Vizinha que foi acusada de envenenar crianças diz que não sai de casa com medo de ameaças

03/02/2025 08h47


Fonte Cidadeverde.com

Imagem: Roberto Araujo/Cidadeverde.comLucélia Maria da Conceição(Imagem:Roberto Araujo/Cidadeverde.com)Lucélia Maria da Conceição

Três semanas após deixar a prisão, Lucélia Maria da Conceição cita que ainda tem medo de sair na rua e que os traumas que viveu na prisão ainda rondam ela e a família. Em entrevista ao Cidadeverde.com, ela disse que nunca saiu de casa, desde que deixou a prisão, com medo das ameaças que recebeu tanto na prisão como nas ruas. Lucélia Maria foi presa sob a alegação de que teria envenenado cajus e dado a duas crianças do seu bairro que morreram no ano passado. Em janeiro deste ano, após outros familiares das vítimas também morrerem por envenenamento, a polícia revisitou o caso e um laudo apontou que as frutas não estavam envenenadas.

“Eu fico até com medo depois disso de andar até pelas ruas porque me ameaçaram até de arrancar minha cabeça fora. Eu não sai na rua nenhuma vez ainda”, disse ao Cidadeverde.com.

A casa de Lucélia, que fica no bairro Dom Rufino, em Parnaíba, foi incendiada no dia em que ela foi presa. As ruínas da casa seguem no local: o filho e o marido de Lucélia colocaram estacas para impedir o acesso à casa. Depois de cinco meses presa, ela disse que não foi ao local e que nem pretende. Ela disse que quer vender o imóvel.

“Para lá eu não volto mais não, eu vou mandar vender, mas não volto mais nada. Uma coisa que ninguém merece é ser acusada como eu fui acusada, por uma coisa que eu não fiz, passar quase cinco meses na cadeia por uma coisa que eu não fiz, até hoje meu marido ainda é nervoso com isso aí, nem ele mesmo consegue dormir direito. E nem eu também, isso ainda pode passar tempo, vou custar muito para esquecer”, disse ao Cidadeverde.com.
Imagem: Roberto Araujo/Cidadeverde.comCasa de Lucélia, que fica no bairro Dom Rufino, em Parnaíba, foi incendiada no dia em que ela foi presa.(Imagem:Roberto Araujo/Cidadeverde.com)Casa de Lucélia, que fica no bairro Dom Rufino, em Parnaíba, foi incendiada no dia em que ela foi presa.

Ela disse que pensou em não morar mais em Parnaíba, mas que pretende ficar perto dos filhos. Atualmente, Lucélia mora de aluguel em outro bairro da cidade.

“Eu não sabia nem se eu ia morar mesmo aqui em Parnaíba, mas o negócio é que penso que seu eu sair, meu filho não vai lá aonde eu estou, ficar longe do meu filho e da minha filha que é casada (...) Eu penso, como vai ser daqui pra frente, eu tenho fé em Deus que vai ser muito melhor pra mim se eu ficar em Parnaíba, porque essas pessoas que me acusaram, eu não vou ver mais, porque eu não piso para as bandas de lá”, citou.

“Merece ser envenenada também”

Lucélia relatou que, durante os cerca de cinco meses que ficou presa – uma parte, na Penitenciária Mista de Parnaíba, e outra, na Casa de Custódia, em Teresina, sofreu ameaças diversas. Ela contou que a chamavam de “Maria dos Cajus” ou “Maria Cajueiro”, e que tinha dificuldade de dormir. Ela chegou a ouvir que “merecia ser envenenada”.

“[As pessoas] perguntavam por que matou esses meninos envenenados, e ficava constrangida. Me chamavam Maria dos Cajus, Maria Cajueiro, dizendo que uma pessoa dessa poderia até morrer, deveria morrer, e eu ficava só ouvindo tudo isso. E eu praticamente não conseguia dormir. As presas não gostavam de quem faz mal às crianças, diziam se fosse eu, não deixava não, dizendo uma mulher dessa merece ser envenenada também. E eu dizia, não fui eu, e eles diziam foi você sim, que passou na televisão”, relatou.
Imagem: Roberto Araujo/Cidadeverde.comLucélia ficou presa ? uma parte, na Penitenciária Mista de Parnaíba, e outra, na Casa de Custódia, em Teresina.(Imagem:Roberto Araujo/Cidadeverde.com)Lucélia ficou presa - uma parte, na Penitenciária Mista de Parnaíba, e outra, na Casa de Custódia, em Teresina.

Lucélia diz que não deu caju às crianças

A vizinha também relatou que não deu cajus às crianças. Segundo Lucélia, o pé de caju da casa dela dava poucos frutos e que ela não ofereceu aos meninos.

“Onde é que eu ia dar caju envenenado para as crianças? Lá eu não dava caju para ninguém, os cajus lá em casa não tinham nem pra nós comer, avalie dar para menino, isso aí é uma história muito mal contada, que me acusava de forma maldosa e pesada que eu fui presa”, disse.

Audiência de instrução deve inocentá-la

O advogado de Lucélia, Sammai Cavalcante, disse que está aguardando o novo inquérito da Polícia Civil que foi aberto para investigar o caso após a divulgação de laudos apontarem que os cajus que as crianças teriam comido não estavam envenenados.

Uma audiência de instrução e julgamento tinha sido marcada a pedido da defesa, e foi adiada para o mês de março após o Ministério Público requerer mais elementos para as investigações.
Imagem: Roberto Araujo/Cidadeverde.comLucélia e o advogado Sammai Cavalcante(Imagem:Roberto Araujo/Cidadeverde.com)Lucélia e o advogado Sammai Cavalcante

Atualmente, estão presos a avó das crianças, Maria dos Aflitos, e o marido dela, Francisco de Assis Pereira. Eles são suspeitos de envenenar e matar outras cinco pessoas da mesma família em 1º de janeiro: a mãe, o tio e os três irmãos menores de Ulisses e João Gabriel, mas a investigação unificou os casos.

“Logo vamos ter acesso ao relatório do novo inquérito policial que tem pelo menos dois acusados (...) mas realmente tudo indica que o crime já tenha ali não elementos de indício, mas elementos probatórios de quem foram os autores. E a situação da Lucélia está sobrestada, quando esse relatório for publicado, quando isso virar uma ação penal, que houver uma denúncia, eu creio que o Ministério Público deva pedir inclusive a inocência da Lucélia”, relatou.

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