Desempregada planta feijão e abóbora para poder comer: "a gente não ter nada é ruim, pasa fome"
03/09/2022 08h37Fonte G1 PI
Imagem: ReproduçãoFome avança no Brasil e atinge 33 milhões de pessoas.
A desempregada Maria Saraiva passou a plantar em frente à casa de taipa em que vive, em uma ocupação no bairro Vale quem Tem, Zona Leste de Teresina, para poder comer. Como muitas famílias brasileiras, ela perdeu a única fonte de renda com a chegada da pandemia de Covid-19. Em todo o país, cerca de 33,1 milhões de pessoas não têm o que comer diariamente.
Em entrevista à TV Clube, Maria contou que costumava trabalhar como faxineira, mas que, atualmente, não tem encontrado serviços. A casa em que ela vive tem apenas um cômodo, poucos móveis e panelas vazias. Em frente ao local, ela plantou feijão, abóbora e tomate.
“É difícil, é duro. A gente passa necessidade, passa fome. A gente não ter nada é ruim, não ter um serviço pra trabalhar, pegar num dinheirinho, pra gente se manter, viver”, contou.
Imagem: Reprodução/TV Clube Desempregada planta para poder comer em Teresina: "a gente não ter nada é ruim, passa fome"
“Mas vai mudar, em nome de Jesus. Nosso Pai do Céu, que botou nós (sic) no mundo. Eu tenho fé”, disse esperançosa.
Em comparação com 2020, 14 milhões de pessoas a mais estão passando fome no país. O dado é do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan).
Imagem: Reprodução Desempregada planta feijão e abóbora para poder comer em Teresina.
Laiane Santos Silva relatou a angústia de começar o dia sem a certeza de ter o que comer. Ela e o marido estão desempregados e são pais de uma criança de quatro anos. A chegada de mais uma criança amplia as preocupações. Ela está grávida de nove meses.
“Eu espero que melhore mais, que meu marido arrume um serviço fixo pra trabalhar. Eu não tenho nenhum benefício do Governo, vai ser mais difícil ainda com mais uma criança”, declarou.
No bairro Porto Alegre III, Zona Sul de Teresina, Eliude Silva mora com dois filhos e o marido. Ambos também estão desempregados e enfrentam dificuldades.
“Tô passando por um momento muito difícil, eu, meus filhos e meu marido. Meu marido tá desempregado. Quem puder ajudar ele com um serviço, um emprego, vou agradecer muito. Deus também. A gente mora em uma casa simples, não pagamos aluguel porque um rapaz deu a casa pra gente morar”, afirmou.
Para a cientista política Isadora Lemos, o número de pessoas com fome no Piauí e em todo o Brasil é resultado do desemprego, da má distribuição de renda e da falta de políticas públicas eficientes.
“A própria existência da fome é um indício grave da ausência, do fracasso das políticas públicas em diferentes níveis, em um mundo que já produz alimentação necessária pra suprir as necessidades de toda a população que aqui habita”, avaliou a cientista política.
Ela também relembrou que, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), desde 2016, a fome voltou a avançar no mundo. Para o representante do ONU para a Alimentação e a Agricultura (FAO/ONU) no Brasil, Rafael Zavala, o país deixou de priorizar o combate à fome, levando a uma "cifra assustadora" de insegurança alimentar em todo o território.
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