Com mais de 80% dos votos apurados, Noboa lidera no Equador com vantagem de 12 pontos
13/04/2025 22h20Fonte O Globo
Imagem: Vicente Gaibor/Bloomberg e Rodrigo BUENDIA / AFP
Daniel Noboa e Luisa González após votação no segundo turno das eleições presidenciais no Equador, em 13 de abril de 2025.

O atual presidente e candidato da direita à reeleição no Equador, Daniel Noboa, de 37 anos, se projeta como vencedor do pleito. O empresário lidera com mais de 12 pontos de vantagem sobre sua adversária, advogada e ex-deputada de centro-esquerda Luisa González, de 47, herdeira política do ex-presidente Rafael Correa (2007-2017). Com 85% das atas apuradas, o candidato à reeleição tem 55,9% dos votos e mantém a vantagem sobre González, que soma 44,05%.
Mesmo antes do término da contagem dos votos, apoiadores de Noboa tomaram as ruas com bandeiras. A festa cresceu com o avanço da apuração oficial e, em Quito, o som das buzinas e dos fogos tomou conta da região, publicou o El País. Um grupo cada vez maior se concentra em frente à sede do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), enquanto simpatizantes de González que haviam se reunido para celebrar uma possível vitória começam a se dispersar em silêncio.
Logo após o fechamento das urnas, às 17h no país (19h em Brasília), duas empresas autorizadas pelo CNE divulgaram suas previsões para o pleito. Segundo a Telcodata, Noboa deve vencer a eleição com 51,2% contra 48,8% de González, com uma margem de erro de 0,6%. Por outro lado, o levantamento realizado pela Corpmontpubli, com margem de erro de 3%, aponta como vencedora a candidata correísta, com 51,99% dos votos contra 48,01% do presidente.
No primeiro turno, em fevereiro, a diferença entre Noboa (44,17%) e González (44%) foi de apenas 0,17%, margem inédita na história recente do país. As últimas pesquisas apontavam um empate técnico entre os dois candidatos. Na do instituto Comunicalize, Noboa — um dos três únicos presidentes latino-americanos a comparecer à posse de Donald Trump nos EUA e favorito da Casa Branca na disputa — aparece com 41,5% das intenções de voto, contra 41,1% da adversária.
Sob protesto da oposição, o governo decretou, na tarde de sábado, estado de emergência em sete províncias e na capital, Quito. A medida foi justificada pelo aumento da violência. Na prática, forças de segurança podem entrar em residências nessas regiões sem necessidade de autorização judicial para combater criminosos, proíbe-se o direito de reunião e limita-se o trânsito de veículos, o que poderia afetar o comparecimento às urnas. Ao todo, mais de 83% do eleitorado participou do pleito, um aumento de 0,4% em relação ao primeiro turno.
— Parabéns ao povo equatoriano por ter comparecido em massa — disse Diana Atamaint, presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) ao anunciar os dados de participação no fechamento da votação.
Assim como no primeiro turno, Noboa chegou ao seu local de votação, em Olón, uma província litorânea, acompanhado de sua esposa, a influenciadora Lavinia Valbonesi, e de seus três filhos. Com uma camisa roxa — a cor de seu partido, o Ação Democrática Nacional (ADN) —, ele entrou rapidamente na sala e votou ao lado do filho. Em seguida, pegou sua filha mais velha pela mão, apesar dos protestos da mãe da criança, sua ex-esposa Gabriela Goldbaum, contra a exposição da filha em ambientes políticos. À imprensa, ele declarou:
— Hoje vencemos e este será um dia importante para a história do Equador.
A votação do presidente ocorreu sob rígido controle de segurança, com as ruas ao redor do local de votação fechadas. Dezenas de policiais, militares e membros da segurança presidencial se posicionaram desde a madrugada nas imediações, com tanques leves e motos. Alguns estavam nas varandas das casas próximas, enquanto outros patrulhavam as ruas da comunidade para evitar qualquer incidente. Os agentes também revistaram mochilas e bolsas das pessoas que iam votar no local.
Mais tarde, também sob forte esquema de segurança, a candidata da Revolução Cidadã chegou ao seu local de votação, em Manabí, próximo a Guayaquil, a cidade mais populosa do país, e foi ovacionada pela população, que gritava: “Luisa presidenta”.
Em publicação em suas redes sociais feita horas antes, González afirmou ter recebido informações de membros das Forças Armadas de que, a mando de Noboa, falsas atas de votação teriam sido plantadas no país para “construir a ideia de fraude ante sua iminente derrota”. Ela não apresentou provas da acusação.
— Faço um chamado à força pública, à Polícia Nacional e às Forças Armadas para que não intervenham a favor nem contra, mas sim que garantam a democracia. Que não interfiram na contagem dos votos nas urnas, mas que estejam garantindo a segurança do povo equatoriano, que já não aguenta mais — disse ela à imprensa após depositar seu voto. — [Hoje] o Equador reescreve a história rumo a um futuro de dignidade.
Após visitar vários centros de votação, o chefe da missão de observação eleitoral da União Europeia (UE), Gabriel Mato, disse que nenhuma anomalia foi registrada. O chefe da missão de observação da Organização dos Estados Americanos (OEA) no Equador, Heraldo Muñoz, destacou a “normalidade” e a “tranquilidade” com que transcorreram as eleições. Ele pediu à população que aguardasse “com paciência” os resultados.
— Denunciaremos qualquer situação que possa ser irregular ou que não atenda aos padrões democráticos internacionais. O que precisamos fazer é acalmar esses rumores e tensões para que esse processo possa continuar fluindo, esperamos, de forma transparente e democrática — disse Muñoz ao ser questionado sobre a possibilidade de os candidatos voltarem a denunciar situações que busquem consolidar uma narrativa de suposta fraude, como fizeram no primeiro turno.
Primeiros resultados
Sem citar González, Atamaint, a presidente do CNE, afirmou que a “fraude não tem lugar em um sistema que se constrói com base na legalidade”, advertindo que “acusações sem fundamento minam a confiança na democracia e prejudicam a instituição”. Ela defendeu que cada etapa do processo eleitoral é pensada para garantir a certeza — desde a impressão das cédulas até a apuração final —, com um processo que é “completamente auditável” e acompanhado por diferentes forças políticas.
O voto no país é em papel, e a contagem ocorre nos próprios centros de votação. Assim que o pleito é encerrado, o CNE entra em sessão permanente de apuração, um processo que pode se estender até quarta-feira (23). Embora Atamaint tenha dito que por volta das 21h deste domingo (23h em Brasília) será possível "ter uma tendência clara que permita projetar o possível vencedor", os candidatos só serão notificados sobre os resultados parciais na segunda-feira. O CNE tem até 1º de maio para proclamar o novo mandatário.
Explosão de violência
Nos últimos cinco anos, o Equador vivenciou uma explosão de violência ligada ao narcotráfico. Um sistema judiciário com superlotação, corrupção e falta de financiamento tornou-se terreno fértil para gangues de presos aliadas a cartéis internacionais de drogas. Isso transformou o país, antes era considerado um oásis de paz em região turbulenta, em ator importante no comércio mundial de drogas, impactando a vida de milhões de equatorianos.
Ao mesmo tempo, apenas 36% da população está "devidamente empregada", segundo dados do governo, o que faz da economia uma das principais preocupações no país. Os eleitores estão divididos entre Noboa, que prometeu medidas rigorosas contra a violência, mas que até agora obteve resultados limitados, e González, que se apresenta como herdeira do correismo, mas que enfrenta um país muito diferente do governado por Rafael Correa.
Noboa, formado em Harvard e herdeiro de um império bilionário do setor bananeiro, assumiu o cargo em 2023, após seu antecessor convocar eleições antecipadas em meio a um processo de impeachment. Ele entrou na política pela primeira vez há quatro anos, quando se candidatou a uma vaga no Congresso. Na corrida presidencial de 2023, passou das últimas posições nas pesquisas no primeiro turno para o segundo lugar após boa performance em um debate. Depois, derrotou a mesma González no segundo turno.
González, por sua vez, ocupou diversos cargos no governo de Correa, figura polarizante no Equador. Muitos reverenciam o ex-presidente pela economia em crescimento, os baixos índices de criminalidade e investimentos em saúde e educação durante seu governo. Outros, porém, o criticam por sua condenação por corrupção em 2020 e tendências autoritárias.
(Com AFP e New York Times)
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