Relatório da ONU associa pobreza com aumento de risco para ansiedade e depressão
17/11/2024 20h00Fonte ClubeNews
Imagem: Marcelo Camargo/Agência BrasilRelatório da ONU diz que pobreza aumenta risco de ansiedade e depressão.
Um relatório divulgado recentemente pela Organização das Nações Unidas (ONU) apontou que pessoas em situação de pobreza têm três vezes mais chances de desenvolver problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão.
Segundo o relatório “Economia do Burnout: Pobreza e Saúde Mental”, cerca de 11% da população mundial sofre com algum transtorno mental.
De acordo com o relator especial das Nações Unidas e autor do relatório, Olivier De Schutter, esse cenário está relacionado à obsessão pelo crescimento da economia e à busca de riqueza, levando as pessoas a se submeterem a jornadas exaustivas de trabalho e a condições de trabalho precárias.
O Portal ClubeNews conversou com o psicólogo Mateus Rodrigues para entender melhor os efeitos que a pobreza e suas consequências, como jornadas exaustivas de trabalho e insegurança alimentar, podem ter na saúde mental das pessoas.
“Os principais fatores que levam a um estado de estresse para pessoas em situação de pobreza são que elas vão estar de frente com o processo de uma renda totalmente comprometida, em insegurança alimentar, em moradias precarizadas e também vão estar muito expostas à violência no cotidiano e à discriminação, seja pela aparência ou por serem majoritariamente pessoas negras, pessoas LGBT e de outros grupos minoritários. Além disso, há o processo da renda em si. Isso pode gerar muita insegurança, estado de alerta constante e, principalmente, a sensação de estar impotente”, disse.
Segundo o psicólogo, além da instabilidade financeira, jornadas de trabalho exaustivas podem contribuir negativamente para prejudicar a saúde mental do trabalhador, causando uma série de sintomas psicológicos e físicos.
“A insegurança financeira terá um impacto que causa ansiedade e depressão, pois surge um processo de incerteza quanto ao futuro, e todo esse processo traz um estado de alerta, provocando ansiedade e preocupações com o sustento próprio e da família. Essa situação, somada ao processo de exaustão no trabalho, pode causar fadiga extrema, distúrbios de sono, enxaqueca, tensão muscular, alterações no apetite e até problemas gastrointestinais. É um esgotamento físico e emocional tão elevado que pode levar ao burnout, que é o esgotamento extremo”, comentou.
Nos últimos dias, a discussão sobre uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para alterar a escala de trabalho no Brasil, atualmente no modelo 6×1, tem tomado as redes sociais. Para Mateus, uma diminuição da carga de trabalho ao nível nacional pode representar um grande avanço nas políticas de garantia da saúde mental dos brasileiros, especialmente para aqueles que possuem menor renda e, por consequência, acabam tendo que trabalhar mais.
“A diminuição da jornada de trabalho, que está sendo proposta no Congresso, pode ter, sim, um impacto positivo sobre a saúde mental das pessoas que possuem menor renda. Pode proporcionar a essas pessoas mais equilíbrio de vida, mais descanso, relaxamento mental, uma conexão com a família e com sua rede de apoio, com mais tempo para vivenciar isso. Quem vive essa experiência vai contribuir até mesmo para o trabalho ser mais produtivo, ter uma satisfação maior e um esgotamento mental menor”, completou.
O profissional mencionou que são necessárias uma série de medidas para minimizar os danos que a falta de renda e as jornadas de trabalho exaustivas causam na vida das pessoas, passando por exercícios físicos, técnicas de relaxamento e até terapia com psicólogo.
“Temos uma série de estratégias [para contenção de danos] que podem incluir técnicas de relaxamento, apoio social entre o grupo de trabalhadores, em que todos se ajudam, não deixando um trabalho pesado para o outro, escutando uns aos outros de forma verdadeira, estabelecendo esse apoio social no ambiente de trabalho. Também é importante procurar a terapia, pois é preciso falar, cuidar-se e olhar-se. Em casos extremos, buscar outros profissionais, como psiquiatra e fisioterapeuta. Mas um dos pontos mais importantes é a terapia, que, mesmo sendo algo às vezes de um valor elevado, existe no SUS, que é uma porta de entrada para cuidar da saúde de várias formas, incluindo a saúde mental”, concluiu.
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