Feliz pelo tÃtulo, Luiz Alberto critica Flu-2009: 'Não éramos comprometidos'
11/12/2010 16h40Fonte Globo Esporte
Luiz Alberto está de volta. Mas não, ao menos por ora, a algum clube brasileiro. Sem time desde o fim de abril, quando pediu para deixar o Boca Juniors, o zagueiro descansa enquanto espera uma boa proposta para voltar aos campos. Aos 33 anos, porém, ele já começa a se preparar para deixar os gramados. Por isso, já divide o tempo entre sua oficina de carros e um clube, administrado com familiares, ambos em Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro.Mas, enquanto toca a vida fora das quatro linhas, Luiz Alberto não foge das divididas. O zagueiro lembrou sua passagem pelo Fluminense ao dizer que havia pessoas que não gostavam dele, então capitão do time em 2009. A equipe ficou muito perto de cair no Brasileirão, e só se salvou após a chegada de Cuca. E na última rodada. O zagueiro não demonstra mágoa por ter sido barrado e ter ficado fora da reação milagrosa do time na reta final. Ainda que sem citar nomes, ele diz apenas Conca e o goleiro Rafael se salvavam naquela equipe. Nem ele mesmo, diz, se salvava.
- Fiquei três anos no Fluminense e não guardo mágoa de ninguém. Em 2009, as coisas não estavam dando certo, talvez pelo fato de eu ser capitão. Não é importante nem citar nomes, mas havia pessoas que não gostavam (de mim). Não éramos comprometidos. Daquele time que estava jogando o Brasileiro, eu só tiraria o Conca e o Rafael. O resto, tinha que trocar tudo, e eu estou incluso - disse Luiz Alberto, ressaltando que torceu para o time conquistar o Brasileiro deste ano.
Confira, abaixo, a entrevista com o jogador
'Havia pessoas que não gostavam de mim'
- Fiquei três anos no Fluminense e não guardo mágoa de ninguém. O que aconteceu foi uma coisa interna, coisa de pessoas que não gostavam da minha atitude, da minha liderança no grupo. Na verdade, 100% eu não sei o que houve. Não me sinto culpado. No Brasil, joguei em cinco clubes, todos grandes, e em todos tive êxito. Mas todo jogador tem seu momento difícil, sua fase delicada. Em 2009, as coisas não estavam dando certo, talvez pelo fato de eu ser capitão. Não é importante nem citar nomes, mas havia pessoas que não gostavam (de mim).
'Em 2009, só Conca e Rafael se salvavam'
- O Fluminense tinha disputado a Libertadores pela última vez há mais de 20 anos (1985) e não tinha passado da primeira fase. Disputei uma e fui para uma final inédita (2008). Não ganhamos por detalhes. Fui campeão da Copa do Brasil (2007). Vários jogadores de nome passaram no Fluminense e não tiveram este êxito. Em 2009, eu estava em um momento ruim, mas não era só eu. Daquele time que estava jogando o Brasileiro, eu só tiraria o Conca e o Rafael. O resto, tinha que trocar tudo, e eu estou incluso. As coisas não estavam dando certo. Para ser sincero, ainda bem que no final deu certo. Senão, ia ter este rótulo de segunda divisão. Calhou de acertar após minha saída. Normal, coisa do futebol. Tenho minha cabeça tranquila quanto a isso.
'Grupo de 2008, da Libertadores, foi o melhor que já joguei'
- A Libertadores de 2008 foi meu melhor momento no Fluminense. Ali nós tínhamos grupo. Em 2009, não. Nomes existam, mas não éramos fechados como em 2007 e 2008. Em toda minha carreira, foi o melhor grupo que eu já joguei. O de 2008 não tem o que falar. Éramos unidos dentro e fora de campo. Até hoje. Minha esposa é amiga da do Juninho (Junior Cesar), Thiago Silva, Arouca...
'Não éramos comprometidos'
- Em 2009, não éramos comprometidos. Por eu ser o capitão, me diziam: "Tem que fechar isto aí". Mas sozinho não ia fazer. Tenho minha consciência tranquilíssima. Poderia aqui citar nomes, largar o verbo, dizer umas verdades, mas não é minha índole. Muitos dizem que eu sou culpado, mas tenho a minha cabeça, minha personalidade."
'Eu me expus demais'
- Muitas vezes me expus demais, talvez tenha sido um dos meus erros. Sempre chamavam o Luiz Alberto, o capitão, para dar entrevista. Era sempre eu. Chegava lá na coletiva e perguntava "por que só eu venho nos momentos difíceis?". Aprendi muito com isso, é uma coisa que eu não faço mais. Mas não me sinto culpado. Sou uma pessoa quieta e quiseram jogar tudo em cima das minhas costas. Depois que saí, não dei declarações na imprensa, não chamei coletiva sobre o assunto...
'Ainda tenho amigos no Fluminense'
- Ainda tenho amigos no Fluminense, como o Washington, o Conca... Também deixei amigos na rouparia, tem também o Muricy, com quem já trabalhei no Inter. É um cara excepcional. Torço por pessoas assim, mas, infelizmente, no futebol nem todos são como eles.
'Fui ao Boca para demonstrar meu valor, mas não sabia o que acontecia lá'
- Fui na ânsia de querer jogar e demonstrar meu valor depois da forma que eu saí do Fluminense. Só joguei em clube grande. Quis dar a volta por cima mas não sabia o que estava acontecendo internamente lá. Eu não sabia como estava o grupo. Meu interesse era: Argentina, Boca, clube que conquista título internacional, está sempre brigando por taças.
'Cheguei no pior momento da história do clube'
- O elenco estava rachado, havia problemas na diretoria e o time não estava bem na competição. Cheguei em um momento ruim, o pior da história do clube. Não deu certo. Todos têm que estar em um barco só para as coisas andarem. Joguei com muitos jogadores que ganharam tudo pelo Boca, fizeram história e hoje estão tranquilos. Os atletas não estavam com aquela vontade toda, até porque não estavam disputando a Libertadores. Não esperei nem terminar meu contrato. Faltando uma semana pedi para voltar e ficar com a minha família no Brasil.
'Melhor momento da minha carreira foi no Santos'
- No Flamengo foi onde eu conquistei mais títulos, e no Fluminense onde participei do melhor grupo, mas meu desempenho muito bom foi no Santos. Em 2006 estava me sentido muito bem, gostava do clube, da cidade... Foi o melhor momento da minha carreira.
'Torcedores me perguntam se não volto a jogar'
- É o que eu mais escuto na rua. Brinco dizendo que dei um tempo e me perguntam a idade. Quando respondo, me dizem: O quê? Vai parar? Olha sua história, onde você começou. Olha para trás e vê o que sacrifício que foi. Quando não estiver aguentando mais, com 37, aí você para". Isso escuto de botafoguenses, flamenguistas, vascaínos, tricolores... Às vezes estou no supermercado e perguntam se não vou voltar a jogar. É legal isso.
'Tenho esperança de encontrar um novo clube em 2011'
- Não defini ainda (o futuro). Depois da minha saída (do Boca), coloquei na cabeça que iria dar uma descansada. Proposta houve, mas quis ficar um pouco com a família, dar uma respirada neste resto de ano. Em 2011, já penso em uma vida nova. Este ano foi complicado para mim. Eu me vejo como jogador ainda, mas em um momento difícil na carreira. Eu estou com uma esperança de 2011 encontrar um novo clube, mas tem que ser uma coisa muito boa, séria. Que não seja igual ao que foi a minha ida para Argentina.
A rotina longe dos gramados
- A vida muda bastante. Hoje tenho a oficina mecânica e o clube que preciso administrar junto com os meus irmãos. Tem que estar em cima, ficar de olho, ver como estão as coisas. Está dando para sobreviver. Estou gostando, é uma experiência nova. Não temos que pensar só em jogar futebol. É minha profissão, mas uma hora eu vou parar e tenho que ter uma coisa montada. Tenho três filhos e acho que isto é importante para o futuro deles.
Com a bola, contato apenas nas peladas
- Não é como antes, quando treinava com um grupo. No clube tem um profissional para te dar um treinamento. Mas estou mantendo a forma. Malho na academia de manhã, dou minhas corridinhas na praia, mas nada de campo grande, contato com grama. Isto às vezes eu sinto falta. Jogo minhas peladinhas (campo sintético), isso é importante para estar sempre bem, por mais que não esteja empregado. Temos um time fixo. Toda quarta vem uma equipe de fora para jogar contra. O negócio é bom, a rivalidade é grande, tem correria. Dá para manter a forma. É difícil ganhar de nós aqui.
O ideal seria jogar em um clube do Rio ou acredita que o mercado carioca já está saturado para você?
- Acho que um time de outro estado seria legal, mas não descarto jogar aqui no Rio. Digo mais em questão de tranquilidade (jogar fora), mas não sei. Tem muitos jogadores que já atuaram nos quatro grandes. Tudo é o momento. De repente amanhã aparece o Vasco ou Botafogo e faz uma proposta, aí eu pego a assino. De repente as coisas dão certo. Mas uma possibilidade fora do estado acho que cairia bem.
Depois deste tempo fora dos gramados é possível voltar a ser torcedor, enxergar o futebol do mesmo jeito do que as pessoas que não são jogadores?
- Comecei no Flamengo... antes eu era flamenguista. Mas pelo fato de jogar em tantos clubes, não tenho tanta paixão. Isso vai de cada jogador, é coisa minha. Tem atleta que declara. Sou carioca e isto seria interessante para a cidade os times do Rio brigando pelos títulos nacionais. Não torço para um clube só.
Assiste aos jogos? Vai ao estádio? Acompanha o noticiário dos clubes?
- Não consigo. Quando passa na TV, dou uma olhadinha. Nas quartas-feiras jogo as minhas peladas e normalmente passam os jogos. Quando o pessoal grita gol, eu venho e dou uma olhada. A Copa do Mundo eu vi. Se for uma competição internacional, eu até vejo. Brasileiro só assisto aos gols e ao Globo Esporte. Não tenho paciência para ver os 90 minutos.
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