"Ministério da Cultura está assumindo sua responsabilidade", diz Niéde Guidon
26/01/2017 08h43Fonte G1 PI
Imagem: Benonias CardosoNiéde Guidon (de camisa presa) com o ministro da Cultura, Roberto Freire.
Recebendo o ministro da cultura, Roberto Freire, para assinatura de um acordo de cooperação técnica de gestão compartilhada do Parque Nacional da Serra da Capivara, no Sul do Piauí, a arqueóloga Niéde Guidon afirmou nesta quarta-feira (25) que “finalmente” a União está assumindo a sua responsabilidade junto à unidade de conservação.
“Eu acho que finalmente o ministério está assumindo a sua responsabilidade, (já que o parque) é um patrimônio da humanidade. O ministério será responsável pela manutenção, o estado vai participar agora, para nunca mais termos os problemas que tivemos nos últimos anos, de pessoas demitidas. De 270 funcionários, estamos com 40. Vamos trazer de volta para a região o turismo e o desenvolvimento regional”, disse Niéde, que é diretora-presidente da Fundação do Homem Americano (Fumdham), uma das entidades gestoras.
Imagem: AFP Photo/Joaquim NetoClique para ampliarParque abriga mais antigos vestígios de homem da América.
A arqueóloga se referiu a anos de dificuldades financeiras pelas quais vem passando o parque, culminando em seu quase fechamento no segundo semestre do ano passado. Na ocasião, sem recursos para manter os salários em dia, a Fumdham deu aviso prévio para todos os funcionários da fundação.
O trabalho de Niéde Guidon, feito desde a década de 1970 na cidade de São Raimundo Nonato, principal porta de entra para a Serra da Capivara, contesta a teoria dominante de que o homem moderno teria chegado à América há 12 mil anos apenas via estreito de Bering em direção ao Alasca. Pesquisadores de uma expedição francesa, coordenados por Niéde, acharam no Piauí vestígios de uma fogueira feita há mais de 50 mil anos. Os arqueólogos também encontraram representações de arte rupestre que têm, aproximadamente, 29 mil anos, além de ossos com 12 mil anos.
Em encontro realizado nesta quarta-feira, o ministro da Cultura, Roberto Freire, o governador do Piauí, Wellington Dias (PT), o presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Ricardo Soavinski, a presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Kátia Bogéa, e a diretora-presidente da Fundação do Homem Americano (Fumdham), Niéde Guidon, assinaram um acordo de cooperação técnica para regular as relações entre os participantes e definir as atribuições específicas de cada um.
Segundo o ministério da Cultura, o acordo não prevê repasse de recursos, mas estabelece a criação do Comitê Permanente de Acompanhamento e Gestão. Esse comitê será formado por representantes do ICMBio (atualmente o responsável pela gestão do parque), do Iphan e da Fumdham e ficará encarregado da elaboração de um diagnóstico da situação atual do parque e, em sequência, de um plano de gestão que defina ações, prazos, responsabilidades e uma previsão de custos para execução das ações. O prazo para conclusão do plano é de seis meses.
"A responsabilidade do parque é de todos. É importante o contato permanente e não só formalidade. Estamos assumindo a responsabilidade junto com vocês (demais participantes). Vamos agora pensar no turismo e na importância do parque para o Piauí, para o Nordeste, para o Brasil e para a humanidade", disse Freire.
O Parque Nacional da Serra da Capivara conta com mais de 1.200 sítios arqueológicos e uma ampla infraestrutura de visitação. São centenas de quilômetros de trilhas e estradas bem sinalizadas para dezenas de sítios equipados para o recebimento de turistas. A unidade de conservação é o principal motor de desenvolvimento da região.