Da internet para o campo: Rúgbi se desenvolve no Piauí em sete anos

07/07/2013 13h56


Fonte G1 PI

Em novembro de 2005, um grupo de amigos se reunia nos campinhos de Teresina, capital do Piauí, para jogar futebol americano sem pretensões. A intenção era somente a diversão, fazer uma atividade física. Um deles acabou trazendo uma novidade para o grupo: um jogo parecido, mas com regras diferentes. Era o rúgbi, esporte descoberto através de vídeos na internet. Seis anos mais tarde, descoberto do mesmo modo, a modalidade começa a ganhar adeptos e a ultrapassar fronteiras.

A prática do esporte se deu de forma autodidata. “Até hoje”, diria Fagner Amaral, um dos percussores da modalidade no Piauí. Fagner e seus dois irmãos, Fábio e Fernando Amaral, decidiram comprar uma bola da modalidade e iniciar a brincadeira. Com a propaganda boca a boca, o grupo que se reunia para se divertir acabou crescendo e virando um time.

Imagem: Emanuele MadeiraPiauí Rugby durante conquista do vice-campeonato da Liga Nordeste.(Imagem:Emanuele Madeira)Piauí Rugby durante conquista do vice-campeonato da Liga Nordeste.

- A ideia era somente diversão, queríamos ser peladeiros. A única coisa que eu não queria era ver como esporte da moda, que logo as pessoas deixam de praticar. Hoje, eu fico extremamente feliz pelos rumos que tomou no estado – confessa Fagner.

Um ano depois, nascia o Teresina Rugby Clube (TRC), a primeira equipe do Piauí. Seis anos após a formação da primeira equipe, a modalidade se popularizava, ganhando adeptos e colecionando bons resultados, como o do último final de semana. No dia 29 de junho, o Piauí Rugby conquistava o vice-campeonato da Liga Nordeste.

Sem espaço

Montada através do boca a boca, o Teresina Rugby virou o tronco comum da maioria dos times formados na capital. Treinando no campo da Associação dos Docentes da Universidade Federal do Piauí (ADUFPI), o grupo enfrentou, logo de cara, seu primeiro obstáculo: a falta de local para realizar treinos.

Na época, um desentendimento com a administração da ADUFPI obrigou os meninos a procurar um novo ‘canto’. Veio a Associação Recreativa e Cultural da Agespisa (Arca), mas novos (velhos) problemas. A alternativa: encontrar outro local.

- Os meninos acabaram percebendo que, aos domingos, o campo próximo à Ponte Estaiada (na Avenida Raul Lopes) era desabitado. Mas, em uma nova mudança, os treinos passaram para o campo do bairro São João quando lá não passava ainda nem a avenida – relembrou Ireno Filho, ex-atleta do Teresina.

Do Teresina para o Piauí... Rugby!

Um grupo novo, mas composto por atletas e ex-atletas de diferentes modalidades que tinham o espírito competitivo. Assim, o Teresina Rugby decidiu se aventurar. Em 2007, a equipe disputou o Nordeste Sevens, em 2007, primeiro campeonato que contou com a presença de um clube do Piauí. No final, um resultado melhor do que o esperado: o quinto lugar no torneio, que na época era disputado por seis times.

- Era o único torneio em que competíamos. Não sabíamos da existência de outros times. Até o ano de 2008, nós treinávamos o ano todo só para o Nordeste Sevens. Era a forma de não cair na monotonia – relembra Ireno.

No ano seguinte, o time ficou em quarto lugar na competição. Os bons resultados não duraram muito tempo. Dois anos depois, o último lugar no torneio e brigas internas, que dividiram o grupo. Nascia dois novos times: o Calangos e o Corisco. Mais desempenho abaixo do esperado e mais divisões.

Em 2010, surgiu o Titãs Teresina Rugby, uma referência ao time fundado em Salvador com o nome de Titãs Rugby Clube. André Magalhães, Fontinele Júnior e Gustavo Carvalho pediram permissão para criar um time em Teresina. O nome escolhido não ‘vingou’. Surgia oficialmente o Piauí Rugby.

- A intenção era fazer com que houvesse um intercâmbio entre as duas equipes, uma forma de adquirir experiência. No início, até conseguimos algumas coisas, mas depois acabamos perdendo um pouco de contato e decidimos seguir com outro nome – disse André Magalhães.

2011 até a Liga Nordeste

Após a mudança de nome, mais um Nordeste Sevens. Comandados por Carlos Marvel, atual técnico do Delta Rugby, que havia disputado torneios do circuito nacional por outros clubes, a equipe ficou em oitavo lugar. O desempenho abaixo do esperado fez o Piauí Rugby buscar um novo estilo de jogo e apostar no rúgbi de XV.

- Até então, os jogos eram sevens, que é a modalidade olímpica. A nossa única experiência com o rúgbi de XV foi um jogo contra o Sertões Rugby, do Ceará, em 2008. Nunca tínhamos jogado, até os bandeirinhas queriam entrar – conta Ireno.

Em 2012, o Piauí participou da primeira Liga Nordeste de Rugby de XV, faturando o terceiro lugar. Para compor o time, atletas do TRC voltaram a campo para defender o Piauí. Um ano depois, em 2013, o melhor resultado da modalidade dentro do estado: chegar à final da Liga Nordeste. Na decisão, derrota para o Alecrim, mas que teve também um sabor de conquista.

'Rugby de Calcinha'

Em 2009, elas resolveram entrar em campo e disputaram, como integrantes do Teresina Rugby, o Nordeste Sevens. De cara, um segundo lugar. O bom resultado, no entanto, não foi suficiente para manter a união do time.

Um ano depois, dois clubes montados: Fênix Rugby e Allbynos Rugby. Este uma mistura entre Teresina e Fênix, que também deixara de existir.

- O nome foi uma parodia feita a equipe da Nova Zelândia, conhecida como All Blacks e também coincidiu com o apelido que demos ao carro de um dos atletas que trazia os materiais do treino – declarou Anna Joanna, ficou à frente da nova formação, em entrevistas anteriores.

Imagem: Neyla do Rêgo MonteiroEspaço delas: Delta mostra resultados na modalidade e traz experiências.(Imagem:Neyla do Rêgo Monteiro)Espaço delas: Delta mostra resultados na modalidade e traz experiências.

Mas o time passou por mais uma reformulação tanto no nome quanto na estrutura. Com receio de soar preconceituoso, foi decidido que a equipe teria de ter no seu nome um elemento que lembrasse o estado. Nascia aí o Delta Rugby. O nome não era inédito. Anos antes, um grupo do bairro Morada Nova havia criado, de forma independente, uma equipe com o nome semelhante, mas que foi desfeito dois meses depois.

O novo Delta ganhou a direção de Carlos Marvel, que trouxe na bagagem experiências acumulados no Grua (AM), Garus (PB) e o Amaru (MA). Os resultados continuaram a aparecer: primeiro lugar na etapa de estreia do Nordeste e vice na etapa de Recife.

- A Patrícia Carvalho e a Érica Vieira me chamaram para ajudar no treino e passar algumas noções porque elas queriam jogar o circuito nordestino de sevens e vencer. Elas sempre ficavam no quase e aceitei – afirma Marvel.

Na etapa em Recife, as jogadoras do Delta, classificadas para a final, se recusaram a entrar em campo para disputar o jogo. O time da casa, em desvantagem, quis mudar o regulamento da competição momentos antes da partida, fato que desagradou as piauienses que se retiraram de campo. Há pouco mais de um mês, time feminino do Delta Rugby faturou o simbólico título do ‘Pequi Nations’ atribuído a melhor equipe convidada na disputa da Copa Brasil Central.

Imagem: Josiel MartinsForça e garra: Modalidade cresce no estado e atrai cada vez mais praticantes.(Imagem:Josiel Martins)Força e garra: Modalidade cresce no estado e atrai cada vez mais praticantes.

Rugby em Parnahyba

O rúgbi também encontrou lugar em Parnaíba. No litoral do Estado, assim como em Teresina, os primeiros atletas aprenderam a modalidade através de vídeos e do futebol americano. Nas dunas da Lagoa do Portinho, Magno Aguiar e mais dez pessoas começaram a mostrar o esporte até então desconhecido naquela região.

A esposa de Magno Aguiar foi quem chamou a atenção para a modalidade. Acadêmica de Turismo, ela tinha na sala de aula José Pedro da Rosa, ex-jogador do Desterro Rugby e da Seleção Brasileira Juvenil. O convite para que ele treinasse o time foi imediato. José Pedro, no entanto, recusou. O convite para se juntou ao grupo em 2013.

- Nós o procuramos para ajudar a difundir o esporte. Ocupado com assuntos da faculdade, ele não aceitou. Em setembro de 2012, um amigo me procurou para praticarmos o rúgbi. Então, pesquisamos vídeos e regras na internet, juntamos um grupo de oito pessoas e começamos a treinar. Quando procuramos o José pela segunda vez, ele se prontificou para ajudar e hoje temos uns 25 adeptos – conta o vice treinador do time, Magno Aguiar.

Concentrados também no rúgbi de XV, o clube agora planeja ações para incentivar a modalidade a partir das escolas públicas de Parnaíba. Eles cogitam também criação de uma equipe feminina.

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Tópicos: liga nordeste, rugby, time