Tragédia em Algodões: Governo afirma que quitou indenizações à s vÃtimas de rompimento de barragem
08/02/2020 08h15Fonte G1 PiauÃ
Imagem: Maria Romero/G1Barragem Algodões 10 anos após o rompimento.
O Governo do Piauí anunciou, nessa quinta-feira (6), que quitou as indenizações às vítimas do rompimento da Barragem de Algodões, que aconteceu em 2009 no município de Cocal, no Norte do Piauí. Porém, antes da conclusão, as famílias chegaram a denunciar pelo menos duas vezes a falta de pagamento por parte do governo das indenizações recebidas mensalmente.
A Secretaria de Fazenda (Sefaz) informou que foram repassados às famílias atingidas pela tragédia R$ 51 milhões, que foram divididos em 30 parcelas. Para receber o dinheiro, as vítimas apresentaram uma declaração individual manifestando o valor desejado.
Para a quitação acontecer, a Sefaz afirmou que o estado fez um acordo com a Associação das Vítimas da Barragem Algodões (Avaba), homologado em assembleia e perante o Tribunal de Justiça do Piauí (TJ-PI).
Após 10 anos de tragédia, 10% das vítimas haviam retomado as atividades
No dia 27 de maio de 2019, o rompimento da barragem Algodões completou 10 anos. O G1 apurou que 10% das cerca de 2 mil famílias atingidas pela tragédia conseguiram retomar as atividades que eram realizadas na região do Vale do Piranji antes do incidente. Com o rompimento, nove pessoas morreram e pelo menos 4 mil foram afetadas de alguma forma.
Destas 2 mil, pelo menos 1,2 mil famílias estiveram aptas a receber algum tipo de indenização e 900 foram de fato indenizadas. Tudo foi acordado judicialmente e o valor total de R$ 60 milhões deveria ser pago até novembro do ano passado. Apesar de atrasos pontuais, a Associação das Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Algodões (Avaba) afirmou que o acordo estava sendo cumprido rigorosamente.
Prejuízo ambiental é irrecuperável
Imagem: Maria Romero/G1Alexandre Almeida, secretário de agricultura de Cocal
O secretário de agricultura de Cocal, Alexandre Almeida, é também dono de uma propriedade no Vale do Piranji, que foi afetada com o rompimento. Na época, a propriedade ainda não era sua, era apenas alugada. Ele calcula que entre os prejuízos e gastos para tentar apenas recuperar o solo do lugar já investiu cerca de R$ 80 mil.
Um dos grandes problemas, além da falta da água do rio, é que a enxurrada trouxe também muita areia para o lugar onde havia terra rica e fertilizada. O solo arenoso, pobre em nutrientes, dificulta o cultivo de qualquer cultivo. Mesmo com todo o investimento, segundo ele, ele estima que atualmente, 10 anos após o desastre, a terra só conseguiu recuperar cerca de 60% das propriedades para cultivo que existiam antes do rompimento da barragem.
Outro problema, segundo ele, foi a mudança no relevo do solo das terras dos agricultores, incluindo as suas. Há acúmulos de areia e pedra que impedem o nivelamento e impedem que os tratores circulem com facilidade.
Já a criação de peixes, muito comum nos assentamentos, deixou de existir completamente. A pequena profundidade do rio impede a permanência dos animais, porque com uma lâmina de água tão rasa, que acaba esquentando excessivamente sob o intenso calor do sol. Assim, ou os animais morrem ou não conseguem subir o leito do rio para realizar a piracema, período de reprodução.
O secretário de meio ambiente diz ainda que outro grande problema foi o desmatamento causado pelo grande volume de água, que correu rapidamente pelo leito do rio. Segundo ele, estava previsto um projeto chamado “Um milhão de mudas”, que previa a distribuição de mudas e sementes entre os moradores da região para promover o replantio de espécies nativas.
“Mas isso era um projeto que era uma parceria do município com a Semar, que nunca mais deu um posicionamento sobre isso. Realmente a respeito dessa situação e de outros problemas, nada tem sido feito”, declarou.
Rompimento da barragem
Imagem: Fernando Cardoso/TV ClubeAgrovila no assentamento Jacaré, construída após rompimento da barragem Algodões
O rompimento da barragem matou nove pessoas e deixou centenas de desabrigados após 50 milhões de metros cúbicos de água serem liberados em poucos minutos. Na época, o Ministério Público Estadual, a Associação das Vítimas e Amigos da Barragem Algodões (Avaba) e parentes das vítimas entraram com ações contra o estado.
A água provocou uma erosão de um quilômetro entre o sangradouro e a parede da represa. Diante do risco de inundações, uma faixa de 100 quilômetros de extensão em três municípios foi isolada e moradores retirados às pressas e levados para abrigos. A barragem foi construída na década de 90, durante gestões do ex-governador Mão Santa.
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