Rivengo decisivo em 77 é tido como maior jogo da história do Albertão
29/08/2013 13h21Fonte G1 PI
O dia era 2 de outubro de 1977. Na tarde daquele domingo, foi realizado aquele que muitos consideram o maior jogo da história do Albertão, e não é para menos. Era a final do Campeonato Piauiense daquele ano, que bateu recordes de público e seria decidido com o maior clássico do estado, o Rivengo. Se o Flamengo-PI queria conquistar o bicampeonato, o River-PI voltava a uma decisão após passar o ano de 1976 desativado e trazia um time recheado de estrelas, entre elas Sima, que vivia o auge de sua carreira. Todos ingredientes que garantiram que as mais de 40 mil pessoas que compareceram ao estádio naquele dia presenciassem um espetáculo até hoje nunca repetido.O Campeonato dos recordes e dos Rivengos
Não só a final daquele ano ficou para a história do futebol piauiense. Todo o campeonato estadual teve um peso diferente, levando boa média de público aos estádios e com grandes craques em campo. Para muitos que acompanham o futebol piauiense desde aquela época, foi o maior Piauiense de todos os tempos.
- Os times tinham muitos jogadores de fora, e isso atraía muita gente. Além disso, o Tiradentes-PI estava começando a cair, e a rivalidade entre River-PI e Flamengo-PI ficou mais evidente – diz o jornalista esportivo João Eudes, o Bolinha.
Imagem: Náyra Macêdo/GLOBOESPORTE.COMJornalista João Eudes, o Bolinha, lembra do Piauiense de 77.
A fórmula do campeonato previa muitos jogos. Oito equipes (Flamengo-PI, River-PI, Piauí, Botafogo-PI, Fluminense-PI, Picos, Comercial e Parnahyba) se enfrentariam em três turnos, divididas em dois grupos de quatro times cada. Os quatro melhores de cada turno se classificavam para as semifinais, e, ao fim, os campeões decidiriam o torneio.
A média de público do Piauiense de 77, cinco vezes maior que o estadual de 76, deve muito aos dois times de maior torcida da capital. Primeiro porque teve a volta do River-PI, que trouxe um time recheado de estrelas contratadas de outros estados. Entre os de casa, tinha o artilheiro Sima, tido como o ‘Pelé do Nordeste’, que viveu naquele ano a sua melhor temporada.
Por outro lado, o Flamengo-PI também vinha forte. Mesclando atletas da casa com jogadores de fora, o rubro-negro mantinha a base do time que havia sido campeão estadual em 76, o que levou os torcedores a acreditar na conquista do bicampeonato.
A fórmula de disputa, aliada a boa campanha das duas equipes, também contribuiu para um grande número de encontros dos dois times. O campeonato foi disputado em três turnos, e entre jogos classificatórios e decisivos, foram realizados 12 Rivengos durante o Piauiense (naquele ano ainda haveriam mais dois, pelo Campeonato Brasileiro).
Com todos estes ingredientes, os torcedores se fizeram presentes. Os 12 clássicos foram as maiores rendas de todo o campeonato, e em nenhum deles foi registrado um público inferior a 10 mil pessoas. Somados apenas os 3 jogos da decisão, o público chegou a algo em torno de 100 mil presentes. Para efeito de comparação, as 62 partidas do Campeonato Piauiense de 2013 contaram com a presença de 58 mil torcedores.
A estrela de Sima
Se River-PI e Flamengo-PI dividiam as atenções entre as equipes, o maior destaque individual foi, sem dúvida, o artilheiro Sima, atacante do tricolor. Naquele ano ele marcou 33 gols e foi o artilheiro do campeonato, com quase o dobro do segundo colocado, Rui Lima, do Piauí. A sua marca foi expressiva também nacionalmente, já que ele foi quem mais marcou entre todos os estaduais do país naquela temporada.
Enquanto o seu time, o River-PI oscilava, Sima se mantinha atuando em grande estilo. Nos três turnos, esteve presente na seleção dos melhores do campeonato e teve atuação decisiva em vários jogos importantes, inclusive na última partida da grande decisão.
A decisão
Não poderia ser diferente. No dia 2 de outubro, o maior clássico do estado iria decidir o maior Campeonato Piauiense de todos os tempos, e uma massa de mais de 40 mil pessoas compareceram ao Albertão, entre pagantes e não-pagantes.
O título estava em aberto, pois o equilíbrio entre as duas equipes era visível. Enquanto o Flamengo-PI venceu o primeiro turno (derrotando o River-PI na semifinal), o rival levou os outros dois, derrotando justamente o rubro-negro nas decisões.
O River-PI, do artilheiro Sima, tinha o melhor ataque, e o Flamengo-PI tinha o segundo. A Raposa também tinha a segunda melhor defesa, e o Galo a terceira. Nos confrontos diretos, no entanto, o rubro-negro levava alguma vantagem, embora pequena. O empate foi o resultado mais comum, ocorrendo cinco vezes entre os nove confrontos já ocorridos até ali entre os dois times. No restante, três vitórias flamenguistas e uma riverina.
Nos dois primeiros jogos, mais uma vez o equilíbrio. Na primeira partida, o River-PI venceu por dois a zero, com gols de Nivaldo e Derivaldo. O Flamengo-PI deu o troco no jogo de volta, vencendo por 2 a 1, com dois gols de Zé Roberto, enquanto o Derivaldo, novamente, marcou para o tricolor. Chegou então o grande dia, e a cidade parou.
- Era muita movimentação na cidade toda. As torcidas saíam dos bairros e iam desfilando até o Albertão, convocando mais torcedores – conta João Eudes, o Bolinha.
Augusto Melo, volante titular do rubro-negro naquele ano e que tem mais de 50 Rivengos disputados no seu currículo, também lembra como foi a empolgação vivida na época da final do estadual.
- Foram 14 dias de festa, entre os três jogos. Pessoal se reunia já na noite de sábado, ia para as coroas do Parnaíba e de lá saíam direto para o jogo já no domingo – diz.
Quando a bola rolou, as atenções se voltaram todas para o campo do Albertão e para Sima. Ele, que havia passado em branco nos últimos quatro jogos, todos contra o Flamengo-PI, faria a diferença naquele dia. Mas, primeiro, Dema assustou os riverinos com um gol logo aos 3 minutos, botando o Flamengo-PI em vantagem.
No entanto, ainda no primeiro tempo, Sima mudaria essa história. Primeiro, se antecipou ao zagueiro em um cruzamento na área e chutou para vencer o goleiro Hindemburgo. Depois, virou o placar marcando um belo gol de falta, e assim o River-PI foi para o intervalo com vantagem no placar.
Durante toda a segunda etapa, o que foi visto foram muitas chances criadas dos dois lados. O River-PI começou melhor, mas pela metade do segundo tempo o Flamengo-PI equilibrou as ações e também teve domínio. Aí quem brilhou foram os goleiros dois times: Hindemburgo pelo rubro-negro e Paulo Figueiredo pelo tricolor.
- Eram dois goleiros muito bons e fizeram grandes defesas durante todo o segundo tempo – lembra Augusto Melo, presente naquele jogo.
Atrás no placar, os torcedores da Raposa só se aliviaram aos 38 minutos do segundo tempo, quanto Dema marcou e deixou o placar igualado em 2 a 2, levando a decisão para a interrogação. Ali, Augusto pensou que teria melhor sorte.
- Quando empatamos, eu achei que o psicológico iria atrapalhar mais os jogadores do River-PI e que nós venceríamos – conta.
No entanto, não foi o que aconteceu. Na prorrogação, pesaram a cautela e o cansaço das duas equipes, e já não se viram tantas chances como no segundo tempo. Isso até brilhar a estrela de Nivaldo. Na metade da etapa complementar do tempo extra, o centro-avante riverino se postou na segunda trave durante a cobrança de uma falta, quando a bola foi levantada na área. Sima subiu para dividir com um zagueiro, mas a bola acabou sobrando para Nivaldo. Com a calma típica dos grandes marcadores, dominou, enganou o goleiro fingindo que bateria em um canto, mas chutou no outro, para delírio da torcida tricolor.
- Que atacante não quer fazer um gol de título? Aquele não foi o meu único, mas foi uma sensação muito boa, o Albertão todo lotado, a torcida vibrando e invadindo o campo depois – lembra o jogador.
Alegria para o tricolor, que voltava a levantar uma taça após tempos de crise. Para o Flamengo-PI, se por um lado ficou a tristeza por não ter conquistado o bicampeonato, por outro também a sensação de ter feito um bom campeonato.
- Na hora, claro, você sente a insatisfação por ter perdido. Mas depois, você toma um banho, se acalma, se olha no espelho e percebe que você fez o que poderia ter feito. Fica a consciência do dever cumprido, que é a melhor coisa quando perdemos – diz Augusto, volante do Piauí na época.
No maior público da história do Campeonato Piauiense, em um torneio decidido pelo maior clássico do estado, estiveram presentes todos os ingredientes de uma grande partida. Rivalidade, bom futebol, gols e muita emoção. Por tudo isso, Nivaldo exalta aquele confronto.
- Aqui nunca mais houve um jogo igual aquele, foi único. Não podemos dizer que nunca acontecerá de novo, mas é difícil – finaliza o campeão do maior Piauiense de todos os tempos.
Imagem: Wenner TitoNivaldo e Augusto Melo, no Albertão vazio: dois personages do maior jogo do estádio.
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