Dificuldade de acesso à saúde preocupa moradores da periferia

04/04/2020 09h59


Fonte Portal O dia

Imagem: ReproduçãoClique para ampliarDificuldade de acesso à saúde preocupa moradores da periferia(Imagem:Reprodução)
O Brasil é o sétimo país mais desigual do mundo, segundo o último relatório divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, o Pnud. A posição, que sempre foi incômoda, agora, mostra uma face ainda mais feroz: em um país tão desigual, como lidar com uma pandemia de um vírus tão potente nas áreas mais pobres da população?

A propagação do Covid-19 não escolhe idade, etnia ou classe, mas é nos locais em que o acesso a saúde é mais comprometido que sua penetração pode ter consequências ainda mais devastadoras. Em Teresina, moradores do bairro São Joaquim, zona Norte da Cidade, relatam o temor instaurado na comunidade após a determinação da quarentena como forma de enfrentamento ao vírus. Até a última sexta, a Capital já registrava 19 casos confirmados do vírus e mais de 260 suspeitos.

"A gente sabe que é realidade, mas vai ter expectativa de não pegar. Por que se pegar, como a gente vai se tratar?", questiona Maria de Jesus, 45 anos, moradora da vila Apolônio. "Eu tenho medo pelo meu pai e das minhas coisinhas pequena, porque nós no hospital com doença normal já não entra, agora, se tiver uma doença dessa só se tiver morrendo mesmo!", reforça.


Ela divide a casa com um pai idoso, o marido, a filha e dois netos pequenos. A única renda do lar é tida por pequenos bicos feito por Maria, a filha Daiara e também pelo recebimento das bolsas do programa social Bolsa Família.

Segundo pesquisa Data Favela em parceria com o Instituto Locomotiva, divulgada no último dia 24 de março, 86% dos moradores das periferias terão dificuldade para comprar comida devido à queda na renda familiar, em meio à pandemia de coronavírus. Essa situação deve ocorrer dentro de um mês ou menos.

São 13,6 milhões de pessoas morando em favelas em todos o País. Somente 19% delas trabalham com carteira assinada. Outros 47% trabalham por conta própria ou são profissionais liberais, 10% estão desempregados e 8% trabalham sem registro.

Informação chega, mas possibilidade de proteção são reduzidas

Dona Maria das Graças, 67 anos, vizinha de Maria de Jesus, compartilha da mesma preocupação. No entanto, por sua idade e doenças associadas, diz que a falta de acesso a itens básicos de proteção a deixa com medo de estar mais sucetível a doença. "Eu não tenho nem saído de casa, vim aqui hoje, que é só atravessar a rua, mas por necessidade", explica arrumando a máscara de pano que usa na face, conseguida por doação.

As duas se mostram muito bem informada sobre as formas de contágio e consequencias do Covid-19. A televisão é o principal canal para os aprendizados. "Agora, como não tem muito o que fazer, é o dia todo na televisão e toda hora é informação sobre o corona, tem hora que a gente nem aguenta mais", destaca entre sorrisos.

Mas os itens de proteção continuam tendo pouco acesso. Alcool em gel não é uma opção para as moradoras, por exemplo, já a falta de acesso ao item bem como o elevado preço deixam o produto inalcansável para boa parte das famílias da região. Os cuidados, até então, estão sendo tomados por isolamento social e higienização com água e sabão.

"Eu creio em Deus, que Deus existe e ele não vai deixar acontecer com nós, porque nós não merecemos isso, não", finaliza Maria das Graças em tom de súplica.

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Tópicos: gente, acesso, periferia