'Maior rio do Piauà está na UTI', afirma conselheiro do Conama
22/03/2014 09h02Fonte G1 PI
Imagem: Gil OliveiraAssoreamento das margens é o principal problema do Rio Parnaíba, aponta o Ibama.
“Nesse dia especial de debate sobre a água nós não temos nada a comemorar, pois o maior rio do Piauí está na UTI”, a fala é de Francisco Soares, ambientalista e membro do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), sobre o Parnaíba, o maior rio genuinamente nordestino, com mais de 1.400 km de extensão. A declaração faz alusão do Dia Mundial da Água, data comemorada neste sábado (22) e criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) para chamar a atenção sobre a preservação do líquido em todo o planeta.
“Somente em Teresina temos mais de 800 mil habitantes e apenas 17% dos esgotos são tratados. Em Timon (Maranhão) temos mais 150 mil pessoas e 0% de tratamento sanitário. Todos esses afluentes são despejados sem nenhum tratamento no Parnaíba. Isso sem falar na destruição das matas ciliares que aumentam o assoreamento do rio e criam essas coroas que temos em toda a sua extensão”, contou Soares, que também é presidente da Fundação Rio Parnaíba.
Dados da própria Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semar), apresentados ainda no ano de 2009, comprovam o que relatou o ambientalista. Durante a construção do relatório, foram constatados vários problemas no bioma, como o desmatamento e erosão das margens, queimadas, assoreamento do leito e condições de navegabilidade.
No documento foram constatados 64 pontos afetados pelo desmatamento e 40 pontos de destruição da vegetação através de queimadas. Em alguns trechos, o rio também apresentou um alto grau de assoreamento, provocando a baixa profundidade do rio.
Segundo o relatório, em algumas cidades, como Teresina e Floriano, a profundidade máxima do Parnaíba não passa dos 80 cm.
Imagem: Gil OliveiraClique para ampliarHomem pesca próximo a saída de esgoto no rio Parnaíba, em Teresina (PI).
“Com tudo isso que acontece, principalmente a poluição, a água fica de péssima qualidade, muitas doenças como hepatite meningite e diarreia podem ser transmitidas por conta disso. Significa dizer que uma parte das internações hospitalares poderia ser evitada. Existem ainda as ligações clandestinas de casas e prédios com as galerias pluviais. Nada disso é combatido, faltam políticas públicas”, destacou Francisco Soares.
Falta de comitê gestor da Bacia do Parnaíba
Por ocasião do Dia Mundial da Água, o governador Wilson Martins e o secretário estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semar) - assinam, no auditório da Universidade Federal do Piauí (Ufpi), em Bom Jesus, decreto de criação do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Gurguéia.
Francisco Soares afirma que essa pode ser considerada uma vitória torta. “Estamos há 10 anos tentando criar comitê da Bacia do Parnaíba. Esse é que deveria ser o primeiro a ser criado, pois esse é o rio que rege os demais, já que toda a bacia é hidrográfica da região é voltada para ele. O Gurguéia é importante sim, mas eles(o governo) deveriam ter começado pelo rio mãe”, disse.
Atualmente, a criação do comitê está sob coordenação da superintendência do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) no Piauí. “É um processo complicado porque envolve três estados: Piauí, Maranhão e Ceará. Estamos nesse processo de convencimento onde cada uma dessas unidades deve eleger um representante para assinar a documentação necessária para o pedido de criação do comitê”, afirmou Manoel Borges, superintendente regional no Piauí.
Segundo o gestor, toda o trabalho técnico de diagnóstico situacional do Rio Parnaíba já foi realizado. “Esse documento mostra vários aspectos em termos de poluição, desmatamento, o maior problema que é de assoreamento. O rio nasce em uma bacia sedimentar onde a erosão é comum, mas as queimadas e desmatamento aumenta esse fenômeno”, afirmou.
O secretário do meio ambiente do Piauí, Dalton Macambira, foi procurado para comentar sobre matéria, mas ele não foi encontrado.
Funções de um comitê
O comitê de uma bacia tem como finalidade reunir órgãos do poder público, sociedade civil e usuários de água para planejar o uso dos recursos hídricos na área de abrangência da bacia. Constitui-se colegiado das águas, onde os usuários de recursos hídricos, instituições de ensino e pesquisa, associações comunitárias, empresas operadoras de sistemas de saneamento, prefeituras e órgãos estaduais com atuação na área de recursos hídricos debatem e decidem sobre a melhor forma de resolver os problemas e também apontam meios de preservação da bacia.
Veja mais notícias sobre PiauÃ, clique em florianonews.com/piaui