PI teve três feminicídios por mês em 2024; gestos românticos fazem parte do ciclo de violência

31/05/2024 15h08


Fonte G1 PI

Imagem: G1Violência contra a mulher(Imagem:G1 G1)Violência contra a mulher

O Piauí teve três feminicídios por mês em 2024, conforme dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP-PI). Até o momento, 15 mulheres foram assassinadas no estado, número superior à metade do total de casos registrados em 2023, quando 28 mulheres morreram.

Para impedir que essa terrível estatística continue em evolução, a pesquisadora na área de gênero, violência contra a mulher e feminicídio, Estelyta Hanna, afirmou ao g1 que é preciso fazer com que mais mulheres procurem ajuda antes que o pior aconteça.

"O feminicídio consiste no assassinato de mulheres em razão do gênero. É a manifestação mais grave e cruel da violência perpetrada contra mulheres. Geralmente, é resultado último de uma série de violências vivenciadas pelas mulheres ao longo de suas vidas", explicou Estelyta Hanna.

Essas violências podem ser físicas, psicológicas, sexuais, morais e patrimoniais. "Isso significa, que a maioria das mulheres, antes de serem assassinadas, já haviam passado por situações violentas em um contexto conjugal. É o chamado Ciclo da Violência", informou.

Gestos românticos fazem parte do ciclo

Segundo Estelyta Hanna, o Ciclo da Violência é composto por três fases e, dentre elas, uma é conhecida como "Lua de Mel", que acontece após uma violência, momento em que o agressor demonstra arrependimento, promete que a agressão não irá mais se repetir e procura a reconciliação.

"Geralmente, ele torna-se mais amoroso e carinhoso, muda certos comportamentos, traz flores e presentes, o que convence as mulheres a se manterem no relacionamento, em especial, quando o casal tem filhos. No entanto, após um período, o ciclo torna a se repetir", explicou.
Essa é a terceira fase. A primeira fase, chamada de aumento da tensão, é quando o agressor demonstra irritação com coisas irrelevantes, passando a ter acessos constantes de raiva e grosseria.

"Ele também pode humilhar a companheira e fazer ameaças. A mulher tenta acalmá-lo, fica temerosa e evita qualquer situação que possa ocasionar a sua fúria. Na maioria das vezes, a mulher nega os acontecimentos, esconde os fatos das demais pessoas e passa a se culpar pelo comportamento do agressor", descreveu a pesquisadora.

A segunda fase é o ataque violento, que corresponde à explosão do agressor. "Nesse momento, toda a tensão acumulada na primeira fase se materializa em violência física, psicológica, sexual, moral ou patrimonial", disse Estelyta Hanna.

"É nessa fase que muitas mulheres tomam decisões, sendo as mais comuns: buscar ajuda, denunciar, esconder-se na casa de amigos e parentes, pedir a separação. Há, em geral, um distanciamento do agressor", completou.

Romper o ciclo ao menor sinal de abuso

Segundo a delegada Nathalia Figueiredo, titular do Núcleo de Feminicídio do Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP). "O feminicídio é justamente o resultado da não denúncia em relação às outras formas de violência", afirmou.

"Então quando a mulher não denuncia a violência sexual que ela sofreu, a violência física, a violência moral, patrimonial, essa violência ela progride e pode chegar até em situações como feminicídio. Então, ao menor sinal de abuso, o rompimento desse ciclo é importante", completou a delegada.

Fortalecimento da autonomia e autoestima das mulheres

Conforme Estelyta Hanna, um caminho para mudar essa realidade é a implantação de políticas públicas de habitação, trabalho e qualificação profissional, educação e saúde, com foco no fortalecimento da cidadania, da autonomia e da autoestima das mulheres, principalmente em situação de vulnerabilidade social.

A pesquisadora alerta que também é importante qualificar todos os profissionais que atuam, de forma direta ou indireta, com a rede de enfrentamento à violência contra as mulheres. "É preciso dar ênfase à perspectiva de gênero e ao diagnóstico de situações de violência", disse.

"É preciso romper a velha ideologia baseada no machismo, racismo e patriarcado, que em algumas situações, culpabilizam as mulheres pelas violências sofridas. Elas precisam se sentir acolhidas, amparadas, e, mais que isso, protegidas", completou.

Além disso, Estelyta Hanna afirmou que é preciso conscientizar as pessoas em relação a pautas como gênero, patriarcado, violência contra as mulheres e feminicídio, como forma de ampliar o conhecimento e promover, a longo prazo, uma mudança estrutural na sociedade.

"É no ambiente educacional, sejam eles creches, escolas ou universidades, que podem surgir iniciativas capazes de fazer a diferença e serem pontos de partida para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. É preciso romper com a aparente conivência da população em relação aos crimes praticados por homens contra as mulheres no país", declarou.

Onde e como procurar ajuda

Quem for vítima ou presenciar situações de violência doméstica, pode acionar a Polícia Militar, no momento da ocorrência, pelo número 190, ou contatar o número 180, do Central de Atendimento à Mulher do Governo Federal.

A Polícia Civil pode ser acionada por meio das Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (Deam). O g1 listou os canais de ajuda que a população pode acionar para denunciar os casos de violência doméstica.
  • O 190 é o número disponibilizado pela PM para que a população possa realizar denúncias de casos de violência contra a mulher;
  • Número 180, da Central de Atendimento à Mulher, do Governo Federal;
  • A Patrulha 24h disponibiliza o: 86 9 9528-3835;
  • Para mulheres que já possuem medida protetiva há também o: 86 9 9414-8857.
  • A Guarda Maria da Penha disponibiliza o 153 para ligação.
  • Para mensagem, a GCM tem o 86 3221-3499.
  • Através do botão do pânico no aplicativo Salve Maria;
  • Protocolo de atendimento emergencial para mulheres em situação de violência no estado “Ei, mermã! Não se cale!” através do número 0800-000-1673;

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