Câncer serve de 'estímulo' para mulher disputar a São Silvestre

07/10/2013 10h11


Fonte G1 PI

Entre todos os medos do ser humano, o mais forte deles talvez seja o da morte. E quando é diagnosticado um câncer no seu corpo, o mais provável é que estes medos se tornem ainda mais presentes, certo? Não, pelo menos no caso de dona Gessi-Jani Dias. A educadora licenciada descobriu um câncer de mama há cerca de quatro anos mas, contrariando os olhares piedosos que lhe lançavam, reagiu com mais gana por fazer o que gosta: ‘Eu não vou morrer, eu vou é viver’, diz ela. Desde então, perdeu peso, pratica várias atividades físicas, corre 10 Km por dia e pretende disputar a Corrida de São Silvestre no final do ano.

Imagem: Wenner TitoOs treinamentos de Gessi-Jani têm uma meta: completar a corrida de São Silvestre.(Imagem:Wenner Tito)Os treinamentos de Gessi-Jani têm uma meta: completar a corrida de São Silvestre.

A descoberta foi repentina. Gessi, como é chamada, fazia mamografias regularmente a cada 6 meses e, em 2009, após a primeira não constar nenhum problema, um segundo exame revelou o diagnóstico positivo. Sendo portadora do primeiro caso de câncer na família, ela e todos os familiares ficaram abalados.

Mas Gessi conta que sua maior aflição não era a doença em si. Ela faz questão de ressaltar que sempre teve uma vida muito ativa, envolvida com a política e com a educação de sua cidade, Marcos Parente, a 350 Km ao sul de Teresina. No pequeno munícipio, ela conta que trabalhava três turnos como diretora de uma escola, lidando diariamente com a pressão e o estresse, com pouco tempo até para dormir. Com a descoberta do câncer, bateu o medo de não concluir tudo o que queria.

- Eu ainda tinha muita coisa por fazer e queria terminar. Fui escolhida uma das melhores diretoras do estado, e tudo o que fiz sempre me destaquei. Não gosto da mesmice, gosto de inovar, e posso dizer que onde eu cheguei, eu revolucionei –afirma.

Este espírito, no entanto, esteve ameaçado. Não pela doença em si, mas pelo preconceito. Ela conta que, na sua cidade, as pessoas escondem quando descobrem que alguém tem câncer, que é tido praticamente como uma sentença de morte. Até para tirar a carteira de motorista ela teve dificuldades, pois achavam que não estava apta a dirigir. Diante deste cenário, passou a conviver com crises de ansiedade.

Um novo estilo de vida


Mas tudo mudou após um período de tratamento. Com o acompanhamento psicológico e de outros médicos, ela decidiu que era hora de mudar o estilo de vida. O desejo era latente e há muito tempo ela praticava caminhada. Com a recomendação da nutricionista para perder peso, era hora de intensificar os exercícios. Aí não houve quem parasse o desejo de Gessi de superar os seus limites.

- Uma vez a doutora se surpreendeu quando entrou no quarto em que eu estava internada e me pegou caminhando em círculos com o soro na mão – conta encenando o acontecido pela sala da casa.

A partir daí ela não parou mais. Hoje, sua rotina diária é marcada por uma série de atividades alternadas. Além da corrida, ela também faz academia, anda de bicicleta e pratica Yoga. Até a dieta passada pela nutricionista é do tipo seguido por atletas. O desejo de ser assim tão ativa não era recente, mas foi necessário um incentivo a mais para que fosse colocado em prática. Surpreendentemente, ela vê fatores positivos em ser diagnosticada com câncer.

- Eu sempre quis ter uma vida mais saudável, dizia para o meu marido que nós tínhamos que envelhecer bem. O câncer, para mim, foi uma ajuda para intensificar ainda mais esse desejo – revela.

Preconceita e uma meta: São Silvestre

Os problemas com o preconceito, no entanto, ainda persistiam e afetavam até a própria família. Após o período de quimioterapia em Teresina, ela retornou às suas funções na escola em que trabalhava, mas percebeu que o tratamento não era mais o mesmo. Fora das atividades do dia a dia, ela se sentia vista como a ‘doentinha’, como conta. Após um tempo, saiu de licença.

Quando se tratava de sua prática esportiva, a desconfiança era ainda mais forte. Gessi-Jane acredita que as pessoas não entendiam como ela podia ter câncer e se manter ativa, ainda mais praticando esportes. E ela tinha uma meta em vista: disputar a Corrida de São Silvestre. A fama na cidade não ficou boa.

- Minhas filhas me pediram para eu parar de comentar que queria correr a São Silvestre, porque o comentário na cidade é que eu estava ficando louca – lembra.

Mas a ideia já era fixa. Ela então decidiu passar por um ‘teste’ e, escondida da família, se inscreveu no GP Teresina Corrida de Rua, evento organizado pela Rede Clube que foi realizado em Teresina no feriado do trabalhador, no dia 1º de maio. Completou os 10 Km em 1h45min, deu entrevista para a rádio, foi ouvida em Marcos Parente e, quando retornou, a recepção foi enfim diferente.

- Eles ouviram minha entrevista no rádio e quando eu cheguei recebi vários cumprimentos, até o prefeito da cidade veio falar comigo. Eles admiravam a coragem de eu assumir minha condição de paciente oncológica para todo mundo – diz ela.

Gessi-Jane completou os 10 Km do GP sem grandes dificuldades, o que a incentivou ainda mais para alcançar seu objetivo maior, que é a São Silvestre. Ela não nega o desejo de conseguir um bom tempo, mas o principal é concluir a prova. O esforço investido é, não um desgaste, mas um auxílio para uma vida melhor.

- O esporte me traz muita alegria. Eu me sinto motivada a fazer as coisas com prazer – finaliza.

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