Presença de atletas formados na base cresce 25% em Brasileiro na pandemia

18/01/2021 18h28


Fonte Folha press

Imagem: ReproduçãoClique para ampliarOs motivos para esse aumento vão além de uma política de maior aproveitamento das promessas em detrimento das contratações por altos valores e que nem sempre correspondem ao invest(Imagem:Reprodução)
 A cobrança por um maior aproveitamento de jogadores da base nos clubes do país é recorrente, por parte dos torcedores e daqueles que analisam o futebol. No Campeonato Brasileiro, esse anseio tem sido atendido na temporada estendida de 2020, com um aumento de 25% dessa categoria de atletas em relação ao torneio de 2019.

Levantamento do jornal Folha de S.Paulo, baseado nos 16 clubes remanescentes da edição anterior do Nacional, mostra que até a 29ª rodada da competição em andamento foram utilizados 163 "pratas da casa" –contabilizados apenas aqueles que entraram em campo em ao menos um jogo, e descartados os que voltaram ao time formador após terem sido negociados.

Atlético-MG, Athletico, Bahia, Botafogo, Ceará, Corinthians, Flamengo, Fluminense, Fortaleza, Goiás, Grêmio, Internacional, Palmeiras, Santos, São Paulo e Vasco, juntos, mandaram a campo 130 de suas revelações ao longo das 38 rodadas do Brasileiro de 2019.

Os motivos para esse aumento vão além de uma política de maior aproveitamento das promessas em detrimento das contratações por altos valores e que nem sempre correspondem ao investimento. As razões também diferem de um clube para o outro, já que esse crescimento não aconteceu em todos os times.

Um fator em comum é a pandemia, que paralisou o futebol brasileiro por cerca de quatro meses e criou uma maratona no calendário. Além dos problemas com contágios de atletas, há desgaste físico elevado de peças dos elencos em razão do excesso de jogos em um curto espaço.

Por isso, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) aumentou o limite de inscritos na competição de 40 para 50 por equipe e aderiu à permissão internacional de até cinco substituições por duelo.

O coronavírus também provocou o fechamento dos estádios, o que afeta drasticamente a arrecadação com o chamado "matchday" (ganhos com bilheteria, sócio-torcedor, camarotes e cadeiras cativas, além da comercialização de alimentos e bebidas no dia de jogo) e a possibilidade de gastar em contratações.

Um estudo publicado em maio do ano passado pela consultoria EY estimou que nessas condições os 20 clubes mais bem colocados no ranking da CBF sofrerão perdas financeiras somadas de pelo menos R$ 2 bilhões ao término da temporada 2020.

"Não é só a pandemia. Cada clube tem uma situação diferente. O Santos passou a investir mais na base este ano por causa de uma proibição da Fifa [de contratar]. O Palmeiras veio com a filosofia de investir mais na base. Então, variam muito as circunstâncias", diz Guilherme Bellintani, presidente do Bahia.

O clube do dirigente colocou quatro atletas da base em campo pelo Brasileiro, dois a mais do que em 2019, mas foi até agora um dos que menos aproveitaram jogadores formados em casa dos 16 citados. Só Ceará (1) e Fortaleza (0) tiveram números inferiores.

"Acho que os clubes do Nordeste têm uma deficiência de estrutura histórica. Por serem equipes com menor potencial econômico, não investiram para ter divisão de base. O dinheiro é usado para a solução de problemas de curto prazo, como montagem de time para tentar se manter na Série A ou fazer um elenco mais competitivo", afirma Bellintani.

O mandatário conta que a agremiação baiana inaugurou um novo CT para a formação de jovens no ano passado e coloca como meta ter 40% do elenco profissional originário da base ou do time sub-23 até 2023.

Para Júnior Chávare, diretor das categorias de base do Atlético-MG, os clubes da região fazem parte de um mercado fornecedor de atletas.

"Eu, por exemplo, trouxe três jogadores do Sport. Tenho jogadores que vieram de vários outros clubes. Nos últimos meses, devo ter trazido entre sete e oito jogadores do Nordeste. Então, é um mercado muito fornecedor", relata.

O time mineiro, que iniciou a 30ª rodada em terceiro lugar, utilizou cinco jogadores da base até o momento, o mesmo número da edição 2019.

Por outro lado, a diretoria mineira gastou cerca de R$ 180 milhões em reforços em 2020 para a montagem do elenco do técnico Jorge Sampaoli. Entre eles jogadores experientes, como Keno, 31, e o chileno Eduardo Vargas, 30.

"No caso específico do Atlético, a gente tem de entender que é um processo de reconstrução de conceito. Você tem cinco atletas [da base] no elenco profissional de forma definitiva. Mas nós temos hoje um sparring de cerca de 30 atletas, entre sub-20 e sub-17, que trabalham diretamente com o Sampaoli. Estão sendo observados e inseridos no processo do dia a dia", afirma Chávare.

Do G4 que abre a rodada, o Atlético-MG é o time com menor utilização da base no Nacional. O líder São Paulo usou 10 atletas, o Internacional, 7, e o Flamengo, 14. Os quatro clubes são reconhecidamente fortes no trabalho de formação de atletas, mas há diferenças nas filosofias atuais do futebol profissional.

O Flamengo gastou cerca de R$ 200 milhões para montar o elenco campeão de 2019. Para a temporada 2020, reforçou-se ainda mais. Como exemplo, o clube exerceu em dezembro a opção de compra do atacante Pedro junto à Fiorentina por 14 milhões de euros (cerca de R$ 87 milhões).
Com o elenco recheado de estrelas, o espaço para os jovens diminui. Dos 14 atletas formados na Gávea, nenhum é titular, apesar de Cesar e Hugo atuarem na vaga do goleiro Diego Alves com frequência.

Esse número também se deve ao surto de Covid-19, que tirou 20 atletas do confronto com o Palmeiras, em 27 de setembro, e obrigou a escalação de peças do sub-20 para o time poder entrar em campo.

Já no São Paulo, jovens formados em Cotia como Gabriel Sara, 21, Igor Gomes, 21, e Brenner, 20, são titulares e fundamentais para a campanha do líder –o aproveitamento de jovens caiu de 14 para 10.

Assim como Flamengo, o Palmeiras investiu altos valores na contratação de reforços nos últimos anos, mas, após encerrar 2019 sem títulos e com um alerta na situação financeira, o presidente Maurício Galiotte decidiu pelo maior uso de sua premiada base.

"Nos últimos anos, a gente gastou R$ 90 milhões com a base e vendeu R$ 284 milhões. Alguns atletas que poderiam ser aproveitados aqui, mas a consolidação vem no momento certo. No ano passado, muitos subiram para o profissional. É um caminho sem volta", afirma João Paulo Sampaio, gerente da base alviverde.

A equipe já utilizou nove atletas formados em casa no Brasileiro, sete a mais do que na edição de 2019. Entre eles estão Gabriel Menino, 20, que figurou nas últimas convocações de Tite para a seleção, Gabriel Veron, 18, Patrick de Paula, 21, e Danilo, 20.

Rival dos palmeirenses na final da Libertadores, o Santos é o recordista do levantamento, com 20 meninos da Vila no elenco profissional (foram 7 em 2019) que atuaram pelo Nacional. Kaio Jorge, 18, e Lucas Veríssimo, 25, são destaques do time de Cuca.

Notório revelador de joias em sua história, o clube da Baixada Santista teve um motivo a mais para apostar na base em 2020, além da crise financeira que o aflige. Em razão de dívidas com clubes do exterior, o Santos foi proibido pela Fifa de contratar jogadores.

"Em 2020, quando a pandemia chegou, os contratos já estavam feitos. Agora, neste 2021, é que os clubes vão aproveitar mais a base", acredita Bellintani, presidente do Bahia.


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