Desemprego alto preocupa Bolsonaro, que exige medidas urgentes de Guedes

05/05/2019 11h23


Fonte Correio Braziliense

A alta do desemprego está sendo um tormento para o governo. São só quatro meses completos de gestão, mas o presidente Jair Bolsonaro está preocupado com a lentidão do reaquecimento da economia. A ministros e interlocutores mais próximos, demonstra angústia com o crescimento das pessoas que não trabalham, nem estudam, os “nem-nem”. Por mais que desdenhe das pesquisas que apontam para o crescimento da rejeição ao governo — por considerá-las um recorte de momento —, o chefe do Executivo federal sabe que a reativação econômica é essencial para melhorar a popularidade, e pode ajudar a reverter a pressão do Congresso.

A insistência por mudanças na articulação política, de ceder à abertura de indicações de apadrinhados, aumentou desde que a reforma da Previdência chegou à Comissão Especial da Câmara. Nas bases eleitorais de lideranças partidárias, deputados e senadores garantem que notam um descontentamento com o governo, motivado, sobretudo, pelos indicadores de emprego. É uma situação que, dizem líderes, reforça a cobrança para que a Casa Civil atenda às demandas dos partidos.

Os números não jogam a favor do governo. No primeiro trimestre deste ano, as admissões superaram as demissões em 164,2 mil. Ou seja, foram criados postos de trabalho. No entanto, o saldo foi 15,9% inferior ao mesmo período de 2018, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Foi um dos motivos, além do aumento da taxa de desemprego e subutilização da massa de trabalho — medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) —, que motivou Bolsonaro a adotar um pronunciamento conservador na quarta, Dia do Trabalho, sem fazer menção a dados de empregabilidade.

Na data comemorativa, o presidente disse que o governo tem compromisso com a “plena liberdade econômica” e citou a Medida Provisória assinada na última terça, 30, que busca facilitar regras para empreendimentos de pequenas empresas e startups. A intenção do Palácio do Planalto é criar uma agenda positiva na área econômica, já que os últimos resultados mostram que 2019 será um ano mais fraco do que o previsto, podendo ocorrer uma desaceleração em relação ao ano passado.

Ânimo

A equipe econômica tem sido cobrada por Bolsonaro a adotar ações que ampliem a geração de empregos. O IBGE mostrou que o número de pessoas que procuram emprego subiu para 13,4 milhões nos três primeiros meses, o que representa uma alta de mais de 10% em comparação com o último trimestre de 2018. Além disso, a população subutilizada bateu o recorde da série histórica, atingindo 28,3 milhões de brasileiros.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, e técnicos da pasta adotam o discurso de que os atuais problemas de curto prazo são questões de longo prazo não resolvidas anteriormente, em referência à gestão petista. O argumento, no entanto, não tem convencido o presidente, que exige medidas ainda para este ano, a fim de melhorar o ânimo da sociedade e, consequentemente, trabalhar o convencimento de parlamentares para a aprovação das agendas reformistas.

O chefe da equipe econômica tem uma expectativa otimista, mas cuidadosa em relação ao atual cenário. Guedes sabe que cautela, no caso dos consumidores, significa recuo da demanda no mercado de bens e serviços. Mas, pressionado por Bolsonaro, pediu para que os técnicos da pasta intensifiquem estudos e análises para destravar intervenções microeconômicas de injeção no consumo, como no governo do ex-presidente Michel Temer.

Produtividade

Uma das propostas é liberar saques de contas inativas do Programa de Integração Social (PIS), voltado para trabalhadores do setor privado, e do Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (Pasep), que atende servidores públicos. As medidas ainda estão sendo estudadas, mas cálculos da equipe econômica apontam para uma injeção de até R$ 10 bilhões. Atualmente, apenas pessoas com mais de 60 anos podem acessar os recursos, mas a proposta de Guedes permitiria que todos os cotistas tenham a possibilidade de retirar os recursos, em prazo determinado.

O Ministério da Economia também se apressa para anunciar ações de aumento da produtividade e do emprego. Entre as medidas, estão o Simplifica, o Emprega Mais, o Brasil 4.0 e o Pró-Mercados. No Emprega Mais, o governo vai adotar uma nova estratégia nacional de qualificação da mão de obra. A ideia é oferecer um modelo de capacitação por meio de financiamento misto com recursos do governo e do Sistema S. No pró-mercados, o objetivo é retirar barreiras ao pleno funcionamento do mercado, com mudanças regulatórias. O plano Brasil 4.0 prevê medidas para estimular a digitalização e a modernização dos processos de gestão das companhias.

O Simplifica deve ser anunciado ainda em maio, com 50 ações para desburocratizar a criação de negócios no país. Entre as ações, haverá mudanças no eSocial, o portal eletrônico em que as empresas são obrigadas a informar dados sobre os trabalhadores, como contribuições previdenciárias, folha de pagamento e Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).

Bonança dita popularidade

A economia é sempre um fator de preocupação para os governos. Historicamente, a popularidade dos presidentes está bastante associada à condição financeira das pessoas, inclusive em outros países. Apesar de o presidente Jair Bolsonaro refutar os institutos de pesquisas, o recorte atual mostra que o cenário não é favorável. O Ibope mostrou que ele tem a pior avaliação para o início de um governo eleito desde a redemocratização, com apenas 35% das pessoas considerando a gestão como ótima ou boa.

Especialistas afirmam que, normalmente, há queda na popularidade de presidentes nos primeiros meses , já que as mudanças prometidas não se concretizam da noite para o dia. Para economistas, a recuperação na taxa de emprego vai demorar para ocorrer. Os índices setoriais mostram que a economia está com enormes dificuldades de sair da estagnação. Considerada fundamental para a geração de empregos, a indústria tombou 2,2% no primeiro trimestre do ano, em comparação com os três últimos meses de 2018.

Segundo analistas, há grande possibilidade de que o mercado de trabalho fique desaquecido até 2020. Os analistas estão diminuindo diariamente as projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2019, que deverá ficar perto de 1,7%.

O economista Daniel Xavier fez um estudo de como a popularidade dos presidentes está associada ao índice da miséria, que leva em consideração a taxa de desemprego e a inflação.

Incômodo

“A administração Bolsonaro trouxe algum ânimo inicial ao eleitorado na virada do ano. Porém, seu fôlego foi curto. O rápido declínio parece ainda refletir certo incômodo com a lentidão da economia doméstica, atestada pela alta taxa de desemprego”, destaca. “Vale citar que a taxa de desemprego (após ajuste sazonal) subiu marginalmente ao longo dos últimos quatro meses, atingindo 12,3% em janeiro”, completa Xavier.

O especialista ressalta que é natural o governo investir em medidas para melhorar a popularidade. “Com a retomada sendo gradual, a taxa de desemprego vai continuar em patamar elevado e a perspectiva é de que a inflação de alimentos e combustíveis continue mais forte no primeiro semestre, o que também deve incomodar”, diz.

O cientista político Thiago Aragão, da Arko Advice, diz que a noção de popularidade é “incrivelmente mais fluida do que antigamente”. “Hoje, por meio da velocidade da informação, essa noção se tornou diária. Isso faz com seja difícil manter a popularidade em alta”, diz.

Para ele, a economia é vital para garantir uma popularidade constante. “Pode-se dizer que uma popularidade variando de 40% a 50% é algo considerado alto. No caso do Bolsonaro, é um começo de governo tendo um teste de fogo, que foi a reforma da Previdência. O sucesso econômico está diretamente vinculado à aprovação de uma boa reforma da Previdência, avalia. “Nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump tem um governo politicamente errático, cheio de crises e de polêmicas, no entanto, a economia está indo bem”, compara.

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Tópicos: governo, economia, bolsonaro