Sargento dos bombeiros denunciado por violência doméstica enforcou vítima na frente dos filhos

20/09/2024 10h01


Fonte G1 PI


Imagem: ReproduçãoSargento dos bombeiros enforcou vítima na frente dos filhos.(Imagem:Reprodução)Sargento dos bombeiros enforcou vítima na frente dos filhos.

Em novo vídeo divulgado pela estudante de jornalismo Yara Ataíde, o ex-marido, o sargento Gilvan Freitas, do Corpo de Bombeiros do Piauí (CBMEPI), aparece dando um mata-leão e enforcando a jovem na porta da casa dela e em frente aos filhos do casal. A agressão foi filmada pela câmera de segurança do local, em Timon, na última quarta-feira (18).

Segundo Yara, o episódio aconteceu horas antes de ela denunciar, nas redes sociais, que foi vítima de violência doméstica do ex-marido nos sete anos em que foram casados. O mata-leão que sofreu do sargento a motivou a tornar o caso público. O g1 não conseguiu contato com a defesa do suspeito.

“Ele chegou na porta da minha casa com uma mulher, me agrediram verbalmente e a gente se desentendeu. Ele veio para cima de mim e passou uns 15 minutos me enforcando, sufocando mesmo, me deu um empurrão. Todo mundo da vizinhança viu. Aí decidi mostrar o agressor que ele é”, contou a estudante.

A agressão na frente dos filhos não foi a única sofrida por Yara. Há cerca de 15 dias, outro vídeo de câmera de segurança mostra Gilvan socando o rosto da ex-esposa. Ela ficou com um hematoma no olho.

Além disso, segundo a mulher, ela já teve uma arma colocada na boca, levou uma coronhada na testa - que deixou uma cicatriz - e foi agredida pelo bombeiro quando estava com a filha recém-nascida, hoje com dois anos, no colo.

Conforme Yara, o sargento chegou a ser preso em flagrante após agredi-la e atirar para o alto durante um festival junino em Timon. Ele pagou fiança, foi solto no dia seguinte e teve a arma apreendida pelo Corpo de Bombeiros. O bombeiro a convenceu depois a reatar a relação.

Após a última agressão, na porta de casa, e a denúncia feita nas redes sociais, Yara precisou sair de casa com os filhos pequenos. Ela está na casa de familiares, mas continua a temer o que o ex-marido pode fazer com ela e as crianças.

“Hoje sou uma pessoa altamente depressiva e ansiosa. Antes de conhecê-lo, eu era saudável, mas não sou mais. Espero que ele seja preso e pague por todos os danos que passei, que nunca vão sair da minha vida. Posso fazer anos de terapia e nunca vou esquecer esse trauma”, declarou a estudante.
Imagem: ReproduçãoJornalista denuncia agressões do ex-marido durante sete anos; suspeito é bombeiro.(Imagem:Reprodução)Jornalista denuncia agressões do ex-marido durante sete anos; suspeito é bombeiro.

Na manhã de quinta-feira (19), Yara denunciou as agressões na Casa da Mulher Brasileira, em Teresina. Ela também protocolou a denúncia na corregedoria do Corpo de Bombeiros e vai passar por exame de corpo de delito no Instituto Médico-Legal (IML) de Timon. O caso será investigado pela Delegacia da Mulher de Timon.

Procurado, o Corpo de Bombeiros informou que o caso está sendo apurado pelo Comando Geral do órgão, e que um procedimento administrativo foi aberto para apurar a conduta do militar, tanto no âmbito de suas funções dentro da corporação quanto em sua vida social. Leia a nota completa ao fim da reportagem.

No mesmo dia em que Yara divulgou um vídeo em que aparece sendo agredida por Gilvan Freitas, o sargento do CBMEPI enviou para ela um áudio com uma ameaça.

Na gravação, o sargento diz que, se for expulso da corporação, ela e os filhos serão prejudicados também, já que a família depende dele financeiramente.

“Se por acaso eu perder minha farda, eu vou prejudicado e tu vai junto, teus filhos vão junto. Tu esquece isso aí. Fica à vontade, vai embasada, porque o feitiço pode virar contra o feiticeiro”, afirmou o sargento em áudio enviado ao g1 pela estudante.

Na última quarta, Yara denunciou que sofreu violência doméstica do ex-marido durante os sete anos em que eles foram casados. Ela divulgou imagens que a mostram sendo atingida por um soco no rosto. Os filhos do casal, um menino de 4 anos e uma menina de 2 anos, presenciaram essa e outras agressões.

Jovem relembra episódios anteriores
Imagem: Eric Souza/g1Estudante denuncia agressões do ex-marido durante sete anos; suspeito é bombeiro.(Imagem:Eric Souza/g1)Estudante denuncia agressões do ex-marido durante sete anos; suspeito é bombeiro.

Segundo a estudante, o bombeiro não era agressivo na época em que os dois namoravam, mas o ciclo de violência começou assim que se casaram e passaram a morar juntos, em 2017, na cidade de Timon, vizinha a Teresina.

Na época, o sargento chegou a ser preso em flagrante por porte ilegal e teve a arma recolhida. Além da violência física, Yara contou que o ex-marido a agredia verbal e psicologicamente.

“Ele sempre me colocava para baixo, cheguei a pesar 90 kg. Tive depressão e ansiedade por todos esses anos em que vivi com ele. A gente estava separado há duas semanas, justamente no dia em que levei um soco e postei o vídeo nas redes sociais”, lembrou a estudante.

Agressão filmada

Após o episódio, que aconteceu há cerca de 2 semanas e que lhe deixou com um hematoma no olho, Yara cogitou não expor as agressões que sofria. No entanto, nessa quarta-feira (18) o sargento a enforcou na porta de casa, diante das câmeras de segurança. Por conta disso, ela decidiu publicar o vídeo.

Antes de levar a situação às redes sociais, a estudante já havia denunciado o ex-esposo à polícia e conseguido uma medida protetiva, descumprida posteriormente por ele. Yara também procurou o Corpo de Bombeiros, que, segundo ela, foi “completamente omisso”. A corporação teria bloqueado o perfil de Yara.

“Na primeira vez que ele me agrediu, eu também postei nas redes sociais, mas de madrugada. Marquei o [perfil] do CBMEPI e eles me bloquearam. Ele me pressionou psicologicamente e eu apaguei a publicação, não repercutiu como dessa vez”, ressaltou.

Leia a nota do Corpo de Bombeiros:

NOTA OFICIAL

O Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Piauí (CBMEPI) vem a público informar que, na manhã desta quinta-feira (19), tomou conhecimento das recentes imagens veiculadas na mídia, supostamente envolvendo um bombeiro militar da corporação em uma lamentável cena de violência doméstica. O CBMEPI esclarece que foi determinada a abertura de um procedimento administrativo para apurar a conduta do militar, tanto no âmbito de suas funções dentro da corporação quanto em sua vida social.

Reiteramos que qualquer comportamento que atente contra a dignidade da pessoa humana não reflete os valores do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Piauí. Não apoiamos, incentivamos ou compactuamos com qualquer tipo de violência. O CBMEPI reafirma seu compromisso com os direitos humanos, com a proteção da integridade das mulheres e com a promoção de uma sociedade segura, baseada no respeito, dignidade e acolhimento, que são deveres de todo agente de segurança pública.

Informamos ainda que o Estado do Piauí dispõe de diversos centros especializados de apoio às mulheres vítimas de violência, onde podem buscar acolhimento, suporte e orientação. Seguem os contatos de referência.


Como denunciar e buscar ajuda?

As mulheres vítimas de violência podem denunciar e buscar ajuda nos seguintes canais:
  • Disque Direitos Humanos: telefone 100;
  • Aplicativos: botão de pânico do Salve Maria;
  • “Ei, mermã! Não se cale!”: protocolo de atendimento emergencial (0800-000-1673);
  • Guarda Maria da Penha (Guarda Civil Municipal de Teresina): telefone 153 ou mensagem (86 3221-3499);
  • Central de Atendimento à Mulher: telefone 180;
  • Polícia Militar: telefone 190, Patrulha 24h (86 99528-3835) e mulheres que possuem medidas protetivas (86 99414-8857);
  • Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM): confira telefones e endereços na matéria;
  • Qualquer delegacia de Polícia Civil.

Tópicos: mulher, marido, agress?es