Poeta e Educador Da Universidade Estadual do PiauÃ-UESPI fala dos seus sete anos de Solidão
19/07/2010 17h47As leituras de Nietzsche evidenciam que o Homem vive sete solidões em cada ciclo de sua existência. É como se a cada ciclo a existência de si tornasse o indivíduo mais forte para perceber os axiomas da alteridade que circunda suas profundas angústias. Outro grande homem chamado Gaston Bachelard falava de certa existência da angústia e o próprio Foucault enuncia um reconhecimento maior do eu pela própria existência de si. O fato é que todos os grandes homens vivem muitos e remotos ciclos transcendentes e diversos períodos de imanência.
É importante transcender para poder amadurecer. Vejo esses últimos sete anos de solidão, como algo que me transpuseram enormes vitórias, profundas angústias e significativos amadurecimentos simbólicos. Afinal, vivemos em tempos onde se é importante perceber as dimensões do capital cultural definindo as fronteiras do discurso social. E porque não pensarmos numa era Pós-moderna recheada de poucas reflexões, carente de afetos, onde a impermanência invade os indivíduos de pessimismos estonteantes, indefinidos e empobrecedores.
Sete anos vivi de solidão, incompreensões, paixões, contemplações e tormentos. Mas estamos falando da maior e mais incrível aventura vivida ao longo de grandes fugas. A fugacidade parece ser o grande dilema. Nestes sete anos últimos, os ingredientes são infalíveis: chego a poetizar o cotidiano proclamando que nas minhas angústias, as fatalidades são sempre sinceras. Não consegui ser outro, se não aquele que intensamente “amou, foi poeta e sofreu pela vida...”.
Agora é hora de sacramentar a famosa Lei do Eterno Retorno do filósofo Nietzsche. Tudo se converteu em uma grande biografia de aprendizado.
Quando no alvorecer da partida desta Cidade Proibida, quero pensar que aqui fui feliz, amei, vi meus sonhos serem desfeitos, mas construi longos laços de afeição, consideração e compreensão na difícil temperança do conviver. Nisto, aprendi a ser e a fazer. Fui levado a entender que “O caráter de um Homem é o seu destino e o fim depende do começo” como diria Sócrates. O mesmo Sócrates nos diria ainda sem modéstia: “O importante não é viver, mas viver corretamente”. Afinal, o que seria do indivíduo sem sua própria práxis produzindo o diálogo como a essência da construção do seu próprio pensamento. Penso nessas experiências de aprendizagem como o lugar que fala dos acontecimentos; o lugar que produz sentidos; o lugar que escreve saberes; o lugar que tem que contar a história do fazer e do não esperar; o lugar do protagonismo e da libertação.
Este é o lugar para rever preconceitos e falar de uma fuga que durou sete anos. Nessa fuga, pelo interior do Brasil, me aventurei atravessando dilemas, enfrentando rejeições, baixas temperaturas e todos os perigos imagináveis. Fui aceito como tutor de si e fiquei exposto a maior de todas as misérias enfrentadas por um ser desta espécie: permanecer intensamente solitário!
É hora de pensar no ciclo que se fecha, na década que se finda, nos desassossegos conquistados e na extrema descoberta do eu - lírico, de alguém que só queria ser Poeta e fazer parte do plano dos afetos, mesmo quando os afetos te levavam ao sofrimento e ao desengano.
Fui feliz em minhas grandes verdades. Fui planetário, elegante, eloqüente, majestoso, iluminado, fragmentado, desintegrado, unificado, democrático, intolerante, amado, odiado e diferenciado. Agora quero pensar como Augusto Cury para entender que “Nada melhor para fracassar na vida do que reclamar muito. Não sobra energia para criar oportunidades”.
Já se faz premente uma nova produção de saberes: preciso ensinar a ser, preciso ensinar a conviver, preciso ensinar a fazer para que minhas ações propositivas gerem transformações e evoluções íntimas; onde o global e o local sejam relevantes para a minha própria formação como sujeito.
Aprendi a ser e ocupei um lugar social; fui ético com meus princípios e ensinei compreensões. Aprendi a fazer e ressignifiquei os espaços; enfrentei minhas próprias incertezas históricas; compreendi minha identidade terrena e fui sistêmico, ordenado, desordenado.
O que me reserva agora nesta fronteira imaginária? Espero ter conseguido relevância; ter sido significativo e encontrar sentido em outras experiências de aprendizagem. Sei que sou agente de minha própria transformação cultural; quero possuir uma linguagem atemporal e sonhar sempre com a esperança para não ser engolido por este modelo de sociedade indiferente, que convive com a permanente saturação dos valores numa era de extremos que nega possibilidades. Sartre nos lembra que “O importante não é saber o que fizeram do Homem; o importante é saber o que ele faz daquilo que fizeram dele”.
Sei que estou ficando cansado de sonhar e já vejo como os olhos de Michel Foucault quando refletia as lições dos hospitais e proclamava para os cegos da modernidade tardia que “O discurso do mundo passa pelos olhos abertos, e abertos a cada instante com que pela primeira vez”.
Gênesis Naum de Farias
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