Amigos negros defendem jovem que ofendeu Aranha: "Ela não é racista"

31/08/2014 14h18


Fonte GloboEsporte

  Quem conhece Patrícia Moreira, investigada por praticar ato de injúria racial envolvendo o goleiro Aranha na partida entre Grêmio e Santos, na última quinta-feira, garante que ela não tem qualquer sinal que a aponte como uma pessoa "racista". É o que garantem amigos negros da menina de 23 anos e que residem próximos a ela, na zona norte de Porto Alegre. O GloboEsporte.com visitou a região na tarde de sábado e ouviu os vizinhos. A jovem não foi encontrada para se manifestar.

Imagem: Diego GuichardAmigos negros de Patrícia Moreira defendem jovem e não creem em racismo.(Imagem:Diego Guichard)Amigos negros de Patrícia Moreira defendem jovem e não creem em racismo.


Lucas da Silva, de 20 anos, faz parte dos amigos que defendem Patrícia. Acha que ela se deixou levar pela "emoção do momento", afinal o time gaúcho perdia em casa por 2 a 0 na estreia pela Copa do Brasil, nas oitavas de final do torneio.

- Ela é gente boa, vai em roda de samba com preto, gosta de preto, fica com preto. Foi na emoção do momento, ela não é racista. Ela é louca pelo Grêmio, vai em todos os jogos, é sócia – conta.

Dono de um mercado localizado perto da casa de Patrícia, o comerciante Marcio Batista Traslatti, de 49 anos, é outro a sair em defesa da jovem. Ex-árbitro de futebol, também crê que a menina caiu na "empolgação".

- Ela não é tudo isso que estão dizendo, é uma menina sem palavras. Na hora da empolgação, um puxa e os outros vão atrás. Ela foi atrás e saiu falando besteira. Estava no lugar e hora errada. Não vamos jogar a culpa em cima - opina.

A opinião dos amigos, porém, não é compartilhada por todos do bairro. Enquanto o grupo concedia entrevista, uma senhora, também negra, que preferiu não se identificar, mostrou indignação com o episódio na Arena.

- Tem que valorizar onde mora, ela desvalorizou o bairro.

 Imagem: Diego Guichard Dono de estabelecimento defende Patrícia Moreira.

Na noite de sexta-feira, a casa de Patrícia Moreira, que foi flagrada pelas câmeras do canal ESPN gritando "macaco" em direção ao goleiro Aranha, foi apedrejada. Ela se refugiou em residências de parentes e amigos para evitar retaliação.

Intimada a depor, ela se apresentará na 4ª Delegacia de Polícia de Porto Alegre na segunda-feira, assim como outro torcedor identificado por câmeras da Arena.









Entenda o caso


O incidente aconteceu aos 42 minutos do segundo tempo, quando Aranha reclamou com o árbitro Wilton Pereira Sampaio, alegando ter sido vítima de xingamentos por parte da torcida. O juiz mandou a partida seguir, mesmo sendo alertado por jogadores do Santos dos incidentes que ocorriam fora de campo.

A jovem foi afastada do trabalho no Centro Médico e Odontológico da Brigada Militar. Era funcionária de uma empresa terceirizada e prestava serviços de auxiliar de odontologia na clínica da polícia militar gaúcha. As imagens da torcedora ofendendo o goleiro santista começaram a circular pelas redes sociais logo após a partida.

O goleiro Aranha registrou boletim de ocorrência na 4ª Delegacia de Polícia de Porto Alegre na sexta-feira. No retorno a Santos, o camisa 1 evitou se pronunciar sobre o assunto.

Imagem: Diego GuichardAranha reclama para arbitragem e alega ter sido vítima de xingamentos.(Imagem:Diego Guichard)Aranha reclama para arbitragem e alega ter sido vítima de xingamentos.

Jogo de volta suspenso

As injúrias raciais proferidas por torcedores gremistas contra o goleiro Aranha tiveram mais um desdobramento. O Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) acatou pedido da Procuradoria de Justiça Desportiva e suspendeu o jogo de volta entre as duas equipes, na próxima quarta-feira, até que o caso seja julgado. No primeiro duelo das itavas da Copa do Brasil, os paulistas bateram os gaúchos por 2 a 0.

O julgamento ocorrerá na próxima quarta-feira. O Grêmio responderá por ato de discriminação racial por parte de torcedores, além do arremesso de papel higiênico no gramado e atraso. O clube corre risco de exclusão na Copa do Brasil e multa de até R$ 200 mil. A denúncia se apoia no artigo 243-G (discriminação racial) e no 213 (arremesso de objeto em campo), ambos do CBJD. O clube responde ainda ao artigo 191 por descumprir o regulamento e entrar em campo três minutos após o horário previsto.

Advogado do Grêmio, Gabriel Vieira disse que o clube foi notificado formalmente pelo STJD na noite de sexta.

- Nós fomos formalmente notificados pelo STJD. A partida foi suspensa e o julgamento está pautado para a mesma quarta-feira, às 14h. Agora, estamos sentando para ler o que está acontecendo, analisando a denúncia para ver que medida tomar - afirmou à Rádio Gaúcha.

Arbitragem também denunciada

Na primeira versão, o árbitro Wilton Pereira Sampaio não incluiu na súmula da partida menção a atos racistas na Arena. Após analisar as imagens, o juiz colocou um adendo no qual informou ter ficado ciente do caso por meio da imprensa e que ainda fora informado por atletas do Santos. Desta forma, Pereira Sampaio, além dos assistentes Kleber Lúcio Gil e Carlos Berkenbrock, e o quarto árbitro Roger Goulart, foram denunciados por infração aos artigos 261-A e 266, ambos do CBJD. Todos estão sujeitos a suspensões de até 90 dias e 360 dias, respectivamente.