PolÃcia do Piauà diz que estudante de medicina fingia "brincadeiras" para abusar de irmãs e prima
18/10/2021 13h58Fonte G1 PI
Imagem: Caroline OliveiraClique para ampliarBrinquedo na casa da mãe de uma das vítimas, em Teresina
A Polícia Civil do Piauí informou que o estudante de medicina de 22 anos, indiciado por estupro de vulnerável contra as duas irmãs e uma prima, usava de "brincadeiras" para abusar das vítimas.
As informações foram relatadas ao g1 pela delegada Camila Miranda, titular dos três inquéritos finalizados na última semana e que levaram ao indiciamento do rapaz por estupro de vulnerável contra as irmãs de 3 e 9 anos e uma prima de 13 anos.
Há um mandado de prisão preventiva expedido e ele é considerado foragido desde 12 de outubro. Procurada, a defesa do estudante informou que só vai se manifestar após o oferecimento da denúncia pelo MP à Justiça.
Se aproveitava da inocência
"Chama a atenção a forma como o autor praticava os fatos, ele se aproveitava da inocência, da ingenuidade das vítimas crianças, e confundia brincadeira com toques. Então as vítimas não tinham a noção de que aquilo era um abuso sexual, por conta da imaturidade. São meninas de 3, 9 e 13 anos", disse.
Em um dos casos, como exemplo, a delegada disse que o rapaz cedia o celular para que uma das vítimas usasse para brincar e, em troca, deveria permitir alguns atos.
Segundo a delegada, esse tipo de atitude faz com que as crianças vítimas de crimes sexuais demorem muito tempo para perceber o que está acontecendo, o que faz com que os abusos durem por muito tempo.
Os crimes teriam iniciado em 2012, quando o rapaz tinha 13 anos, e duraram até janeiro de 2021, segundo a delegada, portanto por quase 10 anos.
"O fato dele tentar confundir toques com brincadeiras, fazer com que elas achassem que não fosse nada de mais, fez com que os crimes ficassem ocultos por muitos anos. Só quando elas passaram a apresentar sintomas depressivos, de automutilação, baixo rendimento escolar, foi que despertou a atenção das mães", declarou.
Ela disse ainda que os crimes aconteciam nas casas de familiares, quando não havia adultos por perto. A delegada destacou que este é um componente bastante comum em crimes de violência sexual, principalmente contra crianças: os crimes acontecem em locais que a vítima costuma frequentar e o autor, normalmente, é próximo da vítima.
Mais uma investigação em curso
Ele ainda é investigado por outro estupro ocorrido contra uma prima, de 15 anos, mas a investigação está sendo conduzida pela Delegacia de Polícia Civil de Luís Correia, no litoral do Piauí, onde o crime ocorreu.
Camila Miranda explicou que com a conclusão do inquérito, ainda irá encaminhar os autos para o Ministério Público do Estado, para que seja proposta uma ação penal contra o estudante de medicina.
A mãe de uma das vítimas soube do caso em setembro deste ano e procurou a Delegacia de Proteção aos Direitos da Criança e do Adolescente (DPCA), que fez o pedido da prisão. O caso está sob sigilo e o g1 não divulgou as identidades dos envolvidos para preservar as vítimas.
Segundo a delegada, os depoimentos das vítimas, ouvidas por profissionais para que não fossem revitimizadas, indicam que os abusos aconteciam em um contexto familiar, nas casas da família das vítimas e do suspeito.
Ela informou que esses depoimentos indicam a autoria dos crimes. O delegado geral da PCPI, Luccy Keiko Paraíba, reforçou que nesses casos [violência sexual] a palavra da vítima tem um peso ainda maior.
“São casos que ocorrem só na presença da vítima e do autor, não há testemunhas muitas vezes e como as denúncias podem demorar a ser feitas, acaba que o peso dos relatos e da palavra das vítimas é bem maior”, disse ele.
Segundo Camila Miranda, com os depoimentos, foi possível constatar que os abusos iniciaram quando o rapaz ainda era menor de idade. Uma das vítimas sofreu os abusos dos cinco aos 10 anos, de acordo com a delegada.
Foragido
Agora, a polícia informou que tenta localizar e prender o indiciado. Buscas foram feitas em cinco endereços na capital piauiense e em outro em Manaus (AM), mas ele não foi encontrado em nenhum dos locais. O mandado de prisão preventiva foi expedido pela Justiça no dia 7 de outubro.
A Polícia Federal foi acionada e emitiu alerta para os aeroportos após o estudante de medicina suspeito de estupro de vulnerável ser considerado foragido.
Família quer justiça
A mãe de uma das vítimas de abusos sexuais disse ao g1 que a família espera justiça no caso. Ela disse que espera que a repercussão ajude a fazer com que o estudante seja reconhecido de forma mais rápida e seja preso, principalmente porque a família tem medo que o rapaz fuja do Brasil. Ela explicou que tem medo que mais crianças possam ser vítimas.
“O desejo de toda a família é apenas que ele pague, que seja preso. Que ele cumpra a decisão, pois o mandado de prisão está aí. Que ele seja barrado, seja reconhecido, que tenha repercussão, no Brasil, mundial, para prender ele, porque ele não vai parar”, afirmou.
Vítima tem dificuldade de conviver com homens
A mãe de uma das meninas que teria sido vítima do estudante contou que a família ficou destruída após a descoberta dos casos. Segundo ela, a menina tem dificuldade e medo de conviver com homens. Esse foi, de acordo com a mãe, um dos primeiros sinais percebidos pela família de que a menina estava com problemas psicológicos.
Depois de conversar com a menina, mãe da garota e a ex madrasta do estudante denunciaram o rapaz à polícia. Duas irmãs e duas primas teriam apontado o jovem como autor dos abusos.
“Ele destruiu [nossa família], assim de uma forma que eu jamais, nem nos meus piores pesadelos eu pensei que estaria passando por isso. De você ver o seu pai, a sua mãe, todo mundo sem chão, sem saber o que fazer", declarou a mãe de uma das garotas.
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