VÃtima de estupro diz que só soube do crime após boatos, conta advogada
15/06/2016 08h18Fonte G1 PI
Imagem: Ellyo Teixeira/G1Jovem que sofreu estupro vai prestar depoimento na Delegacia Geral em Teresina.
A jovem de 21 anos que denunciou para a polícia ter sido vítima de estupro coletivo em Sigefredo Pacheco, a 160 km de Teresina, contou que teve conhecimento da violência sofrida após comentários de que imagens suas sem roupas e desacordada circulavam pelo WhatsApp. As informações são da advogada da vítima, Josefa Miranda.
A advogada informou ao G1 nesta terça-feira (14) que sua cliente tem poucas recordações da noite em que o vídeo foi gravado, apenas que ingeriu um copo com bebida alcoólica em companhia de alguns rapazes e mais nada. Após isso, a jovem só sabe que acordou em sua residência no dia 3 de junho.
“Ela disse que estava no festejo da cidade, onde mora, quando encontrou estes rapazes. Eles ofereceram um copo de bebida alcoólica e depois disso ela apagou. Acordou no dia seguinte em sua residência sem lembrar-se do que aconteceu. Depois, somente tomou conhecimento após os comentários da divulgação das imagens”, detalhou.
As imagens do vídeo em que jovem aparecem mostram quatro rapazes e pelo menos dois deles tocam a vagina da vítima, que está desacordada e não esboça nenhuma reação. No vídeo, é possível ouvir ainda um dos rapazes falar de forma irônica: "amanhã todo mundo preso em Sigefredo Pacheco". O crime foi praticado dentro de um carro.
Segundo informações da delegada Anamelka Cadena, a jovem veio para Teresina nesta terça-feira e realizou exames no Serviço de Atendimento à Mulher Vítima de Violência (Samvis) da Maternidade Dona Evangelina Rosa e foi encaminhada ao Instituto Natan Portela para tomar um coquetel de medicamentos que evita a contaminação por doenças sexualmente transmissíveis. Ela vai prestar depoimento na Delegacia Geral da capital.
A advogada Josefa Miranda ressaltou também que a vítima e sua família estão abaladas diante da violência sofrida e da reação de populares que, segundo ela, apontam a moça como sendo a principal responsável pelo estupro coletivo.
“Minha cliente virou motivo de chacota na cidade. As pessoas fazem comentários dela e por isso eles decidiram procurar a polícia para investigar o caso. Houve várias tentativas com objetivo de registrar um boletim de ocorrência em Sigrefredo Pacheco, no entanto, na cidade não há escrivães e por isso esta denúncia só foi formalizada em Campo Maior 10 dias após o estupro coletivo”, afirmou Josefa Miranda.
Ninguém da Polícia Civil do Piauí foi encontrado para comentar a falta de escrivães em Sigifredo Pacheco, que fica distante 80 km de Campo Maior.
A delegada Anamelka esclarece que o crime de estupro é configurado por ato sexual e/ou libidinoso sem o consenso da vítima. "Para existir estupro não precisa ter havido conjunção carnal, o ato libidinoso sem a autorização da pessoa é crime. No caso, a jovem está desacordada e não tem discernimento sobre o que está acontecendo, ou seja, o consentimento está comprometido", diz.
Outros casos
O fato mais recente ocorreu em Pajeú do Piauí na terça-feira (7). Uma menina de 14 anos foi violentada sexualmente por quatro rapazes, sendo três adolescentes e um maior de idade. A mãe da vítima chegou a flagrar o estupro que ocorreu no banheiro de um ginásio poliesportivo.
No dia 20 de maio deste ano, uma garota de 17 anos foi encontrada desacordada e amarrada com uma de suas peças de roupa em Bom Jesus, Sul do estado. Quatro adolescentes e um jovem de 18 anos são investigados por suspeita de estuprar a moça.
Em maio do ano passado, quatro adolescentes com idades entre 15 e 17 anos foram brutalmente agredidas, estupradas e arremessadas do alto de um penhasco na cidade de Castelo do Piauí. Quatro menores foram apreendidos e um maior de idade preso suspeito de participação no crime.
Protocolo de atendimento
A Secretaria de Estado de Segurança Pública do Piauí informou na segunda-feira (13) que será construído um protocolo específico para atendimento às vítimas de estupro. A metodologia será única no Brasil, diante dos inúmeros casos que têm surgido no estado.
O Piauí conta atualmente com nove delegacias da mulher, sendo três unidades em Teresina e as demais em Bom Jesus, Floriano, Parnaíba, Picos, Piripiri e São Raimundo Nonato.
De com a diretora de Gestão Interna da Secretaria de Segurança Pública, Eugênia Villa, o protocolo qualificado soma diversas informações e se adequará à realidade dos municípios piauienses. Num prazo de sete dias, as nove delegacias devem apresentar relatórios preliminares que retratem a realidade de cada região.
“A mulher vítima de violência sexual tem que ter um tratamento especial. Além do trauma psicológico, a mulher precisa passar por um processo de profilaxia, ingerindo medicamentos que evitam a gravidez e combatem a possível infecção com doenças sexualmente transmissíveis, como a aids por exemplo. E o pior momento é quando ela vai à polícia e revive tudo durante o depoimento. Nossa intenção é criar um protocolo objetivo, que facilite o trabalho da polícia e aprimore o atendimento a essas mulheres", falou Eugênia Vila.
"Desde a entrada desta ocorrência na delegacia já deve ser qualificado na perspectiva de gênero. Queremos que estas ocorrências tenham um tratamento diferenciado de uma questão de roubo, furto, pois envolve aspectos que serão estudados, como a dominação masculina. São categorias que extravasam a dominação policial, mas que precisam ser reconhecidas”, completou.
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