Pássaro descoberto no PI ganha nome em homenagem a Niède Guidon

29/06/2024 09h00


Fonte G1 PI

Imagem: Pablo CerqueiraFêmea da nova espécie (Sakesphoroides niedeguidonae) possui crista amarelada(Imagem:Pablo Cerqueira)Fêmea da nova espécie (Sakesphoroides niedeguidonae) possui crista amarelada

A arqueóloga e fundadora do Parque Nacional da Serra da Capivara, Niéde Guidon, foi homenageada com o nome de uma nova espécie de ave catalogada em artigo recente, a Sakesphoroides niedeguidonae. Anteriormente, o pássaro estava classificado na classe das chocas-do-nordeste (Sakesphoroides cristatus), mas pesquisadores descobriram que devido a alterações no curso do Rio São Francisco, as aves tornaram-se duas espécies distintas.

O estudo analisou 1.079 aves, incluindo 92 exemplares preservados em museus, 987 fotografias digitais, 115 gravações sonoras e 58 amostras de material genético. Entre as aves estudadas, está uma fêmea adulta de niedeguidonae encontrada na Serra Vermelha, no entorno do Parque Nacional Serra da Capivara, em São Raimundo Nonato, a 521 km de Teresina.

No artigo publicado no último dia 17, foi destacado que o Rio São Francisco tem papel importante na evolução das aves no domínio da Caatinga. Conforme a pesquisa, alterações no curso do rio ao longo dos anos podem ter causado a distinção entre as espécies de choca (Sakesphoroides).

Em trecho do estudo, os pesquisadores apontam que "a mudança no curso do rio e o grande ambiente pantanoso na área de Remanso e Petrolina poderiam ter desempenhado um papel no isolamento do ancestral de S. cristatus e S. niedeguidonae em duas populações".

Além disso, os pesquisadores apontam que oscilações climáticas ocorridas ao longo de um milhão de anos também possuem papel na divisão das espécies.

Entre as diferenças listadas, a pesquisa listou dois padrões diferentes de canto entre as aves e diferenças na plumagem das fêmeas. Em relação às análises filogenética, os pássaros apresentam distância genética 1,8% (o erro padrão é de ± 0,3%).

Pablo Cerqueira, um dos pesquisadores, explicou que o trabalho surgiu durante a execução do seu projeto de doutorado, que investigava o histórico evolutivo da caatinga.

“Durante as nossas análises, percebi primeiramente que fêmeas da espécie possuíam características diferentes em locais de diferentes da Caatinga. Verifiquei que fêmeas que ocorriam mais ao norte da Caatinga possuíam coloração mais clara e a cauda com barras brancas e escuras, enquanto fêmeas que ocorriam ao sul da Caatinga tinham coloração mais escura e sem as barras na cauda”, declarou o pesquisador.

O artigo "Uma nova choca (Aves: Thamnophilidae) endêmica da Caatinga e o papel das oscilações climáticas e da mudança de drenagem na formação da diversidade críptica das florestas secas sazonais neotropicais" foi desenvolvido pelos pesquisadores Alexandre Aleixo, Pablo Cerqueira, Gabriela Gonçalves, Tânia Quaresma, Marcelo Silva e Mauro Pichorim.

Dois dos pesquisadores, Pablo Cerqueira e Gabriela Gonçalves, são piauienses.

Imagem: DivulgaçãoA espécie Sakesphoroides niedeguidonae está concentrada na Caatinga (Imagem:Divulgação)A espécie Sakesphoroides niedeguidonae está concentrada na Caatinga 

Nome em homenagem a arqueóloga Niède Guidon

Imagem: Reprodução/TV ClubeA arqueóloga Niède Guidon concedeu entrevista à TV Clube em sua casa em São Raimundo Nonato (Imagem: Reprodução/TV Clube)A arqueóloga Niède Guidon concedeu entrevista à TV Clube em sua casa em São Raimundo Nonato 

Como ainda não havia sido descrita, os pesquisadores nomearam a espécie como Sakesphoroides niedeguidonae, em homenagem a arqueóloga e fundadora do Parque Nacional da Serra da Capivara, Niéde Guidon.

"Quando uma espécie nova é encontrada precisamos dar um nome a ela, e nossa escolha para isso foi homenagear a paleontóloga Niède. Ela é um símbolo de poder e persistência na preservação do ambiente da Caatinga e tem levado para o mundo o nome da Serra da Capivara, do Piauí, da vegetação e culturas únicas que estão na Caatinga. Uma homenagem para uma pesquisadora que nos inspira e que representa nossas origens”, concluiu o ornitólogo.

Arqueóloga conhecida pelos achados inéditos sobre a ocupação das Américas

Em 1970, Niéde Guidon como professora na França veio em missão até o Piauí para conhecer as pinturas rupestres em São Raimundo Nonato. A jovem pesquisadora fez uma das maiores descobertas arqueológicas ao encontrar desenhos datados de cerca de 30 mil anos.

Seus achados indicam a presença do homem americano anterior à teoria do Estreito de Bering, que datam de 13 mil anos o povoamento das Américas pelo Homo sapiens vindo da Ásia.

"Eu cheguei em São Raimundo Nonato e perguntei algumas pessoas sobre as pinturas nas paredes, e elas me mostraram alguns sítios. Eu vi a importância dessas pinturas completamente de tudo que se conhecia. Fotografei e consegui na França uma missão para vir até aqui. Em 1973, eu voltei com uma equipe de alunos e aqui ficamos mais de um mês fazendo o levantamento dessas pinturas e vimos a quantidade impressionante de sítios e a importância da região", comentou durante posse na Academia Piauiense de Letras (APL), em 2020.

Em 1978, as pesquisas de Niéde despertavam o interesse de biólogos e paleontólogos de todo o mundo, que resultou na missão Franco-Brasileira, que tinha o objetivo de estudar a parte pré-histórica, meio ambiente e meio social.

Somente em 1979 foi criado o Parque Nacional da Serra da Capivara, e no ano seguinte surgiu a Fundação do Homem Americano para facilitar e financiar as pesquisas na região.

Graças às descobertas da arqueóloga, a Unesco reconheceu o Parque Nacional da Serra da Capivara como Patrimônio Cultural da Humanidade.

"Eu agradeço todos que me ajudaram durante esses anos com as pesquisas e a criar o Parque Nacional Serra da Capivara", declarou Niéde.

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