PMs do RJ cobravam até R$ 30 mil para liberar traficantes presos, diz PF

25/11/2011 14h08


Fonte G1

A Operação Martelo de Ferro, realizada na manhã desta sexta-feira (25) pela Polícia Federal, para combater o tráfico de drogas no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, prendeu cinco pessoas - dois policiais militares, uma advogada e três traficantes da região – e revelou um esquema de propina cobrada por PMs para a liberação de traficantes presos que já chegou a R$ 30 mil.

Através de escutas telefônicas, descobriu-se que os PMs cobravam dos traficantes o chamado "arrego" - pagamento de propina - para os policiais não realizarem operações na comunidade e não coibirem o tráfico de drogas. Além disso, os policiais tinham uma tabela de cobrança para a liberação de presos. Os valores iam desde R$ 500 e já chegou a R$ 30 mil, de acordo subcordenador do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), Daniel Faria Braz.

"Variava de acordo com a importância no tráfico. Casos de elementos mais variados já chegou a R$ 30 mil", disse o promotor.

Dos 22 PMs procurados, dois foram presos nesta sexta e 18 já estavam presos, sendo que dois deles estavam envolvidos no assassinato da juíza Patrícia Acioli, morta em agosto. Um policial denunciado morreu durante as investigações, iniciadas em 2009, e um outro está foragido. Em relação aos traficantes, há 24 mandados de prisão, três deles ocorridos nesta sexta, 13 já realizados anteriormente e oito que ainda faltam cumprir. A advogada presa, de acordo com a PF, agia levando recados de líderes do tráfico presos para os traficantes da favela e ainda negociava os valores para a liberação dos presos.

De acordo com o delegado da PF e coordenador da operação, Victor Poubel, todos os PMs envolvidos são do 7º BPM (São Gonçalo). Eles irão responder por formação de quadrilha e corrupção. Já os traficantes, por formação de quadrilha e tráfico de drogas. "Essa operação se deu em razão do homicídio da juíza Patrícia Acioli, era uma ação que precisava e foi exitosa. A população local pode saber que foi uma atuação embrionária e que outras ali surgirão", afirmou Poubel.

A polícia também investiga denúncias de homicídios praticados por PMs que não conseguiam os valores exigidos na extorsão aos traficantes. Segundo a PF, alguns dos réus estão envolvidos em autos de resistência.

Complexo do Salgueiro
Para o delegado da PF, após a ocupação do Conjunto de Favelas Alemão, na Zona Norte do Rio, o Complexo do Salgueiro virou um dos maiores entrepostos de drogas do Rio. “A UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) teve esse deslocamento de traficantes que eram do Alemão e foram para o Salgueiro, inclusive com forte armamento”, afirmou.

“São Gonçalo é uma área com pouca presença do estado, com uma população humilde, então o tráfico é livre por omissão desses maus policiais”, completou Poubel.

Segundo o Daniel Braz, do Gaeco, o nome da operação foi uma homenagem à Patrícia Acioli. “Um dos motivos do crime da juíza foi a ação dela contra essa atividade ilícita”, disse.

ele ressaltou ainda que a investigação teve início através da identificação de celulares de alguns traficantes do Complexo do Salgueiro. A partir daí, a polícia fez escutas telefônicas autorizadas pela Justiça e identificou outros traficantes da região. Nos telefonemas, traficantes presos por PMs do 7º BPM negociam sua liberdade com o grupo de policiais acusados de corrupção.

Ação
Três helicópteros, um da PF e dois da Polícia Civil, dão apoio à operação, que conta com a participação de mais de 400 agentes das polícias Civil e Militar e do Grupo de Atuação Especial Pde Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio, incluindo 330 federais.

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