Classe D ultrapassa a B no poder de consumo

10/08/2010 11h55


Fonte O DIa

Pela primeira vez, a segunda camada mais pobre da população brasileira, formada pela classe D, vai ultrapassar a classe B no poder de consumo. De acordo com o instituto de pesquisa Data Popular, as famílias da classe D, com renda mensal entre R$ 511 e R$ 1.530, terão, juntas, R$ 381,2 bilhões para gastar com produtos e serviços em 2010. Enquanto isso, a classe B, cuja renda varia de R$ 5.101 a R$ 10.200, vai ter R$ 329,5 bilhões este ano.

No Piauí, são mais de 500 mil famílias da classe D, com renda de R$ 504 a R$ 1 mil, segundo o IBGE. Juntas, elas são hoje mais importantes para o mercado do que as 39 mil famílias piauienses da classe B, que possuem renda de R$ 4,7 mil a R$ 7,2 mil.

Segundo o economista Francisco Sousa, esse aumento do poder de compra das camadas mais populares está ocorrendo pela valorização significativa do salário-mínimo, a geração de empregos formais e a implantação de programas de transferência de renda, como o Bolsa Família. Ele ressalta que a maioria dos empregos formais gerados no Piauí possui é para trabalhadores que recebem o salário mínimo.“E como o poder de compra do SM está maior, essas pessoas estão consumindo mais”, diz.

Sousa destaca também que esses novos consumidores estão trazendo transformações na economia do Piauí, já que grandes redes de varejo populares, já comuns em outras regiões do Brasil, começam a investir no estado visando esse público que estava sem poder gastar. “O Extra, por exemplo, percebeu isso e resolveu abrir um hipermercado na capital. E a tendência é virem mais redes de olho na classe D”, afirma o economista.

A facilidade no pagamento de bens de valores mais altos, como eletrodomésticos, por exemplo, também tem permitido a inclusão das famílias mais pobres na aquisição de produtos que antes eram comuns apenas nas classes A, B e, recentemente, na C. Gastos com alimentação, vestuário e acessórios, móveis, eletrodomésticos, eletrônicos para o lar e remédios cada vez mais estão integrando a rotina das famílias das classes mais baixas. Elas estão passando a gastar também com artigos de higiene, cuidados pessoas e limpeza do lar, mas ficam de fora em outros pontos como alimentação fora do lar; lazer, cultura e viagens e despesas com veículo próprio, que ocorrem apenas nas classes C, B e A.

Em janeiro deste ano, o reajuste de 9,67% no salário mínimo injetou na economia R$ 26,6 bilhões. Todo esse valor foi para as famílias da classe D. Entre abril de 2003 e janeiro deste ano, o salário mínimo teve aumento real (acima da inflação) de 53,7%. Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), nenhuma outra categoria teve aumento nesse percentual.