Vítima de estupro diz que recebeu oferta de dinheiro para não denunciar

16/06/2016 08h26


Fonte G1 PI

Imagem: Reprodução/TV ClubeVítima revelou que não lembra do que aconteceu.(Imagem:Reprodução/TV Clube)Vítima revelou que não lembra do que aconteceu.

A jovem de 21 anos vítima do estupro coletivo em Sigefredo Pacheco, a 160 km de Teresina, disse que dois dos suspeitos chegou a procurá-la e oferecer dinheiro para que ela não denunciasse o caso. A proposta foi feita quando a moça procurou os rapazes para saber do seu celular que havia desaparecido e saber o porquê haviam gravado e divulgado o vídeo em que aparece sendo abusada.

“Ofereceram dinheiro para eu não levar adiante. Disseram que eu podia pedir a quantia que quisesse para não denunciar”,
falou.

O G1 conseguiu entrevistar a moça e toda conversa foi acompanhada pela sua advogada. Envergonhada, Paula*, nome fictício que usaremos para não identificar a jovem, falou que soube, por sua vizinha, que um vídeo com imagens suas havia sido compartilhado pelo WhatsApp.

"Não tive coragem de ver todo. Me sinto muito abalada com isso. É horrível",
falou.
Depois que as imagens se tornaram públicas, Paula disse que ficou com vergonha de sair na rua. Ela, que morava de aluguel com uma amiga, disse que a dona do imóvel pediu a casa após ela ter negado lhe mostrar o vídeo.

"Acho que ela ficou com raiva porque eu disse que não cabia a ela ver".
Além do vídeo, a polícia teve acesso ainda a fotos que expõem a intimidade da moça. Uma das imagens mostra a vítima visivelmente sem reação, deitada na cama com o vestido levantado e as partes íntimas à mostra. Na foto, um homem seminu aparece sentado próximo a ela.

Desde que o abuso contra ela se tornou público, Paula deixou a cidade de Sigefredo Pacheco, onde tinha ido morar e trabalhar como doméstica. Mãe de três filhos, ela está vivendo em outra cidade na casa de uma amiga da família. Os pais de Paula, que são agricultores, moram em Juazeiro do Piauí, distante 27 km e, desde que a filha se divorciou do ex-marido, criam os três netos, de 4,3 e 2 anos de idade.

O abuso contra Paula aconteceu no dia 3 de junho, mas a denúncia só foi feita 11 dias depois porque, segundo a vítima, quando procurou a delegacia da cidade não havia escrivão para que o boletim de ocorrência fosse registrado. O caso só passou a ser investigado na terça-feira (14) quando a denúncia foi formalizada na Delegacia de Campo Maior, cidade 80 km distante de Sigefredo.

A polícia solicitou diversos exames, entre eles o toxicológico, para identificar qual substância havia na bebida que a vítima tomou. Para a advogada Josefa Miranda, muitas provas periciais foram prejudicadas pelo tempo que já se passou, mas o vídeo produzido pelos próprios suspeitos é a prova cabal.

"O fato dos exames terem sido realizados agora é insignificante porque o vídeo é a prova de tudo",
falou.

Segundo a advogada, sua cliente reconheceu três homens que aparecem no vídeo. As imagens, segundo a polícia, mostram quatro rapazes e pelo menos dois deles tocam a vagina da jovem, que está desacordada e não esboça nenhuma reação.

Para a advogada, mais homens participam do crime, contudo ela disse que vai aguardar a condução da investigação, mas ressalta que há provas suficientes para incriminar os suspeitos.

Não lembro de nada
Na noite do crime, Paula e mais duas amigas saíram para se divertir em um festejo que acontecia no Assentamento Santo Antônio dos Campos Verdes, zona rural de Sigefredo Pacheco. Lá, elas foram convidadas pelos rapazes a beberem juntos.

“Eles me deram um copo de cerveja, tomei só meio copo e comecei a passar mal. Depois disso não lembro mais de nada”,
falou.

Paula só acordaria no dia seguinte em sua casa e horas depois tomou conhecimento de que a sua privacidade havia sido violada.

A polícia já ouviu as duas amigas de Paula e o dono do bar onde elas e os suspeitos de abusarem da jovem estavam bebendo. Uma das moças revelou que dois, dos quatro rapazes que aparecem no vídeo compartilhado pelo WhatsApp, levaram a vítima para casa desacordada e chegaram a dar banho nela. A amiga, que mora com a mulher abusada, revelou que ficou com um dos rapazes, mas não soube dizer se o outro homem que estava na residência abusou da moça e nem quem fez vídeos e as fotos.

"Essa amiga estava junto com a vítima na festa, mas foi para casa antes de moto porque, segundo ela, a moça estava desacordada e os rapazes se ofereceram para levá-la para casa de carro. Ela diz que a moça estava desacordada na cama. Supomos que o vídeo tenha sido feito no caminho da festa para a casa, mas as investigações estão no início. Ainda temos mais depoimentos para ouvir",
falou o delegado Lércio.

A Polícia Civil já intimou quatro rapazes suspeitos de participação no estupro e divulgação das imagens e eles são aguardados para prestar depoimento nesta quinta-feira (16) na Delegacia Regional de Campo Maior.

Na noite de terça-feira (14), por quase três horas, a vítima prestou depoimento à delegada do Núcleo de Feminicídio do Piauí, Anamelka Cadena, na sede da Delegacia Geral, Centro de Teresina.

A delegada esclarece que o crime de estupro é configurado por ato sexual e/ou libidinoso sem o consenso da vítima. "Para existir estupro não precisa ter havido conjunção carnal. O ato libidinoso sem a autorização da pessoa é crime. No caso, a jovem está desacordada e não tem discernimento sobre o que está acontecendo, ou seja, o consentimento está comprometido", explica

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Tópicos: crime, vítima, suspeitos