Mulher de preso diz ter sido chamada de "marmita de vagabundo" por PMs
17/12/2015 14h46Fonte G1 PI
Imagem: Fernando Brito/G1Mulher revela aflição e não deixa o presídio em busca de informações.
Quatro dias seguidos sem se alimentar e dormir direito, enfrentando a força policial e sofrendo com a falta de informação e hostilidade da polícia. Foi assim que passaram alguns familiares dos mais de 800 detentos da Casa de Custódia de Teresina, que se rebelaram por duas vezes esta semana. Na manhã desta quinta-feira (17), cerca de 60 homens do Comando de Missões Especiais (CME) mais a Força Nacional permanecem no local para garantir a segurança da unidade.
A reportagem do G1 conversou com a mulher de um dos presos, que por medo de represálias preferiu não ser identificada. Ela é uma das tantas que fazem plantão na porta da penitenciária desde a segunda-feira (14) quando houve o primeiro conflito no presídio. Segundo ela, o marido está há dois anos na penitenciária cumprindo pena por assalto e responde a outros processos na Justiça.
Imagem: Fernando Brito/G1Clique para ampliarPolícia montou barreira e manteve segurança reforçada na penitenciária.
“Nós aqui já tomamos nomes de todos os tipos dos policiais. Apelidos dos mais nojentos possíveis como marmita de vagabundo e panela de pressão de bandido. Estou aqui porque amo meu marido. Estamos aqui porque amamos os nossos familiares, esposos, irmãos, colegas e primos, que fizeram sim algo ruim para a sociedade e hoje pagam pelos seus erros”, disse ela.
Mãe de dois filhos, um de quatro e outro de apenas um ano, a jovem deixou os filhos aos cuidados de parentes e saiu do bairro Angelim, na Zona Sul da capital, assim que soube da rebelião. É com um colchonete que ela tem passado as noites no acampamento improvisado em frente ao presídio.
Emocionada, a jovem relatou que tem tomado apenas água e foi em casa algumas vezes para amamentar o filho bebê. Além da aflição pelo fato de não ter notícias sobre o marido, ela diz que a hostilidade dos policiais é outro fator que machuca mais ainda.
Imagem: Fernando Brito/G1Mulher de detento dorme em frente a presídio desde a primeira rebelião.
Com o entra e sai de viaturas da polícia, tropa de choque e ambulâncias, ela fica ainda mais apreensiva e teme pela integridade física do marido.
“Quem está aqui todos esses dias não conseguiu dormir com essa situação. São dias tensos e preocupantes. Só nós sabemos o que eles podem estar passado lá dentro. Ouvimos bombas, tiros. Vimos viaturas, ambulâncias entrando e saindo, soubemos de detentos gravemente feridos internados nos hospitais, e nenhuma autoridade, nenhum policial sai para dar notícias. Até agora não sei como ele está”, contou ela.
Rebelião de quase 20 horas
A rebelião da quarta-feira (16) só foi controlada quase 20 horas depois. Tropas de choque da Polícia Militar e da Força Nacional negociaram com os presos, que entregaram uma pauta de reivindicações a ser avaliada nesta quinta-feira (17) pela Secretaria Estadual de Justiça (Sejus).
Imagem: Gustavo Almeida/G1Familiares angustiados por infromações dos presos provocaram tumulto.
O dia foi de muito tumulto na porta do presídio. Revoltados, os parentes dos detentos que aguardavam por informações do lado de fora, acabaram derrubando as grades de proteção da Casa de Albergados de Teresina, prédio anexo à Casa de Custódia. Mais cedo, várias mulheres pararam um ônibus, obrigaram os passageiros a descer e apedrejaram o veículo.
A Secretaria Estadual de Justiça (Sejus) e Sindicato dos Agentes Penitenciários do Piauí divergem quanto ao número de detentos que ficaram feridos durante o conflito na Casa de Custódia. Segundo o governo foram cinco feridos, já os agentes falam em mais de 10.
Conforme a Sejus, nesta quinta-feira, cerca de 60 homens do Comando de Missões Especiais (CME) mais a Força Nacional permanecem no local para garantir a segurança da unidade.
Semana agitada
A primeira rebelião na Casa de Custódia aconteceu na segunda-feira (14). Presos de todos os pavilhões, mais de 800, se rebelaram contra a suspensão de visitas, das audiências de custódia e ainda diante da superlotação da penitenciária. Foram mais de 10 horas de conflito e do lado de fora os familiares chegaram a montar uma barricada e interditaram um trecho da BR-316.
Em Parnaíba, Litoral do estado, também houve tumulto. Na terça-feira (15), cerca de 450 detentos da Penitenciária Mista Juiz Fontes Ibiapina iniciaram motim e atearam fogo em colchões, quebraram cadeados, paredes e grades. A situação só foi contornada quase 14 horas depois com a intervenção da Tropa de Choque da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros, que foi acionado para conter o incêndio na unidade prisional.
No dia anterior, dois detentos conseguiram fugir da penitenciária e ainda não foram recapturados.
Conforme a Sejus, cerca de 50 militares se encontram na unidade para continuar assegurando a ordem. A equipe de engenharia também está no local para reparar danos estruturais e governo informou ainda que está reforçando a segurança nas demais unidades prisionais, com apoio da Polícia Militar.
Agentes em greve
Os conflitos nesses presídios acontecem na mesma semana em que os agentes penitenciários decidiram entrar em greve. De acordo com Kleiton Holanda, presidente do sindicato da categoria, os agentes cobram melhorias salarias e um acordo firmado com o governo para que fosse encaminhado à Assembleia Legislativa do Piauí dois projetos de lei. O envio deveria ter sido feito em novembro, mas não aconteceu.
Nesta quinta-feira uma reunião entre o Sindicato dos Agentes Penitenciários do Piauí (Sinpoljuspi), representantes da Secretaria Estadual de Justiça e Tribunal de Justiça será realizada para que as reinvindicações da categoria sejam apresentadas e ainda para dialogar sobre o pedido de prisão do comando de greve feito pelo estado.
"Caso a gente não chegue a um entendimento, não haja avanço e o estado não cumpra com as pautas reinvindicadas pela categoria, a greve vai continuar", falou Kleiton Holanda, diretor do Sinpoljuspi.
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