Aluna denuncia que foi expulsa de sala por usar colares de umbanda

11/09/2018 08h35


Fonte CidadeVerde.com

Uma estudante de 15 anos registrou boletim de ocorrência na Delegacia de Defesa e Proteção dos Direitos Humanos e Repressão às Condutas Discriminatórias contra um professor de Matemática da escola municipal Professor Ofélio Leitão no bairro Esplanada, zona Sul de Teresina. A jovem denuncia que foi expulsa da sala de aula por estar usando guias, colares de contas utilizados por adeptos da umbanda.

A aluna, que é umbandista, descreve que chega a esconder os colares em baixo do uniforme para evitar comentário, mas desta vez, como as contas apareceram pela farda e geraram uma discussão que culminou com sua expulsão de sala.

”Eu estava no intervalo quando meus fios de conta apareceram por baixo do uniforme. Um amigo meu olhou e ficou pegando. Eu falei: Não pode pegar porque minhas guias contém energias espirituais. O professor que estava perto olhou e falou: Não toca nela que ela está cheia de macumba, e meus colegas já ficaram olhando torto. Na hora fiquei bem constrangida e não consegui falar nada. Na entrada da sala eu já estava bem envergonhada e fiquei meio triste na aula de cabeça baixa. Foi quando ele falou: Saia da minha sala, você parece que está dormindo, ele disse. Eu falei que não e ele insistiu: saia não quero saber, vaza, caia fora. Eu ainda disse que ele precisava respeitar os alunos, e ele respondeu: não vou respeitar ninguém e se você quiser me processar pode processar, já tenho 12 processos nas costas, mais um não vai me fazer falta",
descreve a jovem.

Imagem: CidadeVerde.comAluna denuncia que foi expulsa de sala por usar colares de umbanda.(Imagem:CidadeVerde.com)

Abalada, a jovem informa que chegou a procurar a diretoria da escola que a orientou apenas a “procurar pelos seus direitos”, disse. A jovem usa sete colares de contar, que segundo os preceitos da religião, devem ser usados 24h após o batismo.

Dificuldades para registrar

A advogada da jovem, Sabrina Rafaela, alerta também para a dificuldade que a adolescente encontrou para registrar a denúncia de preconceito. Orientadas pela OAB, elas procuraram a Delegacia de Proteção a Criança e o Adolescente, mas começaram lá as resistências quanto a competência. “Fomos a DPCA porque ela é menor, tem 15 anos, lá tivemos uma resistência porquê a competência seria da Delegacia de Direitos Humanos, chegamos aqui e tivemos outra resistência sobre a competência. Ficamos aqui um tempo e no final das contas o delegado optou por registrar o boletim de ocorrência que será enviado para a corregedoria, que irá declinar quem é a delegacia competente para poder realmente começar a investigação” pontuou a advogada.

Jovem já tentou suicídio

Batizada há cerca de uma semana, Laysa descreve que a religião (umbanda) tem a ajudado a superar a depressão e os problemas que sofria em consequência da doença. Ela lamenta que ainda exista preconceito contra práticas religiosas e afirma que só se sente feliz em sua prática religiosa. “Eu tentei me suicidar e não estava muito bem. Eu tinha depressão por conta dos meus problemas e minha mãe me ajudou e me levou. Na religião eu me encontrei e é lá que sou feliz e me encontrei. Sou muito feliz emuito grata ao meu pai de santo e aos guias espirituais”, completa.

Preconceito constante

O pai de santo que comanda o terreiro frequentado pela jovem, afirma que pelo menos outras 100 pessoas frequentam o seu espaço, a grande maioria adolescentes como Laysa. Segundo ele, casos de preconceito contra adeptos da religião se tornaram comuns.

“É bem comum. Já houveram casos em ônibus, em vários ambientes, mas são casos isolados. Nossa equipe sempre procura se informar com advogados para tomar as providências. Sempre vamos procurar informações para tomar medidas cabíveis. Daqui há dois dias ela vai se deparar na mesma escola, com o mesmo professor e é uma situação constrangedora, ninguém sabe o que uma pessoa dessa pode fazer movido por intolerância. Vamos lutar a família toda e dar o apoio psicológico, moral e da família e amigos”, pontuou Pai Bruno de Ogum.

Quarta-feira a jovem retornará as aulas com o mesmo professor, e ela afirma que senão se sente intimidada pelo problema. “Eu vou firme e forte, vou agir naturalmente e apenas me retirar se for o caso”, concluiu.

Semec se posiciona

A Secretaria Municipal de Educação (Semec) se posicionou através de nota onde se declara contra qualquer tipo de preconceito e declara que vai acompanhar o caso. Leia a nota na íntegra

A Secretaria Municipal de Educação (Semec) está acompanhando o caso ocorrido na Escola Municipal Ofélio Leitão e deixa claro que repudia toda forma de preconceito ou intolerância religiosa. O professor afirma que a aluna não foi retirada de sala de aula pelo fato de usar um acessório religioso, mas por estar dormindo durante a aula. A Semec destaca ainda que possui uma gerência específica para dialogar com gestores, professores, alunos e famílias sobre os mais diversos temas sociais, a fim de buscar entendimento sobre as diferentes formas de expressão do indivíduo.

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Tópicos: escola, aula, preconceito