Pioneira, Izaura Souza celebra 10 anos de carreira na arbitragem do PI
08/03/2013 14h48Fonte G1 PI
Atuar em um palco genuinamente dos homens. Esta é profissão de Izaura Sousa e Silva, uma das duas mulheres piauienses a integrar o quadro de arbitragem da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Para realizar o sonho de fazer o que sempre desejou, a ‘bandeirinha’ vive uma relação de amor à profissão, com uma paixão vivida desde a infância.Assim como muitas histórias de amor ao futebol, tudo começou quando criança e motivado pelo carinho do pai ao esporte. Izaura se acostumou cedo a ir aos estádios piauienses para acompanhar jogos, principalmente do River-PI, time de coração do pai. A paixão paterna era tamanha que ela chegava a viajar para não perder alguns duelos importantes.
Imagem: DivulgaçãoIzaura Sousa e Silva (esquerda) atuando pela Copa do Brasil de Futebol Feminino.
Mas quem pensa que Izaura aproveitava a oportunidade para aprender sobre futebol, está enganado. Eram nessas ocasiões, que a hoje assistente de arbitragem ficava fascinada com o trabalho dos bandeirinhas. Ver aquele “corre para lá e para cá” deles, despertaram nela o sonho em fazer o mesmo. O pai, que dizia que a filha só ia ao estádio para comer nem imaginava que tudo aquilo fosse se tornar história para toda a vida da filha.
- Acostumei em ir aos jogos com meu pai todos os sábados e domingos. Era o meu divertimento ver os bandeiras – conta Izaura.
Realizar o sonho de se tornar bandeirinha não foi fácil. A primeira dificuldade foi encontrar um curso. O primeiro que lhe apareceu foi logo quando tinha 15 anos. Mas ela não conseguiu fazer justamente por conta da pouca idade. O jeito foi esperar outra oportunidade. A espera não foi curta.
- Naquela época, não tinha procura pelo curso. Então, era para acontecer de cinco em cinco anos, mas tinha vez que demorava bem mais do que isso – relembra Izaura.
O sonho se realiza
A oportunidade de realizar o curso só veio novamente quando tinha 22 anos. Em 2003, Izaura atuou pela primeira vez como árbitra profissional e, em 2004, passou a integrar o quadro de arbitragem da CBF. Finalmente dentro de campo, a bandeirinha piauiense passou a viver os prazeres e as dificuldades da profissão.
- A maior dificuldade mesmo é ser mulher. Porque não há diferença entre o nosso trabalho e o dos homens na questão física. Nós somos fisiologicamente bem diferentes deles. Os homens tem muito mais força do que as mulheres – relata.
Olhar crítico
Não é só de magia que vive o futebol. Ter o poder de atuar em um grande espetáculo não garante que o reconhecimento e a valorização chegarão na mesma medida.
- Toda profissão tem ônus e bônus. A nossa tem muito mais ônus. Todo árbitro trabalha por que gosta mesmo do que faz. A rotina é difícil e não acho que somos valorizados.
-Temos que ter uma índole perfeita e uma vida estável, sem preocupações, porque temos que entrar em campo tranquilos e com a cabeça somente para o jogo. Isso não levado em conta – completa a bandeirinha.
Outra crítica de Izaura é em relação ao comportamento do torcedor piauiense referente ao futebol no estado.
- Fico muito triste em ver que o torcedor piauiense prefere ver um jogo de futebol na televisão a ir para o estádio. Lá fora é uma loucura. Você vê a expectativa para o jogo, os torcedores usam as camisas dos seus times, saem com bandeiras... Aqui é horrível – dispara.
Plano B
Como poucos árbitros conseguem o sustento através somente da profissão, Izaura também teve que procurar um plano B. Bacharel em Enfermagem, a assistente de arbitragem trabalha como servidora pública na Maternidade Dona Evangelina Rosa desde 2005. Ao contrário da rispidez das cobranças em campo, como enfermeira, Izaura lida com a saúde delicada de bebês e crianças.
-Todos tem outra profissão. Também sou apaixonada pelo o que eu faço lá (na maternidade).
Dificuldades e novos planos
Mesmo afirmando que a maior dificuldade em ser assistente é manter a boa preparação física, atualmente Izaura vive outros dramas próprios de uma mulher. Depois de 10 anos atuando no futebol, a bandeirinha pensa em mudar completamente a rotina de treinos diários, plantões no hospital e jogos aos finais de semana.
- Tudo para a mulher é mais difícil, porque a gente também tem o sonho de ter filhos e construir uma família. Para a gente, isso implica em parar, pelo menos por um tempo. Mas poucas voltam. Ainda estou com muitas dúvidas, mas meu trabalho é como carreira de modelo: uma hora acaba – finaliza.