Jovens condenados serão ouvidos em audiência contra mentor de estupro

13/09/2016 09h04


Fonte G1 PI

Imagem: Juliana Barros/G1Adão participou da audiência em Campo Maior, mas ainda não foi ouvido pela Justiça(Imagem:Juliana Barros/G1)Adão participou da audiência em Campo Maior, mas ainda não foi ouvido pela Justiça

Os menores, condenados pela Justiça pelo estupro coletivo contra quatro garotas em Castelo do Piauí serão os próximos a serem ouvidos como testemunha no processo contra Adão José Silva Sousa, de 42 anos. Adão é pontado pela Polícia Civil e Ministério Público como o sendo o mentor do estupro coletivo. Durante toda esta segunda-feira (12) aconteceu mais uma audiência de instrução do processo no Fórum da cidade de Campo Maior.

Na audiência foram ouvidas 17 testemunhas entre defesa e acusação e ficaram faltando duas serem ouvidas. “O passo seguinte será ouvir os menores e outros adolescentes, que tiveram contato com os menores, que estão em Teresina, nesse passo será através de carta precatória. E faltam ainda duas pessoas que foram solicitadas pela defesa, mas ainda não foram localizadas e por isso não foram ouvidas hoje”, explicou o juiz Leonardo Brasileiro.

As audiências de instrução decidem, com base em provas e testemunhas, se o réu acusado de homicídio doloso vai ou não para o júri popular.

O defensor público Arilson Pereira Malaquias informou que das duas testemunhas que não foram ouvidas, uma chegou a ser intimada, mas não compareceu e a outra não foi localizada. Ele não informou que testemunhas são estas, mas disse que são importantes.

Pereira ressaltou ainda que o testemunho dos menores será um ponto importante para o desenrolar do julgamento. “Os menores e outros adolescente que tiveram contato com eles, inclusive com o Gleison Veira (condenado pelo estupro em Castelo e assassinado pelos outros três comparsas), que foi o delator do estupro, dentro do Centro Educacional Masculino, serão ouvidos no dia 29 deste mês. Depois que todos forem ouvidos partimos para a parte final que é o interrogatório, quando o Adão será ouvido”, explicou.

O juiz Leonardo Brasileiro explicou que a audiência final deve acontecer em outubro ou novembro deste ano e que tudo vai depender das testemunhas que faltam serem ouvidas. A audiência desta segunda-feira teve início por volta das 8h30 e encerrou às 16h40. Adão José estava presente no Fórum e em seguida foi encaminhado para a Penitenciaria de Altos. A Polícia Militar de Campo Maior também esteve presente no fórum dando apoio e isolando a área.

A audiência desta segunda-feira foi a segunda, já que uma primeira sessão havia sido realizada em julho, mas foi suspensa após o defensor público Arilson Pereira Malaquias alegar que o réu não havia sido requisitado para participar dos depoimentos.

O crime ocorreu em maio do ano passado. Além de Adão, quatro adolescentes foram apontados pela polícia e Ministério Público por participação nos abusos e espancamentos contra quatro garotas. Um dos menores foi morto dentro do alojamento quando já cumpria medida socioeducativa.

Acusado se diz inocente
Em maio deste ano, o G1 teve acesso ao presídio onde Adão José está preso e conversou com o acusado. Ele alega inocência e disse que nem estava na cidade no dia do crime.

“Não sei por que citaram o meu nome e até hoje não sei por que a Justiça não encontrou o verdadeiro culpado. As meninas sabem a verdade, sabem quem encostou nelas. Eu não fiz essa barbaridade, não sou estuprador, nunca obriguei ninguém a ter nada (relação sexual) comigo”,
falou.

Além dele, quatro adolescentes, já condenados a cumprir medida socioeducativa, foram citados pela polícia e MP por estuprar, agredir e arremessar do alto de um penhasco de cerca de 10 metros de altura quatro amigas que fotografavam no Morro do Garrote, ponto turístico da região. Uma das meninas não resistiu aos graves ferimentos e morreu.

Em sua defesa, Adão diz que no dia 27 de maio estava em Campo Maior, cidade distante de Castelo cerca de 100 km. Ele confessa, no entanto, que foi para lá fugindo da polícia por ter assaltado e baleado a gerente de um posto de combustível. O assalto ocorreu numa sexta-feira, 22 de maio, cinco dias antes do estupro coletivo.

“Fugi pela linha do trem no sábado, umas 18h. Andei pela mata e peguei carona com um mototaxi e na segunda-feira cheguei em Campo Maior. Eu não estava em Castelo no dia desse estupro, não conhecia essas meninas. Nunca vi essas meninas. Eu tenho testemunhas pra dizer que eu estava em Campo Maior”, contou.

Quando Adão foi preso, os policiais encontraram na casa dos pais dele uma bermuda com vestígios semelhantes a sangue e esperma. O material foi submetido a exames de DNA e, segundo o delegado Laércio Evangelista, que acompanhou o caso, os laudos comprovaram que Adão e dois dos quatro menores, participaram do estupro coletivo contra as garotas.

Condenado em outros processos
Essa não é a primeira vez que Adão experimenta a reclusão. Natural de Castelo do Piauí, ele foi embora para São Paulo em busca de trabalho no início da década de 1990, quando era adolescente. Foi no estado paulista que deu início o seu enredo pelo mundo do crime.

O primeiro processo veio em 2002, quando foi preso por tráfico de drogas e condenado pela Justiça a cumprir três anos em regime fechado. Na sequência, logo após o cumprimento da pena em 2005, ele foi novamente detido, desta vez por porte ilegal de arma. Adão cumpria a sentença no regime semiaberto quando voltou a ser preso por tráfico. Reincidente, ele pegou uma pena maior: 10 anos, 10 meses e 21 dias de reclusão em regime fechado.

Adão deixou o sistema carcerário em 2013 para cumprir o restante da pena no semiaberto domiciliar, mas se ausentou de São Paulo sem autorização e estava sendo considerado foragido da Justiça quando veio para o Piauí. Ele estava há pouco menos de dois meses em Castelo quando aconteceu a barbárie.