"Estou de saco cheio": como o futuro de Abel Ferreira impacta os bastidores do Palmeiras
14/11/2023 09h12Fonte ge
A vitória por 3 a 0 sobre o Internacional que levou o Palmeiras à liderança do Brasileirão contou com um desabafo de Abel Ferreira. O técnico deixou clara sua insatisfação com a rotina desgastante e avisou estar "de saco cheio", inclusive dizendo que não era possível garantir sua permanência para 2024. Mas como isto impacta o dia a dia na Academia de Futebol?Tanto dentro do clube quanto pessoas próximas ao treinador veem a declaração mais como um desabafo do que o desejo de ir embora. Com contrato até dezembro de 2024 com o Verdão, o português não esconde que a organização do futebol brasileiro o incomoda bastante.
Imagem: Marcos RibolliAbel Ferreira, técnico do Palmeiras, no jogo contra o Inter.
– Estou de saco cheio desses jogos seguidos, viagens seguidas. (...) Chegar no CT às 4h da manhã, decidir se vou dormir em casa com a minha família ou fico ali. Não quero isto para mim – declarou, no sábado.
Na sequência da entrevista, perguntado se poderia ir embora ainda este ano, respondeu de maneira impaciente que "tem que esperar para ver".
Só que os sinais que Abel passa internamente são contrários a uma saída antes do fim do contrato. O técnico já está "mergulhado" no planejamento para 2024, de acordo com fontes ouvidas pelo ge.
O Palmeiras, inclusive, está acertando os detalhes do primeiro reforço da temporada que vem: Aníbal Moreno, aprovado pela atual comissão técnica.
De tempos em tempos, os empresários de Abel Ferreira recebem consultas do mercado internacional, como o Al Ittihad, da Arábia Saudita, semana passada. A maioria destes contatos nem chega a avançar para uma negociação, param já no estafe do técnico.
Até aqui, não há dentro do Verdão o temor de que o técnico peça para ir embora, pois sempre que pode o português declara que costuma honrar seus vínculos.
Há três anos no Palmeiras, o treinador é unanimidade, a ponto de a presidente Leila Pereira anunciar que deseja renovar seu vínculo até o fim de 2027, caso seja reeleita, ano que vem.
Ainda que sua família esteja vivendo no Brasil e bem adaptada a São Paulo, e o técnico goste muito de trabalhar na Academia de Futebol, há questões que o fazem pensar em ir embora em dezembro de 2024 e de fato tirar um período sabático.
O que deixa Abel "de saco cheio"?
Se dentro do CT do Palmeiras a relação é de muita satisfação, o ambiente externo incomoda bastante Abel – e não é de hoje.
Ele já se sentiu perseguido, especialmente em relação à arbitragem, por entender que outros técnicos com postura parecida são tratados de maneira diferente. O sentimento foi o mesmo em certas críticas a seu trabalho.
O calendário e os problemas do futebol brasileiro, como a qualidade dos gramados, são pontos de desgaste, também. Abel fala frequentemente dos temas, porém, não vê nas principais entidades do país o interesse em melhorar a estrutura.
Imagem: Cesar GrecoAbel Ferreira durante treino do Palmeiras na Academia de Futebol.
– Marcam jogos, tiram jogos, o campeonato acabava no dia 3 e depois acabará no dia 6. Vocês, da imprensa, são os grandes responsáveis para poder mudar isso. Vocês fazem muito bem quando criticam os jogadores, mas precisam criticar a organização. Se fazem isso, eu não ouço. Quem está e quem comanda, ainda não ouviu.
O comandante ainda classificou como "uma vergonha" a sequência de jogos com intervalos entre dois e três dias. Não gostou, também, de no momento de definição da temporada vir a pausa para a Data Fifa de duas semanas. Ele diz ser uma incógnita como isso irá impactar as equipes.
Para piorar, nos últimos jogos que o Palmeiras fez como mandante, precisou de um deslocamento maior, pois o Allianz Parque estava recebendo shows e os jogos foram transferidos para a Arena Barueri. Sempre que pode, Abel reforça: não considera ali sua casa.
– Só quero jogar no Allianz Parque, é a nossa casa. Eu não quero saber da direção e da WTorre, isso não é problema meu, eu quero jogar no Allianz Parque. Se vamos ganhar ou se vamos perder, não sei, mas quero jogar no Allianz Parque. Até no banco não me sinto confortável, não é o banco onde sento. Às vezes, tropeço aqui (sala de imprensa) no fundo. Não é igual, não é igual – repetiu.
E o que faz Abel continuar?
Para o técnico, o ambiente na Academia de Futebol é o oposto do que mais critica no Brasil. Organizado, com profissionais de ponta nos principais setores, além de um elenco que não se acomoda, mesmo com os oito títulos nestes três anos juntos.
Embora a temporada tenha sido acidentada neste ano, com um elenco mais curto do que o costume, as dificuldades no mercado para reforços e as escolhas da comissão que não funcionaram em campo, o Verdão se fechou para reencontrar o caminho das vitórias.
Foi assim que o time venceu seis dos últimos sete jogos no Brasileirão. E assumiu a liderança do campeonato, com mais quatro jogos a disputar.
Com 44%, o Palmeiras é o time com mais possibilidades de conquistar o título, de acordo com o Espião Estatístico.
Se levar o bicampeonato nacional consecutivo, Abel precisará de apenas mais uma taça para virar o técnico com mais títulos da história do Verdão. E assim o clube espera convencê-lo a ver o copo meio cheio e decidir ficar por mais tempo, ainda que a rotina o deixe "de saco cheio".
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