Garoto suporta dor após acidente de carro, não desiste de luta e vai à final
13/09/2016 16h21Fonte Globoesporte.com
Um acidente automobilístico na véspera de uma competição podia ser uma tragédia para um garoto de 14 anos que saiu do Piauí para disputar a sua primeira competição nacional de taekwondo. Mas não foi o que aconteceu com Francisco Jeferson (49kg).Com um tanto de sorte e mais um bocado de determinação, o menino tímido enfrentou dores e lágrimas - além dos adversários no dojan, a área de combate - para conquistar a medalha de prata no Campeonato Brasileiro da modalidade, em João Pessoa, na Paraíba. O torneio foi realizado com atletas de faixas coloridas com idade entre 12 e 14 anos.
Imagem: Wenner TitoClique para ampliar
Francisco, que começou a praticar taekwondo em um projeto social no seu bairro, uma área carente de Teresina, viajou com treinador e outros atletas da equipe até a capital paraibana para disputar o Brasileiro. No sábado à noite, menos de 24 horas antes da sua competição, saiu para passear com os companheiros e, no retorno para o alojamento, pararam para ajudar um motorista que estava com o carro atolado. Enquanto tentavam empurrar, outro veículo veio desgovernado, derrapou na estrada molhada pela chuva e atingiu a traseira do que estava parado. Os demais conseguiram saltar para o lado e escapar sem grandes escoriações, mas Francisco, que estava bem no meio do caminho, foi atingido no joelho.
Os paraibanos próximos afastaram os carros, levaram o menino chorando de dor para a calçada e chamaram o socorro médico. Um corre-corre para o hospital. Na urgência, a sorte de Francisco começou a mudar. Os exames não apontaram nenhuma lesão. O susto, apesar de grande, parecia não ter arruinado a disputa na competição.
- Passei a mão na cabeça e pensei "vim lá do Piauí e não vou ganhar nenhuma medalha". Pensei muito e comecei a chorar, achando que eu não ia lutar. Depois eu pensei que eu ia lutar se não tivesse quebrado nada, mas estava sentindo muita dor. Mas aí chegamos ao hospital e disseram que eu estava "bonzinho da silva" – conta o garoto ao lembrar do episódio.
Francisco deixou o hospital caminhando. No dia seguinte, acordou sem se queixar de dores. Disse ao treinador que queria lutar e foi ao torneio. Na primeira luta, o adversário não compareceu, e ele venceu por W.O. A sorte continuava sorrindo no avanço do garoto à segunda luta. Nova vitória, vaga na final garantida, e ouro ali próximo. Mas foi aí que Francisco passou a depender menos da sorte e mais da determinação.
A luta final, como era de se esperar, foi mais difícil. Durante a troca de golpes, Francisco tomou algumas pancadas no joelho machucado e foi aí que as dores voltaram com força total. Mais chutes no joelho e, então, veio o choro e a vontade de desistir. Porém, coube ao técnico o papel de incentivador.
- Ele foi lutando bem, chegou à final e sentiu o peso. Ele quis desistir, mas puxei ele e disse: "Você falou que dava para lutar e você vai lutar, você vai conseguir". A luta estava boa, bem pareada. Ele voltou chorando, lutando e chorando, e depois da luta não conseguia mais ficar em pé – lembra o técnico Coimbra Júnior.
O ouro não veio. A luta final terminou empatada, e no ponto de ouro, a morte súbita do taekwondo, Francisco foi derrotado. A medalha de prata obtida nestas condições foi motivo mais que suficiente para que ele recebesse olhares de reconhecimento. Mestres de outras delegações o parabenizaram e lhe deram até presentes, algo como uma recompensa pelo espírito esportivo do menino.
- O taekwondo tem alguns princípios que regem a arte marcial, e um deles fala do espírito indomável, que é justamente essa persistência que a gente tem de não se entregar diante dos obstáculos. Isso foi posto em prova pra ele, que no evento foi tido como referência. É um motivo de orgulho – completou o treinador.
Imagem: Wenner Tito Professor Coimbra Júnior, faixa preta ao centro, com sua equipe que disputou o Brasileiro.
A superação na vida de Francisco vem desde muito antes dos tatames. O treinador conta que a própria história de vida dele é um exemplo, entre tantos outros, de transformação através do esporte.
- O Francisco é uma superação diária. Ele vive em uma área de risco, vive em situação complicada financeiramente e eu meio que apadrinhei ele, passa o dia quase todo na minha casa. Depois que ele começou a treinar Taekwondo, a evolução dele é perceptível até na escola. Era indisciplinado, tinha problemas com notas, e hoje não, é outra pessoa.
E o menino, tímido com as palavras, é ousado quando fala dos planos no esporte. A medalha de prata é, para ele, apenas o começo de uma história longa com o esporte, que não é um simples acidente que vai interromper.
- Não deu para ganhar o ouro, mas já valeu a pena, não imaginava que isso ia acontecer. Estou feliz, e quero treinar mais ainda para vencer os adversários que vierem pela frente.
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