Quadrilha usava app de mensagens para negociar gabaritos, diz polícia

11/03/2016 07h40


Fonte G1 PI

Imagem: Catarina Costa/G1 PISuspeitos de fraudes foram conduzidos para a Acadepol.(Imagem:Catarina Costa/G1 PI)Suspeitos de fraudes foram conduzidos para a Acadepol.

A Polícia Civil do Piauí descobriu que a quadrilha desarticulada nesta quinta-feira (10) negociava gabaritos e contratava pessoas para responder as provas de concursos públicos por meio de um grupo em um aplicativo de mensagens instantâneas. A fraude foi descoberta a partir da apreensão de celulares com candidatos no dia da prova do certame do Tribunal de Justiça do Piauí, realizada em dezembro do ano passado.

Imagem: Catarina Costa/G1 PIClique para ampliarDelegado Kleidson Ferreira do Greco (Imagem: Catarina Costa/G1 PI)Delegado Kleidson Ferreira do Greco 

De acordo com o delegado Kleidson Ferreira, do Grupo de Repressão ao Crime Organizado (Greco), os investigados na Operação Veritas, trocavam mensagens para acertar todo os detalhes da fraude. Além disso, a quadrilha também falsificava certificados de graduação.

“Esses celulares que foram apreendidos durante a realizada da prova do TJ-PI são de fabricação estrangeira e tem quantidade menor de metal, o que pode ter facilitado para que o detector de metais não acusasse. Novas prisões ainda podem ser feitas e, se necessário, mais mandados serão expedidos”,
falou o delegado.

Entre os presos estão uma estudante de medicina, um militar do Corpo de Bombeiros e um agente da Superintendência de Transportes e Trânsito (Strans). Conforme o delegado, os três seriam as pessoas contratadas para fazer as provas e repassar o gabarito.

Os três advogados, um analista do Ministério Público Estadual, policiais e agentes penitenciários, candidatos que concorreram no concurso do TJ-PI, foram beneficiados com o esquema fraudulento.

Segundo a polícia, a quadrilha já vinha atuando há um ano, inclusive fraudando concursos fora do Piauí. Uma candidata que concorreu a uma vaga de professor na prefeitura de Fortaleza, no Ceará, além de recorrer à quadrilha para ter acesso ao gabarito da prova, também apresentou diploma de graduação falso.

Conforme o delegado Kleidson Ferreira, além do concurso do Tribunal de Justiça do Piauí, da Prefeitura de Capitão de Campos, também é possível que a quadrilha tenha beneficiado candidatos nos concursos da Secretaria de Educação do Maranhão (Seduc) e Tribunal Regional Eleitoral (TRE) também no estado maranhense.

“Todas as bancas organizadoras desses concursos foram procuradas por nós e ajudaram com as investigações. No caso do concurso do TJ-PI, vamos elaborar um relatório e encaminhar ao órgão para que eles avaliem a possibilidade de anular ou não o certame”,
falou ainda o delegado.

Imagem: Divulgação/Polícia CivilPoliciais cumprem mandados na capital e no interior do Piauí.(Imagem:Divulgação/Polícia Civil)Policiais cumprem mandados na capital e no interior do Piauí.

Sobre a operação
Homens do Grupo de Repressão ao Crime Organizado (Greco) e cerca de 200 policiais civis cumprem nesta quinta-feira 37 mandados de prisão, 34 de busca e apreensão e 46 de condução coercitiva.

Imagem: Gilcilene Araújo/G1Clique para ampliarDelegado Carlos César, coordenador do Greco.(Imagem:Gilcilene Araújo/G1)Delegado Carlos César, coordenador do Greco.

De acordo com o coordenador do Greco, delegado Carlos César, a quadrilha não tinha acesso aos gabaritos, mas contratava estudantes e especialistas de algumas áreas para fazer as provas, respondiam as questões das disciplinas que eles tinham conhecimento específico e as demais questões marcavam de forma aleatória.

"Eram várias pessoas contratadas pelo grupo fazendo a mesma prova. Elas deveriam responder em tempo hábil as questões, depois se reuniam para montar o gabarito e passavam via celular para o a candidato. Um menor foi apreendido por fraude no concurso do TJ. Ele fez a prova de matemática e confessou como acontecia o esquema", disse o delegado Carlos César sem dar valores pagos pelos candidatos.

Advogados de alguns dos suspeitos presos compareceram até a Academia de Polícia (Acadepol), mas nenhum deles quis se pronunciar.

O presidente da Ordem dos Advogados (OAB) do Piauí, Francisco Lucas Costa, esteve na Acadepol para levantar informações sobre a participação dos advogados suspeitos de participação na quadrilha. Ele contou ainda que após a confirmação da fraude no concurso do Tribunal de Justiça, a OAB deve acionar o órgão sobre a possibilidade de anulação do certame.

O Tribunal de Justiça do Piauí informou que só deve se pronunciar no final do inquérito policial. O Ministério Público Estadual, disse que está ciente da prisão de um servidor do órgão e só irá posicionar sobre o caso depois que for acionado pelo delegado geral da Polícia Civil.

A Superintendência de Transportes e Trânsito (Strans) também só deverá comentar o caso após uma avaliação da denúncia contra o agente preso.

O concurso do TJ
No dia do concurso, quatro candidatos foram detidos após serem flagrados com aparelhos celulares, documentos falsos, mas liberados após prestarem esclarecimentos. A polícia confirmou que alguns deles estão entre os alvos dos mandados de condução coercitiva cumpridos nesta quinta-feira (10).

Em dezembro do ano passado, 42.920 candidatos disputaram as 180 vagas ofertadas no concurso público do Tribunal de Justiça do Piauí (TJ-PI).

Tópicos: candidatos, concurso, greco