Lei Maria da Penha completa 14 anos; "Só quem é agredida sabe a sensação de medo", diz vítima

07/08/2020 14h59


Fonte G1 PI

Imagem: Reprodução/TV ClubeVítima de violência doméstica relata experiência no dia em que Lei Maria da Penha completa 14 anos.(Imagem:Reprodução/TV Clube)Vítima de violência doméstica relata experiência no dia em que Lei Maria da Penha completa 14 anos.

O dia 2 de julho de 2020 permanece vivo na lembrança de uma mulher que quase foi assassinada por uma pessoa em quem confiava. A vítima, que preferiu não ser identificada, foi agredida violentamente e ameaçada pelo ex-companheiro, um sargento da Polícia Militar do Piauí. “Fiquei sem conseguir dormir, às vezes, mesmo com medicação não conseguia”, relatou.

O crime aconteceu na casa que ela dividia com o sargento havia cerca de um ano. A mulher foi agredida a socos e asfixiada, e só escapou da morte porque conseguiu fugir de dentro do carro do agressor.

Em um momento de descuido do sargento, ela conseguiu a ajuda de uma vizinha. Durante a situação, até um irmão dela foi ameaçado pelo sargento, que estava armado.

Do encantamento à violência

Além da violência física, havia ainda a perseguição e os ciúmes em excesso. O agressor forçou a vítima se afastar de amigos e familiares. Entretanto, o início da relação, que terminou em tentativa de assassinato, foi repleto de carinho.

“Eu estava encantada, não vou mentir. No Dia dos Namorados ganhei flores, ursinho, caixa de bombons, anel... Qual a mulher que não se encanta, né? Ele era muito cuidadoso”,
relembra ela.

Esse carinho que logo se revelou possessividade e controle. “Queria controlar a amizade que eu tinha com meus amigos, com minha família”, contou.

"Eu não tinha tempo para conversar a sós com minha família, com minha mãe, com minha irmã. Porque ele sempre era rodeando, queria sempre estar perto e o tempo todo dizendo que só quem me amava de verdade era ele, que eu tinha que confiar nele",
relatou a mulher.
Imagem: Divulgação/Polícia CivilSargento é preso suspeito de tentativa de feminicídio contra a companheira em Teresina.(Imagem:Divulgação/Polícia Civil)Sargento é preso suspeito de tentativa de feminicídio contra a companheira em Teresina.

O sargento foi preso no dia 10 de julho pelo crime de tentativa de feminicídio, e levado para um presídio militar. Mesmo assim, o medo permanece. “Só quem é agredida sabe a sensação de medo, de ele voltar e conseguir fazer o que ele tentou fazer”, disse a vítima.

De acordo com a Polícia Civil, esta foi a segunda vez que o sargento foi preso pelo crime de violência doméstica.

Violência doméstica cresceu durante a pandemia

Em meio pandemia do coronavírus e da necessidade de isolamento social, em que as relações familiares ficaram mais intensas, o número de denúncias de violência doméstica no Piauí disparou.

Segundo dados do Departamento de Proteção à Mulher, nas Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAM), o número de denúncias diminuiu.

A dificuldade que as mulheres vítimas de violência encontram para ir pessoalmente até às delegacia pode estar causando essa redução, já que nos canais de denuncia remota, como o aplicativo Salve Maria, as denúncias cresceram.

De janeiro a maio de 2020, a Secretaria de Segurança do Piauí registrou 341 denúncias. O número mostra um aumento de 21% em comparação com as denúncias no ano passado.

Já durante o período de isolamento social, entre março e maio, esse número cresceu 79%. Foram 263 denúncias apenas nestes dois meses, apenas através do aplicativo.

Vários tipos de violência doméstica

“Que as mulheres se valham dela, que possam ir à delegacia e peçam as providências, peçam as medidas protetivas de urgência, para que aquele agressor se afastar dela, se afastar do lar, se afastar dos filhos. O que a gente pede é que as mulheres denunciem, e a partir daí a gente possa finalizar uma situação de violência”,
disse a delegada.

Além do risco de vida, a violência doméstica traz outras consequências que podem ser irreversíveis. Ainda de acordo com a psicóloga Sâmila Marques, diversos transtornos psicológicos podem começar por conta da realidade de medo e humilhações a que essas mulheres são submetidas.

“Às vezes, a pessoa pode desenvolver transtornos mentais como depressão, ansiedade, pânico, doenças psicossomáticas. É também observado que as vítimas perdem os contatos de amizades, contato com familiares. Por que o agressor a isolou, o que é um dos sinais, que é bem característico das relações abusivas”.


Veja como denunciar

Além do atendimento direto nas Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher, que podem ser feitas tanto pela vítima como por familiares, amigos e vizinhos, a Secretaria de Segurança disponibiliza o aplicativo Salve Maria, que pode ser instalado em qualquer smartphone, seja ele do sistema Android ou IOS.

A Prefeitura de Teresina oferece ainda o serviço Alô Mulher Teresina, através do telefone 0800 033 0302. O atendimento, lançado no dia 14 de julho, acontece de segunda à sexta-feira de 8h às 20h.

O serviço de call center oferece atendimentos nas áreas de enfrentamento a violência, saúde mental ,assistência social e protagonismo feminino com ênfase no trabalho e empreendedorismo. 

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