BH receberá projeto que introduz a bactéria no mosquito Aedes aegypti
23/07/2017 08h15Fonte Agência Brasil
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Um projeto inovador voltado para reduzir a transmissão da dengue, da zika e da febre chikungunya está previsto para ser desenvolvido em Belo Horizonte em meados de 2018. Trata-se da introdução da bactéria Wolbachia no mosquito Aedes aegypti, vetor das doenças, e que é capaz de evitar que os vírus sejam transmitidos para os seres humanos durante a picada.
O projeto Eliminar a Dengue: Nosso Desafio (Eliminate Dengue: Our Challenge) é um projeto internacional sem fins lucrativos que surgiu na Austrália e usa a bactéria Wolbachia. Atualmente há trabalhos de campo do projeto em cinco países e outros três estão se articulando para aderir. No Brasil, ele foi trazido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com o apoio do Ministério da Saúde. A iniciativa está entre os trabalhos científicos apresentados na 69ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que ocorre ao longo dessa semana na capital mineira.
No Brasil, os trabalhos começaram em duas áreas pequenas: em Jurujuba, bairro de Niterói; e em Tubiacanga, bairro do Rio de Janeiro. A liberação de mosquitos com a bactéria começou em agosto de 2015 e se encerrou em janeiro do ano passado. Desde então, vem ocorrendo um monitoramento semanal, com mosquitos sendo coletados em armadilhas e levados ao laboratório para verificar se possuem a Wolbachia.
Autosustentabilidade e segurança
"Mais de um ano e meio após nós pararmos de liberar mosquitos nestas duas localidades, uma vez que mais de 90% deles contêm a bactéria. Isso comprova a autosustentabilidade do projeto. Não precisamos ficar voltando à mesma área para fazer novas liberações", explicou o pesquisador da Fiocruz Luciano Moreira, coordenador do projeto no Brasil.
Dados similares também foram constatados na Austrália onde, nas áreas onde os trabalhos começaram, em 2011, perto de 100% da população do Aedes já registra a Wolbachia.
Isso ocorre porque a fêmea do Aedes que possui a Wolbachia em seu organismo irá transmiti-la a todos os seus descendentes, mesmo que se acasale com machos sem a bactéria. Além disso, quando apenas o macho possui a Wolbachia, os óvulos fertilizados morrem. Dessa forma, a bactéria é transmitida naturalmente para as novas gerações de mosquitos.
Moreira destaca que o projeto não envolve nenhuma modificação genética, nem no mosquito e nem na bactéria. Além disso, a iniciativa não elimina o mosquito do meio-ambiente, apenas substitui uma população capaz de transmitir doenças por outra incapaz. "É uma iniciativa totalmente segura. Estudos já mostraram que a Wolbachia não oferece riscos à saúde humana, ainda que o mosquito pique uma pessoa".
De acordo com o pesquisador, a Wolbachia está presente naturalmente em 60% dos insetos, mas não no Aedes aegypti. O que o projeto faz é uma introdução artificial da bactéria no mosquito. "Quando o Aedes com a bactéria pica alguém que está com dengue, zika ou febre chikungunya, ele adquire o vírus. Mas esse vírus precisa se replicar dentro do mosquito. Para isso, ele precisa entrar nas células onde as bactérias já estão. O que provavelmente acontece é uma competição entre a bactéria e o vírus por nutrientes e outros componentes que ambos necessitam. E no final a Wolbachia, que já estava instalada ali, vence a disputa", explica.
Próximo passo
O próximo passo do projeto no Brasil é a sua expansão no Rio e em Niterói, já que as áreas atingidas até então nestas duas cidades envolviam populações pequenas, entre três e quatro mil pessoas. Em Niterói, já estão sendo liberados mosquitos em uma área com 270 mil habitantes.
No Rio de Janeiro, o trabalho começa em agosto, em dez bairros. Nos meses seguintes, outras regiões da cidade serão incluídas e a previsão é que, até o final de 2018, o projeto já tenha alcançado uma área onde vivem 2,5 milhões de pessoas. A preparação já começou, através de campanhas de comunicação visando o esclarecimento e o envolvimento da população, cujo apoio é essencial, pois algumas casas recebem armadilhas para coleta dos mosquitos.
A inclusão de Belo Horizonte no projeto no ano que vem começará pela região da Pampulha e pela região norte, áreas que têm cerca de 840 mil habitantes no total.