Brasil investiga pelo menos quatro casos de mucormicose
06/06/2021 08h00Fonte G1
O Brasil investiga pelo menos quatro casos de mucormicose, entre eles duas mortes, associadas à Covid-19. A doença ficou popularmente conhecida como "fungo preto" após ser registrada em cerca de 9 mil pacientes de Covid-19 na Índia. Casos teriam ocorrido no Mato Grosso do Sul, Amazonas, São Paulo e Santa Catarina, com duas mortes suspeitas da doença.
No Mato Grosso do Sul, um idoso de 71 anos, que estava internado desde 18 de maio, com quadro grave de Covid, em Campo Grande, apresentou 12 dias depois lesão necrótica na pálpebra do olho esquerdo e faleceu na última quarta-feira.
Em Manaus, um homem de 56 anos, morreu em abril passado quatro dias depois de ser internado com quadro de gripe e prurido no olho direito. O teste RT-PCR, feito no dia da internação, teve resultado negativo para coronavírus. Os dois eram portadores de diabetes, comorbidade de risco tanto para Covid-19 quanto para a infecção por fungo.
A Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado confirmou o caso de mucormicose em Manaus. O resultado do exame feito no paciente de Campo Grande, no dia 31 de maio, ainda não ficou pronto, mas a superintendente de Vigilância em Saúde da prefeitura, Veruska Lahdo, afirma que a lesão era compatível com a doença.
— O quadro do paciente era instável e progrediu rápido. O tratamento da mucormicose com antifúngico é longo, demorado — explica Lahdo.
Segundo o infectologista Vinícius Ponzio, da Universidade Federal de São Paulo e do Hospital 9 de Julho, o desenvolvimento da mucormicose ocorre em pessoas com baixa imunidade - seja por diabetes não controlada ou em pacientes transplantados de medula e órgãos sólidos. Há ainda possibilidade de adquirir o fungo em tatuagens e traumas por acidentes de moto, por exemplo.
Ponzio explica que mais de 10 tipos de fungos presentes no meio ambiente causam a doença, que é de difícil diagnóstico.
— A mucormicose é mais comum nos seios da face, nos olhos e no nariz, mas pode atingir o cérebro, pulmão e intestino. No caso de pacientes com Covid, 90% dos casos ocorrem no nariz e nos seios da face, provocando dor de cabeça e febre. Os primeiros sintomas são nariz tampado e secreção escura, com eliminação de placa escura devido à necrose. No caso do olho, há dificuldade para enxergar, com manchas escuras na visão — explica Ponzio.
O tratamento, segundo ele, dura pelo menos seis meses e o diagnóstico precoce é o mais importante, para evitar a necrose dos tecidos infectados pelo fungo. O tratamento é feito com doses altas do antifúngico Anfotericina B. É preciso ainda controlar as doenças de base, como diabetes e, no caso de pacientes com Covid-19 reduzir o uso do corticóide.
— O controle do foco de infecção é cirúrgico e é preciso retirar a área necrosada. Por isso, é uma doença mutilante — diz Ponzio.
Os outros dois casos suspeitos foram registrados em Santa Catarina e São Paulo. Em Joinville, um homem de 52 anos teve diagnóstico de Covid-19 confirmado em fevereiro passado. Ele tem diabetes e artrite reumatóide e depois da alta apresentou infecção facial, que prejudicou a visão. Em São Paulo, a mucormicose é investigada pelo Hospital das Clínicas num paciente na faixa dos 30 anos com histórico de Covid prévio.
A taxa de letalidade da mucormicose é de cerca de 50%. Na Covid-19, segundo Ponzio, enquanto a taxa de letalidade gira em torno de 2% a 7%, se o paciente contrai a mucormicose sobe para 40%.
O nome "fungo negro" é errado, pois trata-se de uma denominação genérica para uma classe de fungos. O nome correto é mucormicose, por ser uma micose causada por uma dos principais espécies do fungo, que é o Mucor.
Ponzio afirma que a doença não é transmitida entre seres humanos e na maioria dos casos não está ligada ao rol de infecções hospitalares, embora isso possa ocorrer. Segundo ele, o Brasil tem baixa incidência da doença - 0,2 caso por 100 mil habitantes. Na Índia, onde ocorreu a maioria relatos de casos associados à Covid, essa taxa é de 14 por 100 mil habitantes. O país tem ainda o segundo maior número de diabéticos do mundo, atrás apenas da China. Em Portugal, taxa chega a 9,5. Nos EUA também fica acima do Brasil, com 0,4.
O Ministério da Saúde informa que não tem série histórica sobre mucormicose, pois a doença não é de notificação compulsória. Com base na distribuição anual dos pacientes usaram o Complexo Lipídico de Anfotericina B para o tratamento da doença, de janeiro de 2018 até hoje foram registrados um total de 137 casos da doença no Brasil - 2019 apresentou o maior número de registros, 47 casos. Em 2018 e 2020 foram, respectivamente, 25 e 36 casos.
Este ano foram registrados 29 casos, dois quais apenas quatro após infecção por Covid-19. Eles foram registrados em Araguaína (PA), Fortaleza (CE), Natal (RN) e São Paulo (SP).
O infectologista Marco Aurélio Sáfadi , da Santa Casa de São Paulo, afirma que a doença é oportunista e atinge principalmente os grupos de risco. Segundo ele, casos graves de mucormicose foram registrados em diabéticos, com Covid-19 e que usaram corticóides em doses altas e por tempo prolongado.
— O fungo está presente no mundo todo. A situação se agrava em ambientes mais insalubres, com material orgânico em decomposição. Para manipular esse tipo de material é preciso usar luva e máscara, amenizando a exposição. Mas para indivíduos saudáveis não vai acontecer nada e a doença não passa de uma pessoa para outra — ressalta.
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