Piauiense de 28 anos sobrevive a terremoto na Nova Zelândia

25/02/2011 11h12


Fonte GP1

Faltava pouco para as 13h da tarde da terça-feira (22) na Nova Zelândia, noite de segunda no Brasil, quando a brasileira Mayra Mapurunga, 28, pensou em passar na padaria próxima à loja de material esportivo onde trabalha, no centro de Christchurch, cidade que foi devastada por um terremoto que deixou ao menos 75 mortos.

Mayra consultou o relógio e, como já estava atrasada para voltar do horário do almoço, desistiu. Assim que chegou ao caixa da loja, ela sentiu o chão tremer e demorou quase dois minutos para percorrer os poucos metros até a calçada. O que viu depois disso ela descreve como “uma cena de filme de terror”.

“Na rua inteira os prédios caíram, [havia] gente morta na minha frente, crianças sangrando. O pior não é o terremoto, mas o barulho que vem com ele”, conta a piauiense de Teresina.

O terremoto de magnitude 6,3 que atingiu a ilha sul do país, a dez quilômetros da cidade, surpreendeu os moradores de Christchurch no horário do almoço. Ruas e lojas estavam muito movimentadas, conta a brasileira. Na padaria próxima à loja em que Mayra trabalha, não houve sobreviventes após o tremor.

Leia a seguir trechos do depoimento da brasileira, que vive há 5 anos na Nova Zelândia, por telefone ao G1:

“Trabalho no centro da cidade, um dos piores lugares atingidos. Saí da loja para resolver a passagem da minha mãe, que viria no próximo mês com minha irmã e sobrinho. Na volta, decidi passar na padaria perto da loja. Olhei e pensei que não ia mais por estar atrasada. Quando cheguei, a loja começou a tremer, tudo começou a quebrar.

“Corri o mais rápido que pude porque trabalho no térreo. Minha chefe, que estava almoçando na parte de trás da loja, tropeçou, se machucou. O prédio ficou meio entortado. Quando cheguei na rua, a cena era de filme de terror. Na rua inteira, os prédios caíram, [havia] gente morta na minha frente, crianças sangrando. Pior não é o terremoto, mas o barulho que vem junto. Não quero passar por isso nunca mais na minha vida. Estava aqui no [tremor] de setembro, mas foi mil vezes pior. O outro foi às quatro da manhã e as pessoas estavam em casa. Ninguém morreu.

“Não consegui contato com meu marido, que trabalha fora, a uns 40 minutos de Christchurch. Todos os telefones estavam fora de linha. Não consegui ligação com ninguém. Tudo que via na frente eram pessoas gritando, tentando socorrer um ao outro. Na padaria onde eu ia passar, todos morreram.

“Fiquei sozinha muitas horas. Depois, corremos para um parque porque havia risco de gás explodir. Fiquei com outro brasileiro que trabalho próximo, que também estava todo coberto de pó, no Hagley Park.

“O terremoto não parava, era um tremor após o outro. O chão abriu inteiro, eram rachaduras em todo lugar. O chão fica argiloso e afunda quando você pisa. Todo mundo saiu junto do centro. Ficamos muitas horas até que Rob, meu marido, nos encontrou. Caminhamos por mais umas 2 horas até chegar em casa.

“No centro, todos os estacionamentos caíram. O prédio da CTV [emissora local], desabou inteiro. Ainda tem muita gente lá. Acho que do lado tinha um prédio onde funcionava uma escola de inglês com 20 estudantes do Japão, que morreram todos.

“Quando chegamos em casa, minha cozinha estava toda quebrada, perdi tudo. O banheiro quebrou, tem rachaduras na casa toda, mas dá pra viver. Amigos brasileiros perderam tudo, não tem condição de voltar em casa nem para pegar roupas.

“Na minha família e a do meu marido está tudo bem. Liguei para minha irmã, que mora em Nelson [a 430 km de Christchurch] e está tudo bem. Lá foi menos forte. Moro na Nova Zelândia há 5 anos. Vim estudar inglês e conheci meu marido, que é neozelandês.

“Em casa, já temos telefone, eletricidade, mas não tem água. Para usar o banheiro, precisamos sair de casa. Ainda estou sem meus documentos. Minha bolsa com dinheiro e tudo ficou na loja. Ainda não pudemos voltar. Fecharam o centro inteiro. O pior é que o segundo maior prédio daqui, do Chancellor Hotel está a ponto de cair. Se isso acontecer, pode atingir outros cinco prédios.

“Sei que vai ser difícil para levantar a cidade de novo, já gastaram US$ 8 bilhões com o terremoto de setembro. Acho que o centro vai ser todo destruído, mas temos esperança que o governo vai ajudar. Ninguém está trabalhando, ainda tem toque de recolher. A única coisa que estamos pensando agora é tentar socorrer os que ainda estão presos nos prédios.”

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