Em 2021, 75% dos mortos em ações policiais no Piauà eram negros; especialista aponta racismo
18/11/2022 08h53Fonte G1 PI
Imagem: Gonzalo Fuentes/ReutersEm 2021, 75% dos mortos em ações policiais no Piauí eram negros; especialista aponta racismo e defende enfrentamento.
Um relatório divulgado pela Rede de Observatórios da Segurança neste mês revelou que, em 2021, 75% das pessoas que morreram por intervenções de agentes de segurança do estado no Piauí eram negras. Em Teresina, o índice é ainda maior: 83%.
Para o sociólogo Marcondes Brito, a alta da taxa de letalidade negra é reflexo de um racismo estrutural presente até hoje na sociedade brasileira, que pode ser percebido nas instituições, principalmente, as de controle, como é o caso da polícia.
Os dados do relatório são da Secretaria de Segurança Pública do Piauí (SSP-PI), que foram obtidos pela organização através da Lei de Acesso à Informação (LAI).
No estado, das 32 pessoas que morreram em ações policiais, 20 são pardas e 4 são pretas, ou seja, 24 negras, seguindo o critério do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que considera negros o somatório de pardos e pretos. O relatório apontou ainda as 10 cidades piauienses com mais mortes de por intervenção de agentes do estado no ano passado. São elas:
- Teresina (18)
- Floriano (2)
- Altos (2)
- Avelino Lopes (1)
- Baixa Grande do Ribeiro (1)
- Buriti dos Lopes (1)
- Curimatá (1)
- Piripiri (1)
- Pedro II (1)
- Picos (1)
- Itararé (3)
- Aeroporto (2)
- Morros (2)
- Santa Maria (2)
- Centro (1)
- Ilhotas (1)
- Mocambinho (1)
- Novo Horizonte (1)
- Portal da Alegria (1)
- Porto do Centro (1)
Racismo: o grande problema
Imagem: EPA "Racismo é uma ideologia de exclusão", diz a antropóloga Marina Mello.
Em entrevista ao g1, o sociólogo Marcondes Brito explicou que o Brasil apresenta uma das sociedades mais racistas do mundo. No país, a população negra é, historicamente, criminalizada.
“O Brasil foi o último país de tradição cristã a abolir a escravidão, mas essa abolição não tocou nas instituições, que passaram a entender que atos feitos por negros eram ilegais e crimes, inclusive a capoeira, a umbanda, todas as práticas relacionadas a essa condição”, afirmou o especialista.
De acordo com o professor, o racismo se plasma nas instituições, principalmente nas de controle, como é o caso da polícia, que tende a suspeitar mais de negros, especialmente dos negros moradores de favelas.
"A Polícia Militar ela inclina, por acreditar que os crimes são mais praticados por negros, a fazer mais abordagens e a prender mais esses sujeitos, mesmo que eles não estejam diretamente relacionado aos crimes. Essa seletividade penal pode ser também chamado de perfilhamento racial", disse.
Marcondes Brito destaca que, para mudar essa realidade, é necessário reconhecer o problema e enfrentá-lo por meio de políticas públicas.
"É necessário que o Estado crie um mecanismo de diminuir isso, que ele faça um pacto entre as instituições policiais e judiciais e que, com a participação da sociedade civil, do movimento negro, ele vai fazendo o monitoramento do impacto dessa ação, só assim, ele pode ter um resultado mais concreto", comentou.
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