cansaço de um dia inteiro de jogos e comemorações, a viagem da volta é mais tranquila. Depois da última competição do ano, os atletas agora esperam 2014 para voltarem a se reunir para fazerem o que mais gostam: jogar rúgbi.

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