Grupo de pelo menos 15 pessoas participou de ataque em palestra da Uespi
27/09/2020 10h03Fonte Cidade Verde
Imagem: Reprodução
Um grupo de pelo menos 15 pessoas - a maioria perfis falsos - invadiu a palestra realizada por professores do curso de História da Universidade Estadual do Piauí (Uespi), campus Oeiras, na noite na última quarta-feira (23). Um dia após o crime, invasores fizeram novo ataque a palestra virtual. Desta vez foi no curso de História da Universidade Estadual do Piauí, do campus de Floriano.
A professora Débora Strieder, uma das coordenadoras do ciclo de palestra, disse que os ataques tinham uma clara conotação política. "Eles defendiam o governo do presidente Jair Bolsonaro e diziam que atividade desse tipo não iam acontecer e que eles iriam voltar, mesmo sendo excluídos", afirmou.
Débora confirmou que pelo menos 15 pessoas participaram do ataques e que eles prometiam invadir outras salas.
Boletim
A coordenação do curso de História da Uespi tentou acionar a Polícia Civil logo após o ataque, mas não conseguiu registrar o boletim de ocorrência para identificar os invasores da palestra em Oeiras. Durante o tumulto, professores e alunos conseguiram printar imagens que identificam pelo pelos dois perfis de pessoas que faziam os ataques. Ao serem identificados, os suspeitos podem ser indiciados por crimes cibernéticos ou a honra.
A professora do curso de História da UESPI/Oeiras, Gabriela Berthou, explica que até neste sábado (26) não conseguiu registrar o boletim de ocorrência sobre o ocorrido, pois, segundo a professora, a equipe da delegacia relatou dificuldade de enquadramento da denúncia. Diante da ausência do delegado, a professora retornará na próxima semana.
"Um dos pontos levantados na delegacia é que não se tratava de uma invasão da sala do Google Meet, pois o acesso das pessoas que proferiram os insultos, projetaram os vídeos com conteúdo pornográfico e imagens do atual presidente Jair Bolsonaro, entraram na sala através do link divulgado por nós mesmos no cartaz do evento e nas redes sociais".
Diante dessa situação, a professora comenta que os organizadores do evento utilizaram o Google Meet em todas as atividades do "I Ciclo de palestras", incluindo o procedimento de enviar link divulgando o evento para participação de pessoas interessadas. "Consideramos fundamental uma divulgação ampla para que todos os interessados possam participar dos debates, tendo em vista que o projeto é desenvolvido numa universidade pública que deve ter as portas sempre abertas para a comunidade externa".
O diretor do campus de Oeiras, Harlon de Lacerda Sousa, destacou que o ciclo faz parte de projeto de extensão para envolver professores e alunos de vários estados, devido a pandemia. "É inadmissível. A universidade é um lugar de debate, seja qual tema for, e o grupo chega a usar de violência para cercear o debate", disse o diretor.
Ataques
O alvo dos criminosos eram professores e alunos que participavam do ciclo de debates intitulado "Anticomunismo Brasileiro: passado e presente".
Segundo os participantes, o grupo exibia imagens e gritava o nome do presidente Jair Bolsonaro, mostrava cenas pornográficas - dois adolescentes fazendo sexo oral - ofendia professores e alunos e de forma pejorativa gritavam "bando de veados", "veadinhos".
O professor doutor Thiago Reisdorfer, coordenador do curso de História do campus e ajudou na realização do evento, relatou que os invasores faziam ofensas ao professor Reginaldo Sousa que entrou na sala antes da convidada, a professora doutora Marylu Alves de Oliveira.
"Eles gritavam, colocavam músicas com letras sexualizando as mulheres, exibiam vídeo pornográfico e alguns xingamentos por escrito na tela. É assustador, o curso é aberto para o debate, para a crítica. Mas, eles queriam claramente silenciar, calar o debate", disse o coordenador.
Segundo Thiago, as vozes pareciam de adolescentes. O grupo era expulso da sala, mas eles conseguiam retornar. Diante do tumulto, a coordenação criou outra sala e realizou o evento com menor número de pessoas.
Mau uso das redes
Gabriela Berthou ressalta que "outras atividades realizadas por universidades públicas brasileiras foram invadidas da mesma forma. Inclusive, no dia 24 de setembro, um evento online do curso de história da Uespi de Floriano também foi invadido. Era um debate sobre pesquisa e ensino da história indígena, um conteúdo obrigatório por lei, por sinal. É um fenômeno novo, sabemos, mas o estado brasileiro precisa criar mecanismos para identificar essas práticas e punir as pessoas responsáveis por realizá-las".
"A grande questão é que se trata de uma prática nova. Se já assistimos há algum tempo o uso indevido das redes sociais, principalmente para propagar fake news, agora, no período de isolamento social, estamos vendo novos maus usos da internet".
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