Ex-jogador de futebol do PI usa perna mecânica para recomeço no atletismo
17/10/2014 11h31Fonte G1 PI
Campeão brasileiro de judô, jogador das categorias de base do Flamengo-PI e do River-PI campeão regional de futsal com a equipe do CEFET, jogador de futsal da CEUT com diversos títulos de artilheiro e melhor jogador. Wesley Cecílio sempre esteve diante de desafios no esporte e, agora, ele quer mais um: completar uma prova de corrida de rua. O alento surgiu com a conclusão de uma prótese neste mês de outubro, projeto pioneiro para esta finalidade no Piauí. Correr atrás do sonho de ser vencedor na vida era algo simples, não fosse a perda de parte da perna esquerda em um acidente automobilístico.Através de uma pesquisa sobre próteses junto com o médico Paulo André da Silva Ramos, do Centro Integrado de Reabilitação (CEIR), ele mostrou qual seria a prótese indicada para que Wesley pudesse voltar a praticar as atividades esportivas. O mecanismo é a mesmo utilizado por April Holmes, atleta norte-americana, medalha de ouro nas paralimpíadas de Pequim.
Imagem: Emanuele Madeira/GloboEsporte.comWesley Cecílio explica como equipamento é utilizado.
- Eu queria voltar a correr, essa é minha meta. Fizemos a pesquisa, juntei com minha família e amigos para comprar. Meus amigos fizeram rifa, bingo e o que estava ao alcance para ajudar com os custos, desde o hospital até a compra da prótese.
Mas tudo com calma e no seu tempo. Para que ele possa começar a encarar os primeiros metros, ainda será necessário fazer um trabalho de fortalecimento da musculatura atrofiada e a adaptação da prótese.
- Vou precisar de força para me apoiar a prótese e seguir o impulso que ela faz onde é preciso ter esse controle. Se eu tivesse tempo exclusivo, em torno de um a dois meses eu estaria reabilitado, mas como não tenho esse tempo livre, acredito que em torno de três a quatro meses acredito que estaria apto com o preparo físico bom – afirma o fisioterapeuta.
Imagem: Emanuele Madeira/GloboEsporte.comWesley Cecílio: "Aprendi a superação do esporte desde pequeno".
Atleta e fisioterapeuta. Ele começou no judô aos dez anos e logo os títulos estaduais, regionais e nacionais foram brotando no currículo. Além das medalhas, os recortes de jornais são guardados com carinho. No álbum de fotos ainda estão os registros das equipes de futsal e, por mais que na memoria o momento inesquecível seja um gol bizarro que ele tenha perdido rente à trave, ainda assim as lembranças são as melhores.
Imagem: Emanuele Madeira/GloboEsporte.comWesley Cecílio usa prótese.
- Depois do acidente, eu parei mais de acompanhar porque eu sentia muito assistindo aos jogos. É pesado não poder jogar mais, mas a vida segue em frente – lamentou em poucas palavras.
Ainda assim, nas matérias onde o assunto é futsal, é fácil reconhecer os amigos dos tempos de quadra no Campeonato Piauiense.
Imagem: Emanuele MadeiraClique para ampliarSuperado o susto, Wesley começa adaptação com perna mecânica após trauma do acidente.
O acidente
Após se formar em fisioterapia, Wesley Cecílio, seu irmão e duas amigas iam para Santa Inês, no Maranhão, para inaugurarem uma clínica de fisioterapia. Próximo à cidade de Caxias, a condutora do veículo perdeu o controle do carro. Wesley estava o banco de trás do carro, sem sinto de segurança, com uma de suas amigas que foi sacada do veículo e faleceu dez dias após o acidente.
Ele conseguiu se segurar na parte de dentro, mas sua perna ficou fora do veiculo e acabou sendo esmagada. O fisioterapeuta teve de fazer os primeiros socorros em si mesmo, além da perna esmagada, ele teve um corte na cabeça.
- Assim que o carro parou não vi minha amiga ao lado, vi a condutora do carro desacordada, mas meu irmão estava consciente, ainda não tinha visto a perna. Assim que vi, meu primeiro pensamento foi que eu não iria mais poder jogar bola, entrei em desespero, mas não tinha mais o que fazer – relembra.
A intenção passou então a ser preservar o joelho para que o facilitasse a voltar a praticar outro esporte. Apesar do baque, um traço marcante da recuperação, foi a alegria, o tom poderia ser dado pelo som do Chocolate Sensual, banda composta por membros da família, dos amigos e de quem mais quisesse entrar na brincadeira. A carreira musical dos churrascos e encontros do fim de semana foi substituída pelas metas.
Alição de vida
Exemplo para familiares e amigos, desde o acidente, o fisioterapeuta vive o que viu de alguns dos seus pacientes. Sem dúvidas, recomeçar foi um desafio e aceitar novas metas segue sendo um combustível. Se no início o primeiro pensamento foi lamentar a perca de um membro, hoje ele já não faz mais tanta falta assim.
- Muita gente, eu também já tive pacientes assim, que perdeu um membro e pra eles acabou a vida, mas não é assim não. O que ocorre é que você tem uma nova fase na sua vida, ela esta começando. Hoje eu estou bem consciente do que aconteceu, mas já não sinto falta da minha perna para nada, coloco uma prótese e faço tudo – avaliou.
Imagem: Emanuele Madeira/GloboEsporte.comWesley Cecílio: conquistas, aprendizados da vida.
E se o assunto são as lições que se pode tirar de um episódio marcante nas nossas vidas. A superação de alguns percalços estava presentes na vida de Wesley Cecílio desde o início, nos primeiros desafios que o esporte lhe colocou. E pelo que provam as medalhas, títulos e troféus, ele já saiu vitorioso da maioria deles e espera dessa vez também não ser diferente.
- Eu aprendi a superação com o esporte, desde pequeno. No judô a gente começava perdendo a luta e no fim, já cansado aplicava um golpe máximo. Isso é superação. Em uma partida começar perdendo por três ou quatro a zero e virar o placar também é uma superação, porque na vida você está sempre superando alguma coisa.