Com fim do Mais Médicos, cubana deixou hospitais no PI e passou a trabalhar como balconista
22/03/2023 09h33Fonte G1 PI
Imagem: Arquivo PessoalA médica cubana Danae Moreira foi balconista de farmácia quando saiu do programa Mais Médicos em 2018.
A cubana Danae Moreira é médica há 9 anos. Chegou ao Brasil em 2017 para atender pelo Mais Médicos no interior do Piauí. Com o fim da parceria com Cuba e extinção do programa, ela se viu desempregada, sem poder exercer a profissão e depois de morar de favor com uma amiga, conseguiu emprego como balconista em uma farmácia.
Danae chegou no Brasil pelo Mais Médicos e tinha como missão levar atendimento médico a unidades nos extremos do país e interior. Foi assim que chegou a Esperantina, 184 km ao norte de Teresina, no Piauí.
Até 2018, 202 médicos cubanos trabalhavam pelo programa no Piauí, sendo 51 deles na região dos Cocais, que possui 14 municípios. Entre eles, Esperantina.
A cidade tem menos de 40 mil habitantes e precisava de apoio médico. No entanto, em 2018, com o fim do contrato com Cuba, se viu desempregada.
“Foi um dos períodos mais difíceis da minha vida. Na época eu morava sozinha e me vi, pela primeira vez, tendo que viver de favor na casa de uma amiga. Uma família me acolheu nesse momento tão difícil. Eu estava longe da minha casa, dos meus familiares e sem fazer o que tanto amo, que é exercer a medicina”, relatou.
Ao longo dos anos, ela trabalhou como balconista de farmácia. A remuneração mensal era de menos de um salário, cerca de R$ 600.
“É muito triste parar de exercer uma profissão que passei a vida toda estudando para me formar”, conta.
Na pandemia, com a alta demanda, chegou a ser autorizada a atender, mas com o fim da emergência de saúde, está desempregada com a esperança de um novo Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos Expedidos por Instituições de Educação Superior Estrangeiras (Revalida), para retornar aos postos de saúde e hospitais.
"Não tinha como sobreviver", diz médico cubano
O médico cubano Denys Barreto Peres também foi um dos afetados pelo desligamento. Dos consultórios ele passou ao trabalho braçal com instalação de placas de energia solar e auxiliar de uma empresa de internet.
Ele atendia na cidade de Oeiras, cidade a 282 km da capital, também com menos de 40 mil habitantes. No caso de Denys, a missão também era atender a população desassistida. Ele conta que atendeu por dois anos no local e quando o programa foi interrompido ficou sem renda e passou por dificuldades. Com família formada no Brasil, decidiu que permaneceria no país, mas o cenário foi de dificuldades.
“Eu fiquei desolado. Depois do rompimento não tinha como sobreviver e então tive que procurar outro meio. Tenho uma união estável e precisava de dinheiro. Um amigo que tem uma empresa de internet me ajudou e comecei a trabalhar com ele”, disse.
Sem experiência em outras áreas além da saúde, já que passou a vida dedicado a estudar medicina e atuar como médico, passou por trabalhos braçais até que em julho de 2022, quando conseguiu voltar à medicina.
“Foi um tempo difícil. Passamos pela pandemia na luta. Alguns lugares são melhores do que outros. Para mim, não foi fácil de lidar. Hoje tenho um filho de um ano e não quero que ele passe pelo que passei”, relembra.
Fim do Mais Médicos para cubanos
O Mais Médicos começou em 2013, ainda sob a gestão PT. Ao longo dos governos Dilma Rousseff, o Mais Médicos ficou famoso por ter contratado um grande número de profissionais de saúde estrangeiros – em especial, cubanos, em razão de uma parceria com a Organização Panamericana de Saúde (Opas).
No entanto, devido às "referências diretas, depreciativas e ameaçadoras" feitas pelo então presidente Jair Bolsonaro, o governo de Cuba decidiu sair do programa social, o que impediu o exercício de médicos cubanos no Brasil.
Em 2019 Bolsonaro sancionou a lei do programa Médicos pelo Brasil, que substituiu ou Mais Médicos. Nessa época, o então ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou que o Mais Médicos seria encerrado de forma gradativa.
O retorno do programa
O novo governo relançou o Mais Médicos nesta segunda (20) com a promessa de abrir 15 mil vagas ainda neste ano – sendo 10 mil com contrapartida de financiamento dos municípios.
Se cumprida, a meta deve dobrar o número de profissionais de saúde atualmente no programa. A ministra da Saúde, Nísia Trindade, afirmou que o edital de convocação para os 5 mil postos que já existem e estão desocupados deve sair ainda nesta semana.
Mais Médicos x Médicos Pelo Brasil
Entenda a diferença:
Mais Médicos
- Chamamento Público
- Médico é bolsista durante toda a sua permanência no programa (3 anos prorrogáveis por igual período)
- Visa atender municípios de todos os perfis, com representativa parcela de suas vagas, inclusive, em grandes centros urbanos
- Operacionalizado pela Saps por meio da Secretaria de Atenção Primária à Saúde (Saps)
- Programa interministerial (Ministério da Saúde e Ministério da Educação)
Médicos Pelo Brasil
- Processo seletivo estruturado
- Médico selecionado, após especialização em medicina de família e comunidade, passa a ser contratado como celetista da Adaps com expectativa de progressão de carreira
- Visa atender prioritariamente aos vazios assistenciais do Brasil, com vagas em municípios de difícil provimento e alta vulnerabilidade, com descrição estabelecida em lei e maior concentração de vagas no Norte e Nordeste do País
- Operacionalizado por meio da Agência de Desenvolvimento da Atenção Primária à Saúde (Adaps) com supervisão do Ministério da Saúde
- Programa do Ministério da Saúde
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