Cabeleireira transexual põe casa à venda para fazer cirurgia de mudança de sexo
01/03/2015 08h04Fonte Cidadeverde.com
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O que você é capaz de fazer em busca de um sonho? A cabeleireira Jenny Kate Machado Dos Santos pôs à venda a própria casa, em que reside no município de Barras, para conseguir recursos e custear uma Cirurgia de Redesignação Sexual (SRS), conhecida mudança de sexo.
Este não foi o único sacrifício-para muitos um ato de loucura- da primeira transexual do Piauí a casar no religioso. Em 2014, ela morou de aluguel após vender a residência para a concretização do procedimento cirúrgico, porém, sem sucesso.
"A cirurgia custa cerca de R$ 42.500 é muito importante não para me exibir como muitos pensam e sim pra eu me sentir adequada ao meu gênero psicológico, ter uma relação saudável com meu próprio corpo e também com meu marido. Não é apenas uma questão de sexo. Não me sinto à vontade como sou e isso interfere até nas roupas que visto. Sempre opto por vestidos. Não desejo ninguém a estar na pele de uma mulher transexual", desabafa.
A casa à venda, no valor de R$ 90 mil, localizada próximo à avenida Dirceu Arcoverde-em Barras, ainda está em construção e começou a ser erguida pela própria cabeleireira com auxílio do marido, após 14 meses de aluguel, após a comercialização de outra residência.
"Ano passado vendemos nossa casa para eu operar, mas como eu não tinha os laudos, comprei um terreno. Começamos a construir do zero e agora que já mudei o nome de gênero nos documentos não precisa mais de laudos. A casa e o salão são juntos. A construção começou em agosto e em dezembro nos mudamos. A casa e o salão, de onde tiramos dinheiro para o sustento, são bem simples e ainda estamos com dívidas da obra. Vendemos também nossa motocicleta, mas foi em vão. Temos que pagar uma coisa e outra e não dar para juntar recursos suficientes para a cirurgia. Me sinto desesperada porque vejo meu sonho mais distante e por isso essa decisão", disse.
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Na busca para a concretização do sonho, Jenny Kate ainda realizou duas 'vaquinhas online', mas a repercussão foi mínima, e as doações arrecadadas bem distantes do valor necessário para o procedimento cirúrgico.
"Estou confiante que, desta vez, foi conseguir doações suficientes e quem sabe não precise que vender minha casa para realizar meu sonho. De toda forma ficarei feliz só em ter o dinheiro, seja com ajuda das pessoas ou com a venda da casa. É uma decisão radical, porém por outro lado, representa minha felicidade", disse a transexual, acrescentando que as doações podem ser realizadas através de depósito bancário na Caixa Econômica Federal, (Agência 3436, Operação 003, Conta 5367, favorecido Rogério Ramos Viana).
Transexualidade
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a transexualidade é considerada um tipo de transtorno de identidade de gênero. A explicação estereotipada é de 'uma mulher presa em um corpo masculino'ou vice-versa.Jenny Kate revela que a transexualidade surgiu ainda ainda na infância e com isso o preconceito. Ela- que se casou com
Rogério Ramos em setembro de 2014 após conseguir na Justiça a autorização para retificar o nome e gênero- conta que foi casada com uma mulher por sete anos e que a união matrimonial terminou devido à identificação com pessoas do mesmo gênero.
"Desde muito pequena usava as roupas batons e sandálias das tias. Sempre me identifiquei como mulher. Na época, frequentava igrejas e sofria porque algumas pessoas pregavam e ainda hoje pregam que a orientação sexual é coisa do demônio. Sempre lutei para não ser quem sou. Me casei e vivi por sete anos com uma mulher, mas era difícil porque não sentia atração pelo sexo oposto. Sou heterossexual mais minha identidade de gênero é oposta ao gênero resignado no nascimento", disse.
A cabeleireira de 32 anos conta ainda que se aceitou como mulher há dois anos e que tem recebido apoio dos amigos na luta para conseguir custear a cirurgia. "Existem críticas, mas muitas pessoas têm dado apoio, inclusive, dizem que é o que está faltando para eu me tornar mais feliz e sem pressões psicológicas e que devo continuar lutando para conseguir realizar meu sonho", reitera.
Cirurgia de Redesignação Sexual no Brasil
Para a realização da cirurgia de troca de sexo no Brasil pelo Sistema Único de Saúde (SUS) alguns pré-requisitos devem ser obedecidos, de acordo com portaria Nº 859 do Ministério da Saúde, publicada em 2013. A idade mínima é de 18 anos, sendo exigida indicação específica e acompanhamento prévio de dois anos pela equipe de especialistas que acompanha o paciente, composta de profissionais como psicólogos, médicos e outros.
Pelo SUS ainda são garantidos os seguintes tratamentos: acompanhamento multidisciplinar no processo transexualizador antes e após a operação, terapia hormonal com estrógeno ou testosterona, e acompanhamento clínico.
No caso de pessoas do sexo masculino no processo de mudança para o sexo feminino (mulheres transexuais), as regras ainda preveem a cirurgia de redesignação sexual - com amputação do pênis e construção de neovagina -, a cirurgia para redução do pomo de adão e a terapia hormonal com ciproterona.
Para as pessoas do sexo feminino no processo de mudança para o sexo masculino (homens transexuais), a portaria estabelece o oferecimento pelo SUS da cirurgia de retirada das duas mamas e da cirurgia de retirada de útero e ovários.
O procedimento cirúrgico dura e média duas horas e a recuperação do paciente é bastante delicada.
Mudança de sexo pelo SUS
Atualmente, apenas quatro hospitais estão credenciados para realizar a cirurgia de mudança de sexo: o Hospital de Clínicas de Porto Alegre, o Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás, o Instituto de Psiquiatria da Fundação Faculdade de Medicina de São Paulo e o Hospital Universitário Pedro Ernesto, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
A inexistência de hospitais credenciados no Norte e Nordeste tem levado transexuais a viajarem para outros estados para realizarem o procedimento cirúrgico, o que tem agravado o tempo de espera.
Jenny Kate conta que pretende ser operada em um hospital particular no Rio de Janeiro com o médico Marcio Littleton, especialista na técnica de mudança de sexo. A piauiense explica que não optou pelo SUS devido à demora na fila de espera, em média, 10 anos.
"Este tipo de cirurgia não é feita no Piauí em nem o tratamento transexualizador. Se fosse querer entrar na fila pra operar pelo SUS teria que fazer em um outro estado que faça esse tipo de tratamento e acredito que os gastos seriam os mesmos que juntar e operar particular, pois em teria que pagar passagens e hospedagens", explica.
A cabeleireira conta ainda que a mudança legal de nome e gênero desburocratiza o longo processo para a realização da cirurgia.
"Os médicos exigem laudos de assistente social, endocrinologista, psiquiatra e psicólogo, mas no meu caso, que já mudei de nome e gênero e portanto legalmente ja sou mulher, a exigência é somente uma copia autenticada da sentença do juiz", explica ela acrescentando ainda que o laudos médicos expedidos pela equipe multidisciplinar compõem o processo transexualizador,estratégias assistenciais para transexuais que pretendem realizar modificações corporais do sexo, que inclui por exemplo, tratamento com hormônios.