Jogador, empreendedor e evangélico: a rotina de Kamar de volta a Floriano
25/03/2014 12h32Fonte G1 PI
Anderson Kamar é um dos principais jogadores do futebol piauiense da atualidade. Natural de Floriano, no sul do estado, ele saiu de casa aos 15 anos para perseguir o sonho de ser jogador de futebol e rodou o Brasil atuando por clubes de Norte ao Sul do país. No Piauí, se tornou ídolo do River-PI e agora está de volta à sua cidade natal, jogando pelo Cori-Sabbá. Em Floriano, o jogador comemora poder ficar mais perto da família e dos amigos, onde sua rotina se divide entre os treinos, lazer, projetos pessoais e frequentar os cultos da igreja evangélica da qual é obreiro e ajuda o pastor.Imagem: Wenner TitoKamar durante treino no Cori-Sabbá: proximidade com família e amigos o fizeram voltar para a cidade.
A história de Kamar no futebol começou aos 15 anos de idade, quando foi morar em Teresina para jogar nas categorias de base do Fluminense-PI. Daí ele saiu direto para o Mogi-Mirim, de São Paulo, antes de rodar o país como jogador. Do Rio Grande do Sul, onde jogou no Santa Maria, até o Amazonas, onde defendeu o Nacional-AM, passando por clubes tradicionais do Nordeste, como o ASA-AL, Kamar acumulou uma vasta experiência.
Imagem: Renan MoraisClique para ampliarKamar esteve cinco anos no River-PI, onde conquistou respeito da torcida.
Ídolo no PiauíKamar guarda em sua casa uma coleção de recortes de jornais e revistas que registraram suas passagens pelos clubes em que jogou. Mas entre todos, existe um que tem um lugar especial na memória do jogador: o River-PI. Kamar defendeu as cores do tricolor piauiense durante cinco anos, sempre como um dos principais atletas do elenco.
O reconhecimento é tão grande que, mesmo estando hoje defendendo as cores de um time que disputa o mesmo campeonato, Kamar ainda é querido pela torcida riverina. Quando o Cori-Sabbá enfrentou o tricolor na quinta rodada do Campeonato Piauiense, torcedores deram uma camisa para o atacante e para o zagueiro Jó, como forma de gratidão aos anos de serviço prestado.
- No dia, não segurei as lágrimas, chorei mesmo. É muito bom ter o carinho da torcida desse jeito. É algo que eu tenho no River-PI e tenho aqui em Floriano – conta o atacante.
A rotina em Floriano
Kamar deixou sua cidade natal muito cedo. Com talento para o futebol, investiu na carreira de jogador e foi ganhar o Brasil. Suas raízes com a princesinha do sul, no entanto, nunca foram totalmente cortadas. Ele já defendeu o Cori-Sabbá em outras oportunidades e sempre passava férias com os amigos e familiares.
Imagem: Wenner TitoClique para ampliarA mulher Tamiris foi um dos motivos da preferência por retornar a Floriano.
Esta terceira passagem, no entanto, pode ser definitiva. Kamar não descarta acertar com outros times quando encerrar o seu contrato com o Cori-Sabbá, que vai até maio, mas os fatores que o trouxeram de volta podem lhe ajudar a ficar permanentemente.
- Eu tinha propostas de outros estados, mas pesou muito o fator família. Minha esposa está fazendo universidade aqui agora, tenho meus outros parentes e fica mais fácil para eu fazer minhas coisas aqui em Floriano – conta.
Kamar se refere ao seu novo investimento. O jogador vive hoje em uma casa simples, não tem carro e não faz muitos gastos, pois o dinheiro que ganha no futebol está sendo usado para ser uma nova fonte de renda no futuro. Em um terreno comprado há alguns anos, próximo às universidades, ele pretende construir um conjunto de quitinetes para aluguel.
Imagem: Wenner TitoA planta do futuro empreendimento de Kamar está pronta: obra vai sendo feita aos poucos.
- A carreira de jogador é curta, então eu prefiro pegar o dinheiro que ganho hoje e investir no meu futuro. Essa área do meu terreno já valorizou muito nos últimos anos e ainda vai valorizar mais – diz ele.
Quando não está ocupado com os treinos ou jogos do Cori-Sabbá, é neste investimento que Kamar foca o seu tempo. Pedreiros, construtores e outros serviços são procurados diariamente pelo jogador, que vai construindo conforme vai resolvendo as pendências jurídicas e financeiras em torno do empreendimento.
Além disso, ele também se dedica aos estudos. Quando adolescente, sedento por jogar futebol, o hoje atleta não dava muita importância para a escola, algo do que ele se arrepende hoje. Uma faculdade particular de Floriano lhe concedeu uma bolsa para estudar Educação Física, mas ele precisa antes dos certificados de conclusão do Ensino Fundamental e do Ensino Médio.
- Naquela época, eu só queria saber de futebol. Minha família aqui me dava todas as condições para estudar. Quando fui jogar em Teresina, o clube também pagava a escola, mas eu só queria saber de jogar e acabei largando. Eu não tinha muita noção das coisas, mas agora eu tenho. Vou fazer supletivo para terminar o fundamental e tentar o certificado do Ensino Médio fazendo o Enem – conta.
Imagem: Wenner TitoClique para ampliarA planta do futuro empreendimento de Kamar está pronta: obra vai sendo feita aos poucos.
Tempo livre: religião e famíliaSe não está envolvido com suas ocupações como jogador e empreendedor, Kamar se revela um homem caseiro. Além de casado, ele é evangélico desde 2008, quando se converteu na Igreja Internacional da Graça de Deus. Lá ele é obreiro e ajuda o pastor nas atividades do dia a dia da congregação.
A religião está profundamente ligada à carreira de Kamar. Sua conversão aconteceu em 2008, quando ele foi fazer exames de rotina para assinar com o ASA-AL. O médico responsável identificou um problema em seu coração e disse que sua carreira estava encerrada. Desesperado, ele apelou para a fé e pediu a Deus que não lhe tirasse o futebol. Três dias depois fez novos exames, mas nada foi detectado.
Mas a promessa feita no momento de aflição não foi cumprida imediatamente. Kamar chegou a frequentar algumas reuniões que os atletas evangélicos do ASA-AL faziam, mas não chegou a se converter. Após os jogos, aproveitava as festas que aconteciam nos entornos de Arapiraca, cidade do clube.
Imagem: Wenner TitoClique para ampliarLeituras de livros evangélicos fazem parte da rotina do atleta e obreiro da igreja.
Mas, quando retornou a Floriano, teve uma surpresa. A então namorada Tamiris havia feito o que Kamar não fez, se converteu à igreja evangélica e decidiu terminar o relacionamento. Para não perder um amor, ele conseguiu outro. Visitou um culto, se emocionou com a mensagem do pastor e passou a fazer parte do corpo da igreja, de onde não saiu mais.
- O que consegui até hoje foi só Deus na minha vida, de mim não sai nada. Tenho certeza que se não fosse Ele não seria o que eu sou – afirma com convicção.
Responsável pela sua conversão, Tamiris tornou-se esposa pouco depois. Foi só quando casou que ele finalmente deixou a casa da família que o ‘adotou’ quando ele tinha apenas 7 anos de idade. Sua mãe foi embora para o Ceará e o deixou com os padrinhos, que o criaram como mais um filho e que ele retribui, os chamando de pai e mãe.
- Foi uma família que me criou como filho, e eu devo muito a eles. Eu era criado como qualquer um dos outros irmãos, tinha de tudo e fui bem criado, recebi boa educação. Sempre que posso estou por aqui, almoço com eles – conta.
Os padrinhos, Maria Raimunda e José Pedro, conhecido como Zé Galego, o criaram juntos dos filhos de sangue, dando mais cinco irmãos para Kamar. Seu Zé Pedro, baiano, só reclama que o ‘filho torto’ nunca tenha jogado pelo Vitória, seu time do coração. Sobre o rapaz, dona Maria Raimunda é só elogios.
Imagem: Wenner TitoMãe, pai e os cinco irmãos de criação: a família que acolheu Kamar quando criança.
- Se não tivesse vindo para cá, talvez ele tivesse se perdido. Mas é um menino bom, nunca nos deu trabalho. Só queria saber de futebol – conta.
E é assim, perto da igreja, da família e dos amigos, que Kamar segue sua rotina em Floriano. Um dos principais jogadores do Cori-Sabbá, ele faz sua parte dentro de campo e é retribuído fora dele, com cumprimentos por onde anda na cidade. Como na parábola bíblica, o filho pródigo voltou para casa, e foi recebido com festa.
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