Tradições quilombolas têm patrimônio histórico vivo, culinária própria e curiosidades surpreendentes
13/11/2022 10h50Fonte G1 PI
Imagem: ReproduçãoTradições quilombolas do Sul do Piauí têm patrimônio histórico vivo, culinária própria e curiosidades surpreendentes.
Centenas de comunidades quilombolas no Piauí preservam tradições e ensinamentos repassados várias gerações. No Sul do estado, essas localidades guardam, pro exemplo, patrimônio vivo cultural, receitas e vestuários produzidos originalmente pela região e até mesmo curiosidades surpreendentes.
O programa Piauí de Riquezas deste sábado (12) visitou três diferentes comunidades quilombolas do interior do Piauí para conhecer mais de seus povos, costumes e sabores.
"O conceito de comunidade quilombola hoje são comunidades predominantemente negras, que têm um histórico de conflitos pelo acesso à terra, que têm um traço de ancestralidade com as pessoas afrodescendentes, que vieram da África e foram escravizadas no Brasil e que preservam um modo de ser, viver e fazer buscando ainda preservar traços culturais de seus ancestrais", explicou o defensor público Benoni Moreira.
De acordo com o Observatório dos Quilombos, no Piauí constam 91 comunidades quilombolas. Já o IBGE aponta 215 localidades com valores culturais decorrentes da influência negra.
Mimbó
Localizado a 161 km de Teresina, na zona rural de Amarante, o quilombo Mimbó foi instalado a cerca de 200 anos e abriga atualmente 150 famílias que preservam várias tradições, como explicou a professora Idelzuíta Paixão.
"Hoje nosso quilombo está com 204 anos de existência. O mimbó tem a sua resistência deixado pelos meus avós maternos e paternos, eles que vieram fugidos da escravidão de Pernambuco. A primeira cultura formada aqui na comunidade foi o Pagode do Mimbó, fundado pela minha vó materna que morreu em 2 de julho de 1953", afirmou a moradora.
Imagem: Gustavo Almeida/G1 Dona Idelzuíta é uma das moradoras mais tradicionais da comunidade.
Para compor o pagode, é usado um figurino repleto de cor e estilo, com turbantes coloridos e passos dançados por todas as gerações. Essas peças de roupa são confeccionadas por algumas moradoras da região.
Os tecidos são todos doados, as peças também são desenhadas pelas mulheres da comunidade que criaram a própria marca, que representa o empoderamento feminino.
"Recebemos o curso de capacitação onde 34 mulheres foram beneficiadas. E hoje somos artesãs com carteirinha, com peças maravilhosas e exclusivas", explicou a artesã Marta Paixão.
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Além das roupas, existem outros trabalhos artesanais, como artigos decorativos.
Também é no mimbó que outra tradição é preservada: a culinária. Aqui uma paçoca doce feita com farinha de mandioca, açúcar e semente de gergelim é triturada e servida em copos plásticos para os moradores.
Engenho Velho
Na zona rural de Assunção do Piauí, 90 famílias vivem no quilombo Engenho Velho. Na região falta de tudo um pouco, principalmente saneamento básico. Contudo, os moradores da região que preservam a cultura do local, formam a comunidade e resistem ao longo do tempo.
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"Aqui a gente conhece todo mundo. Quase tudo é parente. Morar aqui é bom, fui nascido e criado aqui e agente se sente feliz morando aqui. Eu não tenho coragem de ir embora daqui, só quando eu morrer. Tenho orgulho de morar aqui", comentou o agricultor José Maria.
Na comunidade existem várias curiosidades, dentre elas o fato de todas as mulheres terem sido registradas com o nome de Maria e todos os moradores terem algum tipo de parentesco.
"É Maria de Fátima, é Maria das Dores, no caso, eu, é Maria Francisca, é Maria Antônia, é Maria Clara. Isso é porque a comunidade é devota a Nossa Senhora da Conceição, somos muito católicos então toda mulher que nasce é Maria. Aqui todo mundo é parente, primo casa com primo. Só existe 4 sobrenomes: Silva, Lima, do Nascimento e Nazária", contou a professora Maria das Dores.
Uma "Maria" que se destacou dentre as demais é a Maria da Cruz, ela é curandeira e rezadeira. Segundo a senhora, sua porta de casa fica constantemente aberta, até de madrugada, se alguém precisar de seus serviços, ela atendente prontamente.
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"Quando tem uma criança doente, eles trazem até mim e eu rezo, se precisar de um remédio eu faço um remedinho do mato e passo pra criança, se um adulto precisar eu faço e passo também. E eu rezo de vários tipos, [Sic.] alevantando a espinhela, as arcas, a companhia e todo mundo se dá bem", afirmou.
Tranqueira
Na zona rural de Valença do Piauí, a 215 km de Teresina, se localiza o quilombo Tranqueira. A região é famosa devido à personalidade conhecida por seus dons curandeiros com remédios naturais e rezas poderosas. Além disso, há um patrimônio vivo no quilombo.
"Meu avô veio pra cá em 1912 e a partir da minha família com costumes e tradições vivemos até hoje, rezas, curas. Meu avô era um caçador vivia do que fazia, meu tio, irmão dele, era rezador fazia cura", contou o aposentado Pedro Feliciano.
Imagem: Reprodução Tradições quilombolas do Sul do Piauí têm patrimônio histórico vivo, culinária própria e curiosidades surpreendentes.
Seu tio era famoso na região por curar enfermidades através de elementos naturais que encontrava na comunidade e ficou conhecido em muitos lugares no Nordeste, como afirmou o historiador valenciano José Mambenga.
Atualmente a comunidade quilombola da tranqueira tem 72 famílias. Tradicionalmente a localidade celebra, ao menos uma vez no mês, uma dança típica que reúne todos os moradores. Como exemplo, a dança de reisado e dança de manoê.
Imagem: Reprodução Tradições quilombolas do Sul do Piauí têm patrimônio histórico vivo, culinária própria e curiosidades surpreendentes.
Aos 76 anos, o morador Antônio Costa é cantador e dançador de reisado, a arte foi repassada pelos seus pais e antes disso pelos seus avós, desde então ele alegra as festividades do quilombo. Em 2020, ele recebeu o título de patrimônio cultural vivo do Piauí.
"Brinca todo mundo alegre, vou pra casa dos vizinhos e todo mundo brinca, um brinca uma noite, outro brinca um [Sic.] pedaço, outro brinca outro, mas por tanto todo mundo brinca e todo mundo sai satisfeito", falou rindo Antônio.
Quilombos representam força e resistência, mas também a multiplicação da cultura representada por movimentos e vozes que serão ouvidas ainda por muitas gerações.
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