Jogadores são resgatados e alegam abandono, casa vazia e sem comida
23/04/2016 11h10Fonte Globoesporte.com
Do sonho de trabalhar com o que gosta ao pesadelo de não receber pagamento e, em alguns casos, passar necessidade com itens básicos, como alimentação e higiene pessoal. Essa foi a trajetória de nove jogadores deixaram o Caiçara nesta sexta-feira resgatados pelo Sindicato dos Atletas Profissionais de Futebol do Estado do Piauí. Sem receber há quatro meses, os jogadores contam que não tiveram jantar na noite anterior que objetos da casa onde viviam, como geladeira e fogão, foram retirados. Atletas também fazem acusações de que a diretoria não repassou dinheiro que seria destinado aos atletas.Segundo o relato dos jogadores, o contrato que o clube havia firmado com a prefeitura de Campo Maior, que fornecia alimentação e transporte para os jogadores, foi encerrado neste dia 20. Assim, na noite deste dia 21, os atletas já não receberam comida para o jantar, nem para o café da manhã do dia 22. Objetos da casa onde os jogadores viviam em Campo Maior, como geladeira, fogão, pratos e talheres foram retirados, mesmo com os atletas ainda vivendo lá.
- Abandonaram a equipe lá. A gente não estava passando fome, mas não era alimentação necessária para um atleta. Chegou a um cúmulo do absurdo. Retiraram tudo da casa, deixaram a gente apenas com os colchões. Ontem a noite ficamos sem janta e hoje de manhã tivemos que nos juntar para poder comprar o café da manhã. Teve uma senhora que ofereceu comida no restaurante dela, mas que ficava há mais de meia hora de distância de caminhada de onde estávamos. Imagine viver fazendo esse trajeto seis vezes por dia – comenta Deivid, um dos jogadores que deixaram o clube.
Imagem: GloboEsporte.comEx-atletas do Caiçara procuraram o Sindicato dos Atletas para voltar para casa.
As acusações também se estendem aos salários atrasados. Sem receber desde o início do campeonato, os jogadores contam que cansaram de esperar o cumprimento de várias promessas feitas sobre o pagamento e que a diretoria jogava a culpa para um grupo de empresários que fez uma parceria com o clube no início da temporada.
- Eles falavam que iam atrás, mas era só promessa. Depois que começou a apertar, disseram que a culpa era dos empresários. A nossa vontade era de jogar, mas não tem como. O trabalhador tem seus direitos, ninguém trabalha sem receber – conta Thalis Lima, outro atleta a deixar o clube nesta sexta-feira.
Os atletas fizeram mais acusações graves. Segundo eles, circulam informações nos bastidores de que a diretoria teria recebido dinheiro para pagar os jogadores, mas este pagamento nunca teria sido feito.
- Soubemos que o presidente recebia dinheiro para passar para a gente no dia do jogo, mas ele não repassava para os atletas. Ouvimos que era em torno de R$ 114 mil – comentam os jogadores.
Imagem: GloboEsporte.comCondições da casa onde atletas moraram eram reclamadas.
Danilo César, outro dos jogadores que estão indo embora, conta que pagou a taxa referente à sua profissionalização do próprio bolso, mas não pode atuar porque nunca foi regularizado pelo clube junto à CBF.
- Eu paguei a minha transferência e a minha profissionalização, mas eu nunca fui regularizado. Estou até agora só treinando, sem jogar. Mais de 20 jogadores fizeram esse pagamento, alguns foram regularizados, outros não – diz.
Pedro, Toni Maranhão, Pedro Silva, Jarle, Thallis, Neném, Danilo César, Deivid e Nickson decidiram deixar o clube na manhã desta sexta-feira. Para voltar para casa, estão contando com a ajuda do sindicato dos atletas profissionais do Piauí, que está custeando as passagens de volta de cada jogador para suas cidades de origem. O presidente do sindicato, Vasconcelo Pinheiro, comenta que a situação, infelizmente, é recorrente no Piauí, o que tem necessitado a intervenção judicial.
- Já tem vários processos na Procuradoria do Trabalho. Existe um Termo de Ajuste de Conduta que está sendo descumprido. Existem processos contra todos os clubes do estado – afirma.
Os jogadores estão deixando Teresina entre a noite desta sexta-feira e a manhã de sábado. Eles também afirmam que, caso os salários não sejam pagos nos próximos dias, irão procurar a justiça.
Jair Morais, diretor de futebol afastado do clube que se encontra sob intervenção, nega veemente todas as acusações. Alguns dos atletas que deixaram o clube nesta sexta, segundo ele, não são sequer jogadores do clube, já que nunca tiveram seus contratos assinados e regularizados juntos à CBF. A maioria das acusações, segundo ele, deveriam ser dirigidas ao empresário encarregado pelas contratações e deveria fazer o pagamento dos salários e outros encargos.
- O Caiçara não chamou nem um jogador. Quem trouxe eles foi um empresário que não pagou. Eles depositaram dinheiro na conta do empresário, o que ele fez com o dinheiro eu não sei. A maioria dos que foram regularizados foram em uma parceria entre o Caiçara e a Federação – explica Jair.
O dirigente também nega a falta de alimentação, que, segundo ele, era fornecida por um restaurante e que o serviço continua sendo prestado normalmente.
Imagem: GloboEsporte.comJogadores denunciam que dormiam em colchões pois não havia beliches para todo mundo.
Empresário se explica
Segundo o empresário Sérgio Santos, houve quebra no contrato assinado entre o clube e a empresa, “não havendo condições de futebol profissional”.
- O Caiçara assinaria um contrato de um ano, onde o clube entraria com alimentação, logística e material esportivo. Assim foi fechado. Uma semana depois, mudaram o contrato. Depois passou a ser logística, alimentação e repassava R$ 12 mil. Eu tive que alugar três carros para levar os jogadores no desembarque em Teresina par levá-los a Campo Maior. Aí começou a descumprir o contrato. Depois, veio o hotel que tive que bancar. São várias coisas (...) A nossa empresa pagou o primeiro mês de aluguel de uma outra casa. A empresa pagou as taxas de CBF de R$ 2.5000 para o Caiçara disputar o Campeonato. Todos os recibos de transferências, boletos de Federação, foram pagos pela empresa - disse.
Segundo ele, os jogadores tinham noção das dificuldades no clube. O acordo, de acordo com Sérgio Santos, era dar ajuda de custo em troca de visibilidade.
- No primeiro turno, foram pagos 10 jogadores. Após alguns resultados negativos, a cobrança aumentou e nada vinha sendo feito de estrutura. Automaticamente o presidente Ispo desligou a parceria. Eu fiquei na retaguarda porque tinha contrato vigente. Eu falei para vermos a multa rescisória. Os jogadores vieram, e boa parte destes que estão no segundo turno eu não conheço. Os que vieram no primeiro sabiam das dificuldades. Eles vieram com a intenção de ter uma vitrine. Eram jogadores que tinham pouco mercado. O acordo era dar ajuda de custo em troca de visibilidade. Com o tempo, as condições foram caindo. É importante colocar isso para as pessoas entenderem que foi tudo legalizado - finalizou.
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