Disputa com irmão e treino em açude: a trajetória de Fernando Scheffer até o bronze em Tóquio
28/07/2021 07h00Fonte Globo esporte
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Medalhista de bronze nos 200m livre em Tóquio, Fernando Scheffer deu as primeiras braçadas na piscina aos sete anos de idade com um objetivo bem claro: superar o irmão mais velho, Augusto. A dupla frequentava as aulas de natação em uma escolinha de Canoas, região metropolitana de Porto Alegre, onde ele nasceu e mora com a família.
Aos 23 anos, Fernando deixou o irmão para trás faz tempo até fazer o melhor tempo da vida dele em Tóquio (1m44s66) na noite de segunda-feira no Brasil, conquistar uma medalha olímpica e depois de 25 anos repetir o feito de Gustado Borges, prata em Atlanta-1996.
– Eu comecei a nadar com meu irmão mais velho, Augusto. Ele nadava muito melhor do que eu e sempre quis ser melhor do que ele. E levo essa mentalidade até hoje, e isso é um diferencial importante – disse o nadador após a conquista.
– Como eu já nadava, o Fernando começou a nadar para me acompanhar nos treinos. Na época, a nossa técnica tinha montado uma equipe com o objetivo de participar de competições, então eram uns treinos um pouco mais puxados. E aí começamos a pegar gosto por treinar e competir – relata Augusto.
O gaúcho nasceu dois anos depois do feito de Borges, em abril de 1998, e ainda na adolescência começou a conquistar as primeiras medalhas, por incentivo da professora Ana Paula Brandão. Foi na escolinha dela que o canoense começou a treinar e competir, sempre ao lado do irmão.
– A gente sempre sonhou bastante, ele sempre foi muito dedicado. A gente comemorou muito, a gente sempre comemorou muito todos os passos que ele dava – conta a professora, empolgada com a conquista do aluno agora famoso.
Vídeo mostra nadador Fernando Scheffer treinando em açude no interior de Minas Gerais
Aos 15 anos, Fernando deixou a casa dos pais em Canoas e mudou-se para Porto Alegre com o irmão para competir pelo Grêmio Náutico União, tradicional clube da capital gaúcha. Ali, começava a encarar a carreira com mais seriedade.
– O Grêmio Náutico União me convidou para nadar por eles e depois convidou a Ana Paula para trabalhar lá com a equipe, e nisso o Fernando também foi para lá. Foi assim que a gente começou a entrar no mundo competitivo da natação e a levar mais a sério a carreira, e o Fernando começou a se destacar cada vez mais. Ele é um cara superdisciplinado, faz o que precisa ser feito – recorda Augusto.
Em 2018, Fernando trocou de clube novamente e passou a competir pelo Minas Tênis Clube, que defende hoje. No mesmo ano foi ouro no Campeonato Mundial de Piscina Curta, em Hangzhou, na China, batendo o recorde mundial.
– Eu não consigo nem explicar o que estou sentindo. Eu acompanho ele no dia a dia e estamos juntos desde o comecinho, quando ele conquistou a primeira medalha absoluta, e sei o quanto ele sonhou com isso. Comemoraremos juntos – diz a também nadadora e namorada Bibi Cordeiro, que foi junto para Belo Horizonte.
Fernando chegou a Tóquio como o principal nome da natação brasileira nos 200m livre, mas não era considerado favorito à medalha. Para conquistar o bronze, ele teve que superar grandes nomes da natação mundial e outros contratempos no meio do caminho, impostos pela pandemia.
O gaúcho chegou a ficar três meses sem treinar e passou a malhar em casa. Voltou às piscinas para alguns treinos restritos até o clube fechar novamente as portas por dois meses, no ano passado. Foi quando Fernando e outros nadadores tiveram que recorrer à criatividade para treinar e improvisaram raias em um açude no interior mineiro.
– Na pandemia foi uma confusão. Não tinha piscina, não tinha nada. Tinha aquela raiazinha e a gente ficou lá, treinando – recorda Bibi.
Fernando Scheffer garantiu a 14ª medalha da história da natação brasileira em Olimpíadas. E pode vir mais. Na madrugada desta quarta-feira, ele cai na água novamente em Tóquio com a equipe brasileira na final dos 4x200m livre.