Bastidores: saiba por que relação entre Botafogo e Artur Jorge acaba com rusgas dos dois lados
29/12/2024 11h55Fonte ge
A relação entre Botafogo e Artur Jorge chegou ao fim após o treinador decidir aceitar a proposta do Al-Rayyan, do Catar. A história gloriosa, coroada por títulos do Brasileirão e da Libertadores, termina com incômodo dos dois lados. E por que isso aconteceu?O começo do fim foi ainda em outubro, às vésperas da primeira partida da semifinal da Libertadores contra o Peñarol. Foi quando o Al-Rayyan entrou em contato com o estafe do treinador e sinalizou que faria uma proposta vantajosa financeiramente.
Imagem: Vitor Silva/BotafogoConfronto com o Pachuca pode ter sido o último de Artur Jorge pelo Botafogo.
Esse é um dos pontos que causaram um choque de versões. O empresário do treinador, Hugo Cajuda, garante que o Botafogo foi avisado prontamente sobre o interesse da equipe catari. Já o clube diz não ter sido comunicado.
De fato, os agentes do técnico avisaram aos dirigentes alvinegros. Porém, a oferta do Al-Rayyan não foi formalizada naquele momento. Logo, não houve uma comunicação oficial entre os clubes. Como o acordo de Artur previa multa de 2 milhões de euros (R$ 12 milhões), bastava o pagamento do valor para a liberação do técnico.
Silêncio e incômodo
Os meses seguintes foram de afastamento entre clube e treinador. No entender das pessoas que estão no entorno de Artur Jorge, a postura passiva dos dirigentes do Botafogo, mesmo ciente do interesse de outras equipes, criava a sensação de que não havia grande interesse na permanência do treinador.
Artur Jorge não estava plenamente convencido sobre o projeto esportivo do Al-Rayyan, 8º colocado do Campeonato Catari. Mas, com a proposta em mãos, começou a fazer movimentos - alguns deles públicos - para deixar claro que só ficaria no Botafogo se recebesse aumento considerável. Ele não gostou, por exemplo, de saber que seu salário era menor do que o dos outros dois técnicos portugueses contratados por Textor: Luís Castro e Bruno Lage.
Com o aumento, Artur Jorge garantia que permaneceria. A saudade dos três filhos, Artur, Bárbara e Maria, não era um fator, já que o Catar também fica distante de Portugal, onde eles moram. Mas a conversa com John Textor nunca aconteceu. O treinador chegou a se reunir com diretores alvinegros, mas não com o dono da SAF.
Em 2023, Luís Castro fez queixa semelhante ao trocar o Botafogo pelo Al-Nassr, da Arábia Saudita. Nos dois casos, Textor adotou a estratégia de esticar a corda e esperar para tomar a decisão sobre possíveis aumentos.
Bônus ou aumento?
Mesmo sem a conversa entre Artur e Textor, o Botafogo estava disposto a aumentar a multa e a duração do contrato do treinador, porém entendia que o valor recebido em bônus pelas conquistas da Libertadores e do Brasileirão - cerca de R$ 17 milhões - era suficiente na parte financeira. No entanto, a impressão no clube era de que o português já havia tomado a decisão de deixar o Brasil ao fim da temporada.
Imagem: André DurãoArtur Jorge comemora título brasileiro do Botafogo.
Depois da derrota para o Pachuca na Copa Intercontinental, em vestiário repleto de despedidas, havia clima de adeus por parte do treinador e sua comissão técnica. No avião de volta de Doha para o Rio de Janeiro, Artur Jorge não fez questão de esconder que estava lendo detalhes da proposta e do elenco do Al-Rayyan.
As recentes entrevistas do treinador, tanto na chegada ao Brasil quanto em Portugal, também causaram irritação no Botafogo. Artur deixou sempre o futuro em aberto, sem cravar se sairia ou ficaria. Ele chegou a participar de parte do planejamento para a próxima temporada, conversando com os dirigentes.
Ou seja, o ruído de comunicação e a falta da palavra ou gesto de valorização, algo desejado pelo português, quebraram a relação de apenas nove meses. Agora, o clube coloca como prioridade encontrar no mercado um novo comandante, e Artur segue o caminho - tudo indica - no clube do Catar.