VerÃssimo afirma que cobrou Corinthians para assinar, revela ameaças e diz: "Vi desrespeito"
30/01/2024 15h03Fonte ge
O zagueiro Lucas Veríssimo apresentou sua versão sobre a saída do Corinthians, em entrevista exclusiva ao ge, e disse ter visto descaso e desrespeito na postura do clube com ele.Segundo Veríssimo, ele fez diversas cobranças ao Corinthians para assinar o novo contrato com o clube, que estava apalavrado desde dezembro, mas não foi atendido. De acordo com o zagueiro, neste período houve várias promessas do diretor de futebol Rubens Gomes que acabaram não se cumprindo.
A versão do jogador é diferente do que alega o Corinthians. O presidente Augusto Melo chegou a dizer que o jogador "ficou enrolando" para assinar o novo vínculo, algo negado por Veríssimo..
Imagem: Rodrigo Coca/Agência CorinthiansLucas Veríssimo em treino do Corinthians em 2023.
Nesta entrevista, Lucas Veríssimo ainda revela que o Corinthians não lhe pagou direitos de imagem, explica por que foi seduzido pelo projeto esportivo do Al-Duhail, do Catar, e comenta o sonho de voltar a vestir a camisa da seleção brasileira. Veja abaixo:
Você pode contar, passo a passo, como se deu a negociação com o Corinthians? O clube já dava como certa a sua compra junto ao Benfica, mas isso não se confirmou.
– Em dezembro, um pouco antes de acabar o campeonato já começaram as tratativas, o Duilio estava fazendo a transição da presidência. Essas tratativas se estenderam por cerca de um mês. No dia 27 ou 28 eles tiveram o "ok" do clube e da minha parte, estava tudo certo até então. O Benfica enviou documentos para o Corinthians e aguardava um retorno, algo normal na transação. Houve uma demora para esse retorno. Havia uma data de vencimento para assinar esse documento, era dia 15. Antes de a gente se reapresentar, me falaram que esse contrato seria assinado, que eu renovaria com o Corinthians. Pediram para eu esperar. Nós nos apresentamos dia 7, começaram os treinos, e os dias foram passando, as coisas não foram acontecendo. Cobrei meu estafe (grupo liderado pelo empresário Paulo Pitombeira) e dentro do clube fui cobrando também o Rubão pela oficialização desse contrato. Nesse meio tempo teve a apresentação da VaideBet, que gerou um meme até, vi isso na rede social. O presidente fala que uma das primeiras coisas que ele fez foi a compra do Lucas Veríssimo, tanto que eu acho estranho e olho para ele. Pegarem esse corte para brincar na rede social. Mas não tinha nada certo, estava tudo apalavrado, mas nada assinado.
– Os dias iam passando e nada acontecendo, comecei a achar estranho. Já vivi muita coisa no futebol, positiva e negativa. Tive inúmeras promessas no futebol que não foram cumpridas, seja por lesão ou por mentira mesmo, incapacidade do profissional, enfim... Inúmeras promessas que não foram cumpridas. Quando começou a estender, as coisas não acontecerem, eu fiquei preocupado. Já tive uma lesão séria que me tirou muita coisa no futebol. A partir do dia 7 comecei a cobrar o clube e o meu estafe. Ficaram de passar para jurídico, advogado, e as coisas não aconteciam. Até que na semana do dia 15, quando a gente iria estrear (no Paulistão), na segunda-feira houve um contato comigo do Rubão. Ele falou que a gente iria assinar o contrato. Eu falei: "Perfeito, a gente mata isso hoje e vida que segue". Passou o dia, o clube oficializou quatro atletas, e ninguém falou nada do meu contrato. Cobrei o Rubão, que falou que tinha alguma falha que o jurídico iria resolver. Passou terça-feira, quarta-feira, as coisas não aconteciam. Até que recebi o contato do Catar, me apresentaram o projeto, que eu achei muito bom, uma liga que já está crescendo e vai crescer ainda mais, me colocaram nesse patamar de fazer uma evolução na liga e isso me agradou bastante. Resolvemos nossa parte e, como o Corinthians já tinha perdido o "timing" do dia 15, o Benfica me contatou também, eu soube do que estava acontecendo e dei o "ok".
Você mencionou o evento da VaideBet. Depois da sua saída, muita gente especulou que no dia daquele evento você já tinha proposta do Catar. Mas, pelo que você conta, a oferta chegou só depois, é isso?
– Exatamente. Ali, na verdade, minha intenção de olhar para ele era que ele olhasse no meu olho e visse que era uma forma de cobrar. Era o que eu vinha fazendo, cobrando para assinar o contrato. Quando ele anuncia isso, a primeira coisa que fez depois que assumiu foi essa entrevista para anunciar um grande patrocinador, ele anuncia essa compra. Quando ele fala, eu olho para a gente trocar olhares e ele sentir: "Bem, vamos assinar então, né?". Não teve isso. Não teve deboche como falaram, pelo contrário, até então não tinha nada, só veio aparecer nesses dias que eu falei (18 de janeiro).
Como foi para você tomar essa decisão de trocar o Corinthians pelo Catar. Houve uma rápida identificação entre você e o clube, a torcida pegou um carinho por você. Teve dúvidas sobre a saída ou prontamente entendeu que a proposta do Al-Duhail era a melhor pra você e para a sua família?
– Sou atleta profissional, já vivi muita coisa de promessas, coisas que não aconteceram. Tive lesão séria. Isso foi na sexta-feira, quando perdi o treino aberto (do sábado). Quando vai ter aquele treino aberto, peço para não treinar porque já tinha a situação rolando, não gostaria de ir para evitar lesão e tudo mais. Eu falei que não entraria em campo sem a gente ter assinado esse contrato, sei como é ter lesão séria. Não foi momento bom para mim, e entrando em campo eu iria correr esse risco (de machucar). Mas o clube não sei se tinha outras prioridades, acabou perdendo o timing do negócio. O controle passou para o Benfica, que entrou em contato comigo e me falou da situação. Depois tratei com meu estafe e nos resolvemos.
Como foi a conversa para avisar o Mano Menezes sobre a sua saída?
– Cheguei nele, falei da situação que estava acontecendo, que chegou proposta para mim muito boa, que o projeto era bom, tinha que pensar nesse momento em mim. Expliquei tudo para ele, a mesma coisa que estou explicando agora, que cobrei o pessoal, fiz isso, que só faltava assinar. Expliquei a situação para ele. No meu ponto de vista, não estou sendo errado na história. Estava emprestado, teria que voltar para o Benfica em seis meses, chega a proposta... Primeiro teve a renovação, eles iriam me comprar. Beleza, estava tudo ok, mas volta de férias e não tem essa concretização da compra.
– Uma coisa é falar, outra é fazer. Já vivi muita coisa que foi falada e não foi concretizada. As coisas foram passando, vi desrespeito. Essa foi a sensação, senti desrespeito com minha pessoa, descaso.
– Foi passando tempo, as coisas não aconteceram e fiquei preocupado, cobrei muito meu estafe para eles falaram com o clube e ver por que estava demorando. E aí quando chegou o Catar e apresentou um projeto bom e vantajoso, vou fazer o quê? Qualquer um na minha situação veria aquilo como uma baita oportunidade. Eu fiz tudo correto, comuniquei o clube e a comissão.
Essa comunicação foi bem antes do treino aberto?
– Na segunda-feira, o Rubão chegou em mim e falou que iria assinar o contrato à tarde. Fora as outras conversas que a gente teve. Mas nesse dia ele falou: "Hoje à tarde você assina". Só que nessa tarde eu não assinei, eles apresentaram os jogadores e o único contrato que não foi assinado foi o meu. Eu já vinha preocupado e nesse dia fiquei muito mais. A gente não tem essa assinatura, passa terça, quarta e aí na quarta ou na quinta-feira teve essa situação do Catar. Houve uma ligação do meu estafe que me apresentou o projeto, me apresentou o plano que tinha. Até achei estranho, até então eu iria permanecer no Corinthians. Na sexta teve o treino pela manhã e pedi para não participar, porque já não estava no controle do Corinthians, passou para o Benfica. Seria só se o Corinthians cobrisse a proposta. Tinha isso na mão do Corinthians, mas o clube não quis ir adiante.
O Corinthians atrasou pagamentos ao longo do período em que você defendeu o clube?
– Sim, eu não recebi nenhum mês de pagamento de direito de imagem. Salário CLT foi pago, mas imagem e FGTS não. Uma coisa que eu ouvi até de outros atletas é que a antiga diretoria tentava cumprir sempre com a CLT. Isso ficou em dia, mas a imagem ainda não recebi até hoje.
Você falou que sentiu descaso e desrespeito. Isso ficou direcionado na figura do Rubão, que era quem tinha mais contato com você, ou foi geral do Corinthians?
– Não tive contato com o presidente, era só "bom dia, boa tarde". Ele não sentou para conversar isso comigo. Nem depois. Não fez esforço algum. Claro, o Rubão, o cara com quem conversei e que eu cobrava o contrato desde o início.
Depois que você saiu muita coisa foi dita. O presidente Augusto Melo chegou a citar uma frase que você também utilizou em seu texto de despedida: "Maldito o homem que confia em outro homem". A forma como o caso foi conduzido deu essa sensação de desrespeito?
– Esse é o motivo de eu ter vindo aqui falar. Não sou um cara de fazer entrevistas, você sabe disso, gosto do campo, do vestiário, onde eu tenho que falar é ali. Mas a partir do momento que estou sendo massacrado, recebendo ameaças, minha família recebendo ameaças, tenho que mostrar meu lado para que entenderem. Não acho correto ameaçar, independentemente de qualquer situação, acho isso errado. Mas estou falando pelo menos para entenderem meu lado.
– Vivi uma coisa ali que foi um sonho. Vivi seis meses intensos, tive identificação com Corinthians e torcedor, estava vivendo um sonho. O time brigou por rebaixamento e viveu um momento ruim, mas quando eu cheguei estávamos brigando em dois campeonatos, Copa do Brasil e Sul-Americana. Foi um namoro que estava dando certo, estava muito bom. Tiro esse peso de mim porque fiz minha parte, fiz um esforço para resolver a situação. Agora o por que não resolveu teria que perguntar para eles. Tive que vir aqui falar porque não ficou legal para mim e para a minha imagem, sou um profissional que gosta das coisas certas. Quando você dá sua cara e mente algo, foi mentiroso isso, eu tenho que vir e falar.
A mentira a que você se refere é o Corinthians dizer que o contrato estava contigo e que você não respondeu?
– Exato. Eu cobrava o Corinthians, queria celebrar o novo contrato, meus familiares iriam até São Paulo para poder comemorar essa conquista. E, infelizmente, isso não aconteceu.
Você disse que no dia 15 houve uma promessa de que seu contrato seria assinado naquele dia. Depois teve uma explicação do Corinthians da razão para isso não ter acontecido?
– (O Rubão) Só disse que ia conversar com advogado, não sei o que, deu uma desculpa. Acho que iria tratar com advogado, algo nesse sentido, que teve um erro e que iriam tratar no jurídico.
Há pouco, você mencionou ter recebido ameaças. Pode contar o que aconteceu?
– Com a minha família teve ameaça presencial, dedo no rosto, algo que não achei legal. Minha mulher estava com a amiga dela e chegaram dois indivíduos apontando dedo no rosto dela e perguntando: "Você é a mulher do mercenário?". Eles começaram a segui-las, tiveram que chamar o segurança. Eu me senti mal por isso, o que a gente quer é que nossa família esteja bem sempre. Quando fiquei sabendo disso, não curti, foi uma das coisas que me fizeram falar para ver se isso diminui. Talvez os indivíduos não fizessem nada, mas minha esposa chegou em casa em choque, me ligou em choque. Sem falar em rede social o tanto de ameaça e mensagem desagradável que a gente recebeu. Por isso quis trazer aqui meu lado da história. Acho que esses são marginais, isso não se faz com ninguém, independente de qualquer coisa.
Há pouco, você mencionou ter recebido ameaças. Pode contar o que aconteceu?
– Com a minha família teve ameaça presencial, dedo no rosto, algo que não achei legal. Minha mulher estava com a amiga dela e chegaram dois indivíduos apontando dedo no rosto dela e perguntando: "Você é a mulher do mercenário?". Eles começaram a segui-las, tiveram que chamar o segurança. Eu me senti mal por isso, o que a gente quer é que nossa família esteja bem sempre. Quando fiquei sabendo disso, não curti, foi uma das coisas que me fizeram falar para ver se isso diminui. Talvez os indivíduos não fizessem nada, mas minha esposa chegou em casa em choque, me ligou em choque. Sem falar em rede social o tanto de ameaça e mensagem desagradável que a gente recebeu. Por isso quis trazer aqui meu lado da história. Acho que esses são marginais, isso não se faz com ninguém, independente de qualquer coisa.
Depois que a proposta do Catar chegou, você teve alguma conversa com a diretoria? Tentaram te segurar?
– Tive sim conversa, o Rubão sentou para conversar comigo. O presidente nunca tentou conversar comigo, mas o Rubão sim. Falei para ele que o projeto que me foi apresentado era muito bom, salário também. Eu já não iria voltar atrás, tinha dado minha palavra. Não foi uma tentativa para permanecer, foi mais uma conversa para ele entender o que eu tinha decidido.
O Corinthians alega que na verdade foi você que não respondeu o clube e não o contrário. Isso foi dito a você também?
– No último dia ele (Rubão) veio falar essa historinha que começaram a vender na imprensa, do dia 4 e tudo mais... Ele veio falar isso, mas não tem cabimento. Meu estafe cobrou por mais de 20 dias. Eu cobrava meus empresários para também cobrarem o Corinthians.
Muito foi falado também sobre a postura do seu empresário, Paulo Pitombeira. Acha que ele conduziu o negócio de forma correta?
– Acho que sim, o Paulo ficou em cima da diretoria para fazer as assinaturas. Eles passavam tudo para mim. A partir do momento que chega a proposta para o Benfica, eles também são contatados. Ficaram sabendo, me passaram, estava tudo ok. Não teve erro ou falha, eles cumpriram o que tinha que ser feito. Não teve falha nem com Corinthians, nem com Benfica. Até porque vinham cobrando o Corinthians. Pelo que eu soube, se propuseram até a ajudar na parte jurídica deles.
O que pode dizer para o torcedor corintiano nesse momento?
– Eu tive uma identificação grande com o Corinthians, vivemos esse período intensamente. Foi tudo muito bom, agradeço de coração por terem me acolhido. Foi uma troca muito boa nesse período. Só tenho a agradecer. Infelizmente, a saída não é das melhores, o Corinthians poderia ter tentado me comprar para depois vender. Poderia ter sido diferente, mas foi da maneira que tinha que ser. Só tenho a agradecer, estou de longe, mas torcendo para o melhor do Corinthians.
Você esteve na Seleção no último ciclo de Copa, mas acabou não indo para o Catar por conta da grave lesão que sofreu no joelho. Ainda pensa em voltar? Acha que essa ida para o Catar pode ajudar ou atrapalhar?
– Ainda tenho esse sonho, vou manter esse sonho, vivi lá dentro, sei como é, gostaria de voltar. Vim para uma liga que está crescendo, a Arábia vem fazendo isso, aqui também está fazendo: estão qualificando, trazendo jogadores de qualidade. Éles me apresentaram projeto de liga competitiva, forte. Eles alcançando esse patamar, eu teria chance de estar nesse radar. Aqui estão vindo vários atletas, Thiago Mendes, Roger Guedes, Verratti, Coutinho, Draxler, é muito legal o que estão fazendo aqui. O projeto esportivo me cativou bastante e me fez vir para cá.
O Dorival Júnior é um velho conhecido seu. A chegada dele na Seleção dá mais esperança de voltar a ser convocado?
– Sim, eu trabalhei com ele, tive esse privilégio. Ele que me revelou, conhece bem minhas características, sabe o que eu posso agregar. Vim para o Catar para continuar sendo o profissional que sempre fui. Mantenho esse sonho da Seleção.
Quais as suas primeiras impressões do Catar?
– As primeiras impressões são as melhores possíveis. É um país muito moderno e seguro, isso entra na minha decisão. É muito bom aqui, estou gostando demais. Minha família quando chegar também vai gostar. O projeto desportivo que me foi apresentado foi muito bom, eles colocam que a liga vai continuar progredindo nos próximos anos e colocaram meu nome para fazer parte dessa evolução, achei isso um privilégio, uma honra enorme. Estou gostando, vai ser muito bom desfrutar do país e do futebol. É uma liga que já tem grandes jogadores, já vem contratando jogadores de nome. Estou muito feliz de poder fazer parte desse progresso.
Você foi recepcionado por outros atletas brasileiros. Isso ajuda?
– É muito bom, até para adaptação é fundamental. Na minha equipe tem dois atletas brasileiros, o Luiz Ceará e o Philippe Coutinho. Mas eu já conhecia o Róger Guedes, o Thiago Mendes, e o Gabriel Pereira eu conheci aqui. A gente conversa bastante, vai pegando dicas para não chegar às cegas.