Muricy diz que ainda sonha com a Seleção e lamenta maratona de jogos

18/10/2010 22h54


Fonte Globo Esporte

As portas da Seleção Brasileira não se fecharam para Muricy Ramalho. É o que garante o técnico do Fluminense, convidado do programa "Bem, Amigos!", do SporTV, nesta segunda-feira, que abriu mão do sonho de assumir a equipe canarinho após a Copa do Mundo por não querer deixar de lado o acerto com o clube das Laranjeiras. À época, Muricy tinha contrato assinado com o Flu até o fim do ano e estava apalavrado com a diretoria tricolor para seguir no comando por mais duas temporadas.

Relembrando um episódio anterior em sua carreira - três recusas seguidas ao São Paulo, onde acabou sendo tricampeão brasileiro - o maior vencedor da história da competição nos pontos corridos mostrou não estar arrependido de sua decisão.

- O sonho continua. Fechou a porta para quem? Para quem é correto não se fecha a porta nunca. Para o São Paulo eu falei três vezes “não”. Minha família ficava maluca. Eu estava no Internacional, lutando para não cair, o São Paulo me liga. "Não dá, estou no Campeonato Gaúcho com um time de moleques". Essa é minha maneira de ser. É errado porque o futebol brasileiro não é confiável. Mas não importa. É a minha maneira. Se eu fosse fazer uma coisa, ia ter um peso em mim, porque eu sou chato com as minhas coisas. Não quero ser peso para ninguém.

Muito comemorada pela torcida do Fluminense, a opção do treinador foi questionada por alguns e elogiada por outros. Ele explicou sua maneira de pensar.

- Não era problema de ética. Cada um escolhe sua vida no futebol. O que eu escolhi, que observava desde a época de assistente do Telê (Santana), foi ter consistência. Eu sempre vi técnicos que saíam de um clube, iam para outro e tinham que conhecer tudo de novo. Tem técnico que dá sorte. Chega e é campeão. Mas, para o cara ser consistente, tem que ter mérito. Foi isso que escolhi. E tem a coisa da minha educação. Meu pai me ensinou que, se eu assino algo, tenho que cumprir. Se dei minha palavra, tenho que cumprir. Tem uma torcida por trás (do Fluminense), tem um patrocinador muito forte, que veio a São Paulo me conhecer anos antes porque queria um dia me levar para o clube. Sei que no nosso pais é difícil entender (uma recusa à Seleção Brasileira). Era um sonho meu. Mas não quero deixar nada para trás em nome disso.

O comandante tricolor aproveitou para esclarecer alguns dos boatos surgidos, após a reunião que teve com o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, para tratar da possível sucessão de Dunga.

- Só para esclarecer, houve um momento em que eu estendi a mão para o Ricardo Teixeira. Ele não achou a minha, eu não achei a dele, mas não tinha nada ali. Eu fui para casa técnico da Seleção Brasileira. Ele (Teixeira) mesmo elogiou minha postura depois. Meu sonho agora é ganhar o campeonato pelo Fluminense.

Muricy contou, ainda, que chegou a indicar um velho conhecido dos tempos de Morumbi para um cargo na Seleção.

- Falei do Milton Cruz (seu auxiliar no São Paulo) para o Ricardo Teixeira. Para olhar jogador. Indiquei meu parceiro.

Sheik fora por 20 dias

Sobre o Brasileirão, onde o Fluminense ocupa a segunda colocação, com 53 pontos, um a menos que o líder Cruzeiro, o treinador voltou a falar daquele que tem sido o principal rival de sua equipe: o excesso de contusões. Além de lamentar por nunca ter podido aproveitar o quarteto Deco, Conca, Emerson e Fred simultaneamente, Muricy comentou a nova lesão do Sheik, que saiu de campo machucado do clássico com o Botafogo, neste domingo.

- Ele ficou bom de uma coisa importante, que era a parte muscular, e agora sofreu uma torção. O que eu ouvi é que a recuperação vai levar 20 dias. O Deco pode ser que volte agora.

Na análise de Muricy - que admitiu que o problema também aos rivais - os grandes responsáveis pelas frequentes lesões dos atletas são a maratona de jogos e o mau estado dos campos.

- Estamos tendo muitos rompimentos de cruzada. A parte muscular do jogador não é recuperada. Então a parte que segura a cruzada do joelho não está pronta para receber toda a carga. O Maicosuel foi isso. Uma contusão muito grave. Então precisamos rever essa situação (...) Temos que reunir todo o segmento do futebol para dar um jeito nisso. Perdemos o Ganso outro dia. O Borges, o Maicosuel, o Corinthians está com jogadores machucados, o Fluminense... Temos que parar um pouco.

Torcida nos treinos

A respeito de um recente episódio vivido por um dos principais concorrentes do Flu na luta pelo título brasileiro - a entrada autorizada de torcedores no treinamento do Corinthians para fazer cobranças ao time - Muricy destacou que vive o outro lado da moeda no Flu, com a torcida apoiando o grupo no dia a dia, e criticou a noção de que este tipo de pressão pode ser benéfica.

- Isso é uma coisa que vai pressionar seu próprio time. Não vai ajudar. O cara abre o treino, mas eu quero ver ele ir lá fechar quando a coisa fica feia. (...) No Fluminense sempre foi aberto, mas é local de trabalho, é que nem um escritório. Por isso é importante o Centro de Treinamento. Temos que ter privacidade. Tem dirigente maluco que acha que é para abrir para o jogador ficar pressionado e correr mais. É uma coisa antiga, mas tem.

Muricy não se esquivou de comentar o episódio da saída de Dorival Júnior do comando do Santos, após as divergências envolvendo a punição a Neymar por indisciplina. Ele acredita que possa ter havido alguma questão desconhecida do público nos bastidores da Vila Belmiro antes da demissão.

- Minha opinião é que a autoridade do Dorival já estava estabelecida. No futebol, falamos as coisas, mas não é tudo que vai para o ar. Eu tenho as minhas dúvidas do que aconteceu no meio tempo. Eu conheço o (Dorival) Júnior. Ele foi meu jogador e meu assistente. Alguma coisa aconteceu no caminho. É difícil estar falando. Acho que ele agiu certo, mas não sei o que pode ter acontecido.

Enquanto o sonho de comandar a Seleção não se realiza, Muricy Ramalho se permite avaliar o trabalho daquele que recebeu o convite após sua recusa.

- O trabalho do Mano só vai ser elogiado ou não em 2014. Com o Dunga foi assim. Ele ganhou tudo, ganhou até o fim do primeiro tempo contra a Holanda, e não perdeu por falha dele, foi falha individual. Mas futebol é assim. O Mano está fazendo a renovação, mas o que vai valer vão ser os sete jogos do Mundial. O Dunga teve que disputar uma eliminatória, o Mano não tem isso. Temos que ter paciência de saber que o trabalho é para 2014.

Para a sequência do Brasileirão, a promessa é de trabalho e luta pelo seu quarto título brasileiro até o fim.

- Não desisto nunca. Vou brigar até o último minuto.

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