200 anos da Batalha do Jenipapo: o sangrento embate entre portugueses e brasileiros no sertão do PI
13/03/2023 10h17Fonte G1 PI
Imagem: Reprodução200 anos da Batalha do Jenipapo.
A Batalha do Jenipapo, historicamente reconhecida por ser o único conflito armado na busca pela Independência do Brasil, foi iniciada no dia 13 de março de 1923, e reuniu cerca de 3,6 mil combatentes às margens do rio de mesmo nome, no município de Campo Maior, que ainda não existia no período. O embate completa 200 anos nesta segunda-feira (13).
A batalha violenta começou a ser idealizada no dia 8 de agosto de 1822, um mês antes do Grito do Ipiranga. Na data, chegava a Oeiras, capital da província até então, o major português João José Da Cunha Fidié, que havia sido nomeado ao cargo de governador das armas por D. João 6º. Historiadores apontam que ele veio ao sertão piauiense com o intuito de impedir a emancipação do Brasil.
Após ocupações por parte do exército independentista, comandado pelo capitão Luís Rodrigues Chaves, Fidié tomou uma postura mais dura e retomou o poder em Oeiras, intensificando a tensão entre os dois lados.
Apesar da junção entre os estados, apenas 500 homens faziam parte da tropa a favor da independência. Com a solicitação de voluntários, cerca de 1,5 mil civis se apresentaram. Sem experiência militar, muitos eram vaqueiros, roceiros, escravizados, libertos e indígenas, armados somente com machados, foices, facões e enxadas.
Imagem: BBC Representação da Batalha do Jenipapo.
Do lado português, cerca de 1,6 mil soldados profissionais, com treinamento adequado para grandes batalhas foram solicitados, trazendo ainda 11 canhões potentes que poderiam valer por mais de dois combatentes.
No dia 13 de março, a batalha foi iniciada com as tropas portuguesas chegando ao rio, sendo atacadas brasileiros. O massacre teve seu começo em uma tentativa desesperada de Chaves, que tentou conter a invasão dos soldados de Fidié. O comandante, sem alternativas, exigiu que os soldados da independência atacassem os portugueses por todos os lados, como uma forma de batalha suicida.
Imagem: BBC Cemitério do Jenipapo, no Piauí, onde foram sepultados os mortos da batalha.
Os soldados brasileiros, pouco preparados, foram atingidos pelos rápidos disparos portugueses. Os sobreviventes aproveitaram o cansaço das tropas portuguesas e fugiram com seus mantimentos. Nesse momento, Fidié desistiu de atacar os adeptos à independência, e partiu para descansar em uma fazenda da cidade.
Em junho de 1823, as tropas do major português se renderam, e ele foi conduzido ao Rio de Janeiro, onde em seguida foi deportado para Portugal.
Pouco reconhecimento
Em publicação no Instagram, Laurentino Gomes, o primeiro historiador a retratar a Batalha do Jenipapo em um livro didático de história, relembrou a data, destacando ainda que o momento histórico é pouco reconhecido.
Homenagem à batalha
Na comemoração de 199 anos da Batalha de Jenipapo, em 2022, um quadrinista de Piripiri retratou a batalha dos soldados nordestinos em histórias em quadrinhos. O livro intitulado como "Foices & Facões", foi feito por Bernardo Aurélio e Caio Oliveira.
"A intenção é valorizar o povo que participou dessa batalha, o povo comum. O livro já está na segunda edição, graças a Deus a gente consegue divulgar o livro e as pessoas gostam, não só os leitores de quadrinhos. Às vezes fazem a sua primeira leitura de quadrinho a partir desse trabalho", contou Bernardo.
O humorista Whindersson Nunes também disse estar trabalhando em um projeto que vai homenagear a batalha, um filme que está em produção.
Imagem: Divulgação Whindersson Nunes visitou monumento da Batalha do Jenipapo, em Campo Maior, Norte do Piauí.
Whindersson, ao anunciar a obra, destacou a pouca importância que se dá à história. “Eu sei que você não sabe, eles acham mais importante te ensinar sobre o tratado de Tordesilhas ou qualquer coisa europeia do que a Batalha do Jenipapo, em 1823, no Piauí”, escreveu.
“Quase que vocês tinham uma colônia de Portugal aqui no lugar do nordeste, mas o nosso povo literalmente entrou na frente e não deixou, sem armas, sem saber nada de guerra, a pau e pedra! Homens, mulheres e crianças, deram a vida pra hoje eu poder dizer que SOU BRASILEIRO!”, completou Whindersson.
O humorista ressaltou a violência do massacre. “Atiraram tanto, mataram tanto, que desistiram, pelo cansaço, pelo calor da minha terra. As tropas portuguesas se retiraram. Só ficou morte e túmulo, por que o Brasil não celebra isso?”, questionou.
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